27 abril 2008

O professor responde ao aluno


As perguntas do aluno: a) Não acha que a universalidade do pensamento humano poderá ser maior que os sistemas já inventados? b) Acha que a História já acabou?

Em resposta ao que me perguntas, é claro para mim que «...a universalidade do pensamento humano...» inclui «...os sistemas já inventados». Por outras palavras, a tradição só merece este nome se for parideira incansável da renovação e esta só o é verdadeiramente se se alicerçar naquela.
Em síntese, se se separar tradição da renovação, uma e outra viram nada; se se unirem, reganham-se.
Esta minha resposta é a aplicação de que sistema cognitivo ou, dito de outro modo, qual o sistema cognitivo que está na base da minha resposta? É o significado da Cruz de Cristo: união da verticalidade e da horizontalidade, da Transcendência e da imanência, do Espírito e da carne, do Infinito e do finito, da Eternidade e do tempo...
Por exemplo, se te renderes apenas e só ao tempo, abolindo a dimensão espiritual, cais na mais crassa idolatria. Mas não penses que podes escolher a dimensão espiritual em desfavor do tempo ou abraçar este e desprezar aquela. Para viveres o equilíbrio dos dois mundos, só na união.
Portanto, eu não estou contra a horizontalidade, a imanência, a carne, o finito, o tempo, etc., mas, sim, contra que o homem vire costas a Algo maior do que ele para lá dele. Ora este "Algo" é uma Presença que impregna tudo sem se diluir em nada.
Da exposição deste sistema aberto do homem e do mundo que ergue o sentido da Cruz em metodologia para a reflexão, desço para a tua segunda pergunta.
A História não acabou, não acabará, porque o homem é uma criatura imperfeita como todas as criaturas. O homem apenas pode ambicionar ser cada vez melhor, o que só é possível se se ordenar a Deus.
O desprezo pela categoria teológica pecado original (criminalidade hereditária) faz 'pensar' ao marxismo, herdeiro de todo o lixo da Era Moderna, que o homem pode arrebatar de Deus o Paraíso Perdido e instaurá-lo na terra quando acabar a luta de classes, isto é, quando acabar a História.
Como é que um ser imperfeito pode instaurar o reino da felicidade perpétua?
Claro que o homem vai resolvendo problemas, mas resolver um problema é subir para um patamar superior donde se avistarão outros. Aqui não há fatalismo nenhum mas humildade para o reconhecimento e aceitação da condição humana. Não foi o homem quem fez a Criação, mas esta conta com a colaboração do homem para a subida da escada no cimo da qual está Deus. A recusa d'Este, o Princípio de Ordem Superior, resvalará inexoravelmente para a superbia que escravizará e animalizará o homem.
NOTA: segundo o que leio na tua última missiva, continuas a não perceber nada do que te disse! É assim mesmo que eu te devo falar porque o politicamente correcto é crime. Ouviste?
Vê as coisas em termos de união, caso contrário, serás vítima da abstracção, leitmotiv para o extermínio de milhões e milhões de seres humanos.
Por exemplo, os valores Deus, Pátria e Família são bons, mas se desligados da realidade, viram armas mortíferas tal como viraram entre nós durante a treva fascista.
Por outro lado, a incapacidade para ir além do sistema fechado que é o calhau gera também grandes matanças, o que aconteceu em nome dessa outra abstracção dita igualdade no universo comunista.
«...O agir humano recebe a sua norma do divino» (Brague, Rémi, A Lei de Deus, Instituto Piaget, Lisboa, 2008). Portanto, há uma aliança que é a encarnação do Sentido na carne do homem.
Para ti, há um sentido no homem, no mundo, no universo ou não? Se a tua resposta for afirmativa como dificilmente não poderá deixar de ser, então não terás problemas intelectuais em incorporar a Encarnação no teu universo pensamental. Ora quem está com o sentido da Encarnação está com o sentido da Cruz.
Quando falo da Cruz, falo de Cristo, a estrutura da realidade.

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