07 abril 2012

Escrita automática, quer dizer, surrealista

Sobre uma nuvem branca um corvo encontra-se com um elefante e diz-lhe que o vai comer.
Quis o paquiderme saber como a gralha o faria. A ave respondeu que a nuvem se desfaria, o mamífero cairia contra o chão, morreria e que os olhos do interlocutor seriam o primeiro aperitivo de faustoso banquete.
Desfaz-se a nuvem, o elefante caiu sobre uma robusta árvore que se partiu toda, mas amorteceu-lhe a queda. De embate ao chão, o elefante desmaiou.
O corvo ia planando, a rir-se, a rir-se, até poisar sobre a cabeça da presa, a rir-se, a rir-se. Nisto, o elefante vem a si, entreabre um olho e com a tromba esmaga o corvo contra a própria cabeça.
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Bom, não quero enganar ninguém. Isto é mais uma paródia e quase nada a escrita automática dos surrealistas. O Marafuga para fazer a "real" escrita automática dos surrealistas tinha que assumir a negação de si próprio. Eu só sei pensar e escrever dialogando com toda a herança que está para trás de mim desde Platão. Para este filósofo grego, o belo é o «esplendor da verdade» (splendor veri), mas para os surrealistas o belo resulta do encontro chocante das coisas mais díspares (bosta e caviar servidos em salva de prata).
Afinal, amigos, a minha paródia surrealista defende toda a civilização ocidental, quando todo o afã do surrealismo é destruí-la. Assim, na minha história, se o corvo que esgaça a carne de corpos mortos comesse o elefante, símbolo da seriedade, estaria mais ao gosto dos surrealistas.

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