10 abril 2012

O real é o que faz o pensamento

Encyclopaedia Universalis, Paris, 1996, vol. 9, pág. 961, diz que Freud é «...um daqueles que mais fizeram para abolir o antigo regime do pensamento» (...l'un de ceux qui ont le plus fait pour abolir l'ancien régime de la pensée).
Palma, Ernesto, O Plutocrata, Serra d'Ossa, Lisboa, 1996, pág. 52, diz que «...o real é o que faz o pensamento...».
Face a isto, a minha pergunta é a seguinte: o real para mim é uma coisa e para os meus pais, avós, bisavós foi outra? Se alguém respondesse que sim, então admitiria que o real não é só um. Se calhar, admitiria que cada época, cada real. E depois daria o pulinho e admitiria que cada cabeça, cada real.
Quando Platão diz que o belo é «o esplendor da verdade» ( Guerra, Abel, Elementos de Composição Literária, Livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 1960, pág. 11), será que a verdade para este filósofo era uma no seu tempo e hoje é outra? Não. Para Platão, a verdade era a adequação ao real como é para mim.
L'ancien régime é o estado da sociedade e da economia fundadas na exploração dos servos pela aristocracia dentro de balizas senhoriais. Posto isto, pergunto outra vez: como temos o antigo regime antes das revoluções liberais, também antes destas temos o antigo regime do pensamento? Como é que a luta dos povos pela passagem do servo a homem livre poderá implicar a sobreposição ao real como pretendem os surrealistas? Mas isto não é a inversão de tudo? Claro que é, uma vez que eu devo submeter-me ao real e nunca sobrepor-me a este, acto da mais tresloucada soberba.
Ouve, amigo, vamos compreender para vivermos: comunismo, fascismos, cubismo, futurismo, dadaísmo, surrealismo, enfim, modernismo...são gatos dentro do mesmo saco.
-Ó Marafuga, não te babavas todo a comentar Fernando Pessoa aos teus alunos?
-Eh pá, já me curei disso. Pessoa...coitado...é um modernista.
-E Cesário Verde que há poucas semanas elogiaste no jornal "Alcaxete", no fundo, não é um modernista?
-Eh pá, aí está toda a tua confusão. O modernismo de Cesário é de síntese, quero dizer, o poeta lisboeta dialoga com toda a nossa literatura desde a poesia trovadoresca; quanto ao modernismo de Pessoa...esse é de pesadelo e negação.

1 comentário:

Unknown disse...

Não estás disposto a combater o comunismo? Então o teu pacto é com a morte.