Ao contrário do que, à primeira vista, poderá supor-se, esta não é uma boa notícia.
Quando em Alcochete o processo de revisão do Plano Director Municipal (PDM) é o mais opaco possível – embora se trate do instrumento-guia de gestão e valorização (ou destruição...) do que resta do território concelhio livre de betão – o governo anuncia ainda pior no futuro:
1. Deixa de ser imperativo que os PDM, os planos de pormenor e os planos de urbanização sejam aprovados em Conselho de Ministros;
2. Deixa de ser obrigatório o acompanhamento pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional da elaboração de planos de urbanização e planos de pormenor.
Poderia, concomitantemente, anunciar-se um reforço da vigilância e do poder interventivo de cidadãos organizados – que, por estarem mais próximos, poderiam fazer o que o Estado não quer ou não sabe fazer – mas nem isso...
Vai ser um fartar vilanagem!
Já agora: o tema aflorado nesta outra notícia merece ou não ser localmente discutido? Já ou depois de haver lei? Resta alguém disposto a ajudar os bombeiros de outra forma?
Cá por mim é já, enquanto o ferro está ao lume. Chega de impostos e taxas!
P.S: - Relativamente à primeira parte deste texto, tenho Louçã do meu lado e o líder do PSD contra. Continuo tranquilo. No país real há sete milhões de casas para 10 milhões de habitantes. Construir mais e mais facilmente para quê? Só porque convém aos autarcas?
27 abril 2007
26 abril 2007
Em memória do Dr. Simões Arrôs
Só agora tendo tomado conhecimento do falecimento do Dr. Manuel Simões Arrôs, ocorrido no passado dia 9, aos 96 anos, e lamentando, profundamente, que o passamento dessa invulgar personalidade alcochetana seja resumido em 11 linhas no jornal da terra (?), por imperativo de consciência reproduzo aqui, com as necessárias actualizações, o que acerca dele escrevi, em 2003, no defunto «Tágides».
Durante meio século tratou da saúde à maioria dos pais e avós de famílias tradicionais de Alcochete: camponeses, funcionários públicos, salineiros, operários, forcados e marujos.
Só os mais antigos residentes conheciam o Dr. Manuel Simões Arrôs, que desempenhou todos os cargos clínicos do concelho durante cerca de meio século: delegado e subdelegado de saúde, médico camarário, da Misericórdia, da "Caixa", de três secas de bacalhau e, no final da carreira, também em três fábricas.
Levado na onda pelo sogro, ajudou a fundar o Aposento do Barrete Verde, em 1944. Oito anos depois seria até presidente da Direcção.
Era uma das memórias vivas de Alcochete, desde 1943, preciosamente refrescada pela da esposa, campeã em datas.
A juventude
A 6 de Dezembro de 1910 nascia o primeiro médico da "Caixa" que houve em Samouco e Alcochete. Veio ao mundo e cresceu entre lutas operárias, em Braço de Prata (Lisboa).
Acaba por se formar na Faculdade de Medicina do Porto, em 17 de Outubro de 1941, obtendo a primeira colocação na vila alentejana de Ourique poucos dias depois.
Chega a Alcochete em 31 de Março de 1943, admitido por concurso público como "médico camarário" para a freguesia de Samouco, onde se desloca, de bicicleta, duas vezes por semana ou sempre que há casos urgentes.
Médico do povo e da Misericórdia
A 2 de Maio de 1944 é nomeado médico da Casa do Povo de Alcochete e, em 1951, o então director e médico residente do Hospital de Alcochete (situado à época na ala esquerda do actual edifício da Santa Casa da Misericórdia) era o Dr. José Grillo Evangelista - muito conceituado na vila e cujo nome seria perpetuado, anos depois, numa artéria da urbanização dos Barris.
Esse clínico desentende-se com a mesa da instituição e resolve sair, sendo substituído nas funções de médico e director pelo jovem Simões Arrôs.
O hospital cresce em importância e, em 1957, virá a ser criado um centro de assistência aos tuberculosos. O médico Simões Arrôs incumbe-se dele, a partir de 1 de Julho desse ano. Tais serviços serão extintos a 31 de Julho de 1978.
Médico dos primeiros operários fabris
Em 1958 é inaugurada a fábrica de pneus Firestone, que angaria localmente a maioria dos quadros médios e dos trabalhadores menos qualificados. O Dr. Simões Arrôs é o primeiro médico dessa empresa, da qual vem a ser afastado, em meados da década de 70, em circunstâncias nebulosas e por influência de um padre.
Entretanto, em 1959, chegavam também as fábricas de secagem e de preparação de bacalhau da Terra Nova. Primeiro instala-se a Bacalhau de Portugal, a seguir a Pescal e, por fim, a Sociedade Nacional dos Armadores do Bacalhau (SNAB).
O Dr. Simões Arrôs será médico em todas, vindo a ser afastado da Pescal e da SNAB, no princípio da década de 70, quando, numa reunião da União Nacional (partido único do regime), um capataz da empresa diz a amigos que o "chefe do reviralho em Alcochete" é Simões Arrôs. Presente, o "patrão" almirante Henrique Tenreiro manda despedir o clínico.
Ficará só na Bacalhau de Portugal até a empresa se extinguir, porque o seu responsável era também assistido por ele e sempre se recusou a aceitar a exigência de afastamento feita por Tenreiro.
Na senda da industrialização, em 1963 e 1965, respectivamente, abrem também as as fábricas de alumínio (Português-Angola, já encerrada) e de latoaria Ormis (hoje a multinacional Crown, Cork & Seal), nas quais o Dr. Simões Arrôs exercerá também funções.
Nesta esteve até ao princípio da década de 90, tendo sido a sua última ocupação profissional.
Médico da Previdência
Em 1961, quando o Dr. Grillo Evangelista se reforma, o colega Simões Arrôs substitui-o como subdelegado de saúde no concelho. A 1 de Julho de 1972 será também nomeado delegado de saúde.
Entretanto, a 1 de Julho de 1962 era contratado pela Caixa de Previdência de Setúbal para a Casa do Povo de Alcochete (a primeira existiu no n.º 7 da Rua do Amaral, no edifício onde hoje está a sede social do Grupo Desportivo Alcochetense).
A assistência médica torna as instalações acanhadas e a Casa do Povo transitará então para a Rua do Chão do Conde.
Em 1963 é inaugurado o posto n.º 16 (Alcochete) da Caixa de Previdência, de que vem a ser o primeiro director, seguindo-se, a 1 de Julho de 1966, o cargo de médico do posto n.º 5 da Previdência (no Montijo). A 1 de Janeiro de 1974 virá a ser também nomeado médico-chefe deste posto.
Em Março de 1968, a mesa da Misericórdia decide que as tarefas de enfermagem ficam a cargo de uma irmandade religiosa, gerando-se um litígio com a enfermeira-chefe da época, o qual levará, em 1 de Abril, à demissão colectiva da equipa médica e da enfermeira (esposa do Dr. Simões Arrôs, com a qual viria a casar, em segundas núpcias, em 1973).
A 6 de Dezembro de 1980 cessa funções como médico municipal e delegado de saúde, por ter atingido o limite de idade (70 anos). A 1 de Setembro de 1982 sai também da Caixa de Previdência por estar à beira dos 72 anos de idade.
Histórias de "João Semana"
De meados da década de 40 o Dr. Simões Arrôs recordava-se (em 2003) do caso de um doente com tuberculose, que medicou com várias embalagens de estreptomicina, na época uma droga de preço elevado e fora do alcance de gente pobre.
A comparticipação pública na aquisição de medicamentos era então somente concedida a beneficiários, o que não era o caso desse paciente, pelo que os familiares teriam de pagar integralmente as embalagens necessárias.
Como essa família era muito pobre, o clínico Simões Arrôs decide emitir as receitas em nome do beneficiário, de modo a evitar despesas insuportáveis.
Mas Alcochete era uma aldeia, em que toda a gente se conhecia e revia quase diariamente, e, dias depois, o tesoureiro da Casa do Povo pergunta ao clínico qual a razão porque emitira receitas em nome de um paciente gozando de boa saúde, pois estivera com ele. Semanas depois a Casa do Povo queixa-se do Dr. Simões Arrôs aos serviços centrais da Previdência, que enviam um inspector para tirar o caso a limpo.
Este manda chamar todas as pessoas a quem o clínico passara receitas "suspeitas" e elas confirmam terem sido emitidas a seu favor. Logo, o clínico não estava a desviar medicamentos em proveito pessoal, como constaria de uma denúncia que o dava como homem rico.
Não podendo pegar-lhe por aí, o inspector dá ao caso contornos políticos. E avisa o Dr. Simões Arrôs de que, embora nada de reprovável fosse detectado, possivelmente seria demitido por ter fama de ser "comunista" - coisa que, na época e na terra, era comum ser apontado a algumas pessoas influentes.
Em meados da década de 40 tal "acusação" equivalia a ser despedido do Estado. Pior ainda no seu caso porque, anos antes, quando frequentava a faculdade de medicina, batera com as costas nas tarimbas do Aljube, da Penitenciária e da sede da PIDE.
Em 2003 confessava-me que nunca foi comunista, embora lidasse com a miséria do povo e detestasse o Estado Novo. E se alguma influência a propaganda marxista teve nos seus ideais de vida, quando viaja à URSS, em 1972, tudo se desmorona ao descobrir pedintes nas ruas e miséria como a de Alcochete.
A fundação do Aposento do Barrete Verde
A participação do Dr. Simões Arrôs na fundação do Aposento do Barrete Verde, em 1944 - cerca de um ano após assentar arraiais no concelho - faz-se por influência de seu sogro, Virgílio Jorge Saraiva, amante da festa brava e ligado à organização das festas anuais desde o seu início, em 1942.
O Aposento nasce num almoço organizado por António Luís Regatão, farmacêutico e então proprietário da Farmácia Gameiro, repasto para o qual Dr. Simões Arrôs é convidado pelo sogro.
Em 2003, com 91 anos e uma visão desapaixonada da política recente e do desenvolvimento da vila, era ainda indiscutível referência do concelho.
Todos os anos, no seu aniversário natalício, recebia inúmeras homenagens de gratidão.
Em lugar de destaque guardava cerâmicas e salvas dedicadas por forcados, bombeiros, colectividades artísticas e desportivas e pelos Centros de Saúde de Montijo e Alcochete.
Ao longo da vida foi ainda presidente das direcções do Aposento do Barrete Verde (em 1952) e dos Bombeiros Voluntários de Alcochete, bem como presidente da Assembleia Geral da Sociedade Imparcial 15 de Janeiro de 1898. Tratou (e ainda tratava em 2003, esporadicamente) de forcados e jogadores de futebol do Alcochetense, do Vulcanense e do Grupo Desportivo do Passil.
Principais homenagens
Em 14 de Fevereiro de 1981, almoço de homenagem organizado por dois amigos, no qual participaram cerca de 300 pessoas, tendo então recebido a medalha de mérito da Câmara Municipal de Alcochete.
Em Setembro de 1982 foi também homenageado pela vila de Alhos Vedros, onde durante muitos anos presidiu às juntas médicas que determinavam as reformas antecipadas de trabalhadores.
A 25 do mesmo mês, homenagem dos trabalhadores do posto médico do Montijo, que lhe ofereceram um relógio em ouro.
A 10 de Junho de 1991, homenagem do Governador Civil de Setúbal, que lhe entrega a medalha de mérito do distrito.
A 10 de Fevereiro de 2001, almoço de homenagem promovido pelo Aposento do Barrete Verde, que dá o seu nome a uma das salas da sede. Associa-se a Câmara Municipal de Alcochete, cuja edilidade lhe outorga a medalha dourada de mérito (o mais alto galardão do município). O almoço teve tal afluência que as inscrições tiveram de ser encerradas uma semana após o seu anúncio, por se ter esgotado a lotação da sala.
Em 2006 o município de Alcochete concedeu-lhe nova distinção honorífica.
Embora algo tenha escrito sobre o assunto e muito mais debatido com responsáveis autárquicos, nunca consegui que, em vida, o Dr. Manuel Simões Arrôs recebesse a honra que mais ansiava: ter o seu nome perpetuado numa artéria da vila.
Continuo a considerar que todas as honrarias e os gestos de gratidão devem exprimir-se durante a vida das pessoas. Infelizmente, continua a ser norma que apenas os defuntos têm direito a emprestar o nome a uma rua. Não conheço lei que a tal obrigue, nem nunca ninguém me deu uma explicação aceitável.
Simões Arrôs merecia tê-lo na rua do Centro de Saúde de Alcochete, a que, há anos, deram o nome do capitão Salgueiro Maia.
25 abril 2007
Resultados do inquérito de opinião
A pergunta do último inquérito colocado neste blogue (Parece-lhe correcta a nova localização das paragens de autocarros junto à Igreja Matriz de Alcochete?) teve as seguintes respostas:
70% Não
22% Sim
7% Sem opinião
Está disponível uma nova pergunta na coluna à esquerda, esta por sugestão de quem continua a ser afectado por um problema que ninguém tem a coragem de esclarecer.
70% Não
22% Sim
7% Sem opinião
Está disponível uma nova pergunta na coluna à esquerda, esta por sugestão de quem continua a ser afectado por um problema que ninguém tem a coragem de esclarecer.
Também não me resigno
Depois do que escrevi aqui ontem, este discurso do Presidente da República vem mesmo a calhar.
Apenas discordo que o desinteresse pela vida política seja apenas apontado aos jovens porque, como é patente, há muito que o problema atravessa a sociedade em geral. Para não ir mais longe: os velhos, pelo menos, têm muito tempo para cuidar da democracia, até porque ajudaram a construí-la.
Enquanto as pessoas se calarem e prescindirem do direito à indignação nada mudará e continuaremos a marcar passo.
Lembre-se:
1. "Temos de deixar aos nossos filhos e aos nossos netos um regime em que sejamos governados por uma classe política qualificada, em que a vida política se paute por critérios de rigor ético, exigência, competência, em que a corrupção seja combatida por um sistema judicial eficaz e prestigiado";
2. "Portugal deve pensar-se como democracia amadurecida" e sugeriu que se "reinvente o espírito da cidadania", exigindo-se "uma mudança" de cultura política".
Estas duas citações condensam um ambicioso programa de cidadania política em que se deveria reflectir maduramente.
P.S. - Está aqui uma curiosa resposta ao discurso do Presidente da República. O autor também não se resigna. Mas...
Apenas discordo que o desinteresse pela vida política seja apenas apontado aos jovens porque, como é patente, há muito que o problema atravessa a sociedade em geral. Para não ir mais longe: os velhos, pelo menos, têm muito tempo para cuidar da democracia, até porque ajudaram a construí-la.
Enquanto as pessoas se calarem e prescindirem do direito à indignação nada mudará e continuaremos a marcar passo.
Lembre-se:
1. "Temos de deixar aos nossos filhos e aos nossos netos um regime em que sejamos governados por uma classe política qualificada, em que a vida política se paute por critérios de rigor ético, exigência, competência, em que a corrupção seja combatida por um sistema judicial eficaz e prestigiado";
2. "Portugal deve pensar-se como democracia amadurecida" e sugeriu que se "reinvente o espírito da cidadania", exigindo-se "uma mudança" de cultura política".
Estas duas citações condensam um ambicioso programa de cidadania política em que se deveria reflectir maduramente.
P.S. - Está aqui uma curiosa resposta ao discurso do Presidente da República. O autor também não se resigna. Mas...
24 abril 2007
A propósito dos 'ideais de Abril'
Li algures que o "executivo municipal de Alcochete está inspirado nos ideais de Abril de 1974". Estará?
Não lhe reconheço ponta de inspiração e menos ainda na dos "ideais de Abril".
A sua prática parece-me muito distinta dos desígnios da Revolução dos Cravos, os quais – segundo uma definição feita há anos pelo falecido gen. Vasco Gonçalves – eram "o entusiasmo, a confiança, a esperança, o empenhamento, o sonho".
A crer nesse ideólogo da revolução, a mim parece-me que este executivo municipal tenta apenas sobreviver. Não lhe noto vestígios de entusiasmo. Duvido que a alguém inspire confiança e esperança. Parece-me sobretudo empenhado em fazer crer que tudo está bem, embora os boatos revelem o oposto mas nunca sejam desmentidos.
Para além de Vasco Gonçalves, outras interpretações da revolução apontam ainda para ideais de liberdade, de justiça social, de solidariedade e de fraternidade.
Quanto a isso também não vislumbro nada neste executivo.
A haver um ideal de liberdade, ele teria tradução prática, por exemplo, na redução das subsídio-dependências e na plena autonomia das instituições locais. A meu ver, o percurso tem sido inverso.
A injustiça social é evidente e só não a vê quem for cego. Sei ser longo e penoso o caminho da justiça social, mas nada fazer só agrava os problemas.
De solidariedade é bom nem falar. Há reciprocidade de interesses e de obrigações? Há partilha de responsabilidades? Há esforços para despertar toda a gente? Há motivos para ter a consciência tranquila?
Quanto a fraternidade, vamos de mal a pior. Por conveniência política, em meia dúzia de anos criou-se mais um dormitório de desenraízados, de desinteressados e de indiferentes.
Se houvesse inspiração nos "ideais de Abril" tudo seria feito para que as pessoas participassem activamente nas questões locais e saíssem do estado de alheamento persistente, cujas causas radicam nos políticos que as enganaram e desiludem.
Não pode haver inspiração nos "ideais de Abril" quando já ninguém sonha. Quando escasseiam os meios e, principalmente, a vontade de plantar e semear alguma coisa palpável e não apenas ilusões. Sobreviver tornou-se, infelizmente, no principal intento. Perdeu-se qualquer capacidade de acção e, sobretudo, de reacção. A miséria não é apenas material mas, primordialmente, intelectual e cultural.
Poderão florescer cravos numa sociedade de egoístas, de intrujões, de apáticos e de alienados governados por vendedores de ilusões? Haverá futuro assim?
Não lhe reconheço ponta de inspiração e menos ainda na dos "ideais de Abril".
A sua prática parece-me muito distinta dos desígnios da Revolução dos Cravos, os quais – segundo uma definição feita há anos pelo falecido gen. Vasco Gonçalves – eram "o entusiasmo, a confiança, a esperança, o empenhamento, o sonho".
A crer nesse ideólogo da revolução, a mim parece-me que este executivo municipal tenta apenas sobreviver. Não lhe noto vestígios de entusiasmo. Duvido que a alguém inspire confiança e esperança. Parece-me sobretudo empenhado em fazer crer que tudo está bem, embora os boatos revelem o oposto mas nunca sejam desmentidos.
Para além de Vasco Gonçalves, outras interpretações da revolução apontam ainda para ideais de liberdade, de justiça social, de solidariedade e de fraternidade.
Quanto a isso também não vislumbro nada neste executivo.
A haver um ideal de liberdade, ele teria tradução prática, por exemplo, na redução das subsídio-dependências e na plena autonomia das instituições locais. A meu ver, o percurso tem sido inverso.
A injustiça social é evidente e só não a vê quem for cego. Sei ser longo e penoso o caminho da justiça social, mas nada fazer só agrava os problemas.
De solidariedade é bom nem falar. Há reciprocidade de interesses e de obrigações? Há partilha de responsabilidades? Há esforços para despertar toda a gente? Há motivos para ter a consciência tranquila?
Quanto a fraternidade, vamos de mal a pior. Por conveniência política, em meia dúzia de anos criou-se mais um dormitório de desenraízados, de desinteressados e de indiferentes.
Se houvesse inspiração nos "ideais de Abril" tudo seria feito para que as pessoas participassem activamente nas questões locais e saíssem do estado de alheamento persistente, cujas causas radicam nos políticos que as enganaram e desiludem.
Não pode haver inspiração nos "ideais de Abril" quando já ninguém sonha. Quando escasseiam os meios e, principalmente, a vontade de plantar e semear alguma coisa palpável e não apenas ilusões. Sobreviver tornou-se, infelizmente, no principal intento. Perdeu-se qualquer capacidade de acção e, sobretudo, de reacção. A miséria não é apenas material mas, primordialmente, intelectual e cultural.
Poderão florescer cravos numa sociedade de egoístas, de intrujões, de apáticos e de alienados governados por vendedores de ilusões? Haverá futuro assim?
23 abril 2007
Árvores serão causa de alergias?
Após duas semanas de ausência, só hoje soube que, há alguns dias, 44 crianças da Escola Básica da Restauração (em Alcochete) passaram pelo centro de saúde e pelo hospital do Barreiro, apresentando reacções alérgicas de origem então não esclarecida.
Há anos que desconfio poder a causa das inexplicáveis alergias que na Primavera e Verão ocorrem em crianças e adultos, nas imediações das escolas da Restauração e EB 2,3 El-Rei D. Manuel I, estar em algumas árvores existentes no último desses estabelecimentos de ensino.
Embora leigo na matéria, a florescência de algumas dessas árvores parece-me susceptível de suspeita.
Mantenho as mesmas suspeitas em relação a alguns plátanos existentes noutros locais do concelho, porque a minha pituitária também os detesta.
Não me parece difícil que, com a colaboração da Delegada de Saúde e do Instituto Ricardo Jorge, o Município de Alcochete investingue o assunto em profundidade.
Há anos que desconfio poder a causa das inexplicáveis alergias que na Primavera e Verão ocorrem em crianças e adultos, nas imediações das escolas da Restauração e EB 2,3 El-Rei D. Manuel I, estar em algumas árvores existentes no último desses estabelecimentos de ensino.
Embora leigo na matéria, a florescência de algumas dessas árvores parece-me susceptível de suspeita.
Mantenho as mesmas suspeitas em relação a alguns plátanos existentes noutros locais do concelho, porque a minha pituitária também os detesta.
Não me parece difícil que, com a colaboração da Delegada de Saúde e do Instituto Ricardo Jorge, o Município de Alcochete investingue o assunto em profundidade.
15 abril 2007
De promessas está o inferno cheio
Com data de 10 do corrente, a Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola EB 2,3 El-Rei D. Manuel I, de Alcochete, escreveu uma carta à ministra da Educação, cujo teor é o seguinte:
"Somos uma APEE cujas preocupações são semelhantes a outras que existem no país: actuar no âmbito da educação e com instrumentos adequados.
"Acompanhamos com a devida atenção, as promessas feitas no passado e no presente, pelos decisores e muitas delas não são convenientemente concluídas por imensas vicissitudes do processo, o que tem tido reflexos na formação dos jovens de ontem e nos de agora, provocando os atrasos sucessivos no desenvolvimento eficaz do País.
"Não é nossa pretensão abordar o tema de uma forma genérica, nem será certamente o meio adequado para o fazer; apenas pretendemos transmitir preocupações concretas.
"Fazemo-lo de uma forma responsável, depois de termos constatado que se esgotaram outros níveis de decisão; os mesmos que infelizmente e nalguns casos não compreendem qual o verdadeiro papel de uma APEE.
"A este propósito escusamo-nos de anexar documentação relevante porque consideramos ser dever da DREL informar a Senhora Ministra com total clareza e honestidade dos assuntos pendentes. O diálogo sincero, leal e construtivo com a DREL foi cortado a partir do momento que o seu responsável máximo ter entrado em incumprimento de promessas feitas em tempo oportuno e se a isto acrescentarmos, as respostas inqualificáveis que obtivemos estamos num beco sem saída.
"Sem mais delongas, enunciamos as nossas preocupações de uma forma sucinta:
"1. Estamos com 2/3 do ano lectivo percorrido e todas as soluções apresentadas para a escola possuir um apoio de psicólogo foram recusadas sem alternativa Quando nos referimos a esta competência, fazemo-lo nos diferentes patamares de intervenção que é sempre necessário. Procurámos encetar iniciativas com outras entidades externas à escola, as quais foram recusadas totalmente.
"2. No ano 2002, foram protocoladas intervenções que envolviam para além do pavilhão desportivo o arranjo dos espaços exteriores; no entanto, prossegue o incumprimento do protocolo.
"3. Fomos informados de que as obras a executar no refeitório estão adjudicadas no entanto, não há previsão para o seu começo, muito provavelmente não serão feitas no decorrer do ano de 2007.
"4. A escola não possui um posto de socorros minimamente eficaz. Nem sequer é possível entrar com uma maca no espaço existente. Se ocorrer uma situação mais gravosa, quem assumirá a responsabilidade? Da nossa parte saberemos de quem apresentaremos queixa.
"5. Estamos a seis meses do começo de um próximo ano lectivo. No final do ano transacto solicitámos à DREL que fossem assumidos compromissos que possibilitassem a construção de mais um bloco de salas de aulas, atendendo à ruptura de espaços que se previa ocorrer. Situação que foi ultrapassada, por não se ter atingido o limite, mas prevê-se que este ocorra no próximo ano lectivo. Preocupa-nos nada ser feito atempadamente.
"Estas são as situações que entendemos mais urgentes e que carecem de respostas eficazes para solucionar os constrangimentos até agora ocorridos ou que venham a acontecer a curto espaço de tempo.
"Estamos certos que esta carta merecerá a maior atenção da senhora Ministra que aproveitará a oportunidade para demonstrar que as suas palavras e promessas não são contrárias à prática que a educação e a escola precisa.
"Esta APEE já no passado deu mostras que não existem barreiras intransponíveis, mas também não tomaremos outras acções sem antes ouvir os argumentos dos primeiros responsáveis políticos pela educação no Pais.
"Com os nossos melhores cumprimentos e ficando na expectativa de uma breve resposta ao acima exposto, subscrevemo-nos",
O Presidente da Direcção
Zeferino Boal
"Somos uma APEE cujas preocupações são semelhantes a outras que existem no país: actuar no âmbito da educação e com instrumentos adequados.
"Acompanhamos com a devida atenção, as promessas feitas no passado e no presente, pelos decisores e muitas delas não são convenientemente concluídas por imensas vicissitudes do processo, o que tem tido reflexos na formação dos jovens de ontem e nos de agora, provocando os atrasos sucessivos no desenvolvimento eficaz do País.
"Não é nossa pretensão abordar o tema de uma forma genérica, nem será certamente o meio adequado para o fazer; apenas pretendemos transmitir preocupações concretas.
"Fazemo-lo de uma forma responsável, depois de termos constatado que se esgotaram outros níveis de decisão; os mesmos que infelizmente e nalguns casos não compreendem qual o verdadeiro papel de uma APEE.
"A este propósito escusamo-nos de anexar documentação relevante porque consideramos ser dever da DREL informar a Senhora Ministra com total clareza e honestidade dos assuntos pendentes. O diálogo sincero, leal e construtivo com a DREL foi cortado a partir do momento que o seu responsável máximo ter entrado em incumprimento de promessas feitas em tempo oportuno e se a isto acrescentarmos, as respostas inqualificáveis que obtivemos estamos num beco sem saída.
"Sem mais delongas, enunciamos as nossas preocupações de uma forma sucinta:
"1. Estamos com 2/3 do ano lectivo percorrido e todas as soluções apresentadas para a escola possuir um apoio de psicólogo foram recusadas sem alternativa Quando nos referimos a esta competência, fazemo-lo nos diferentes patamares de intervenção que é sempre necessário. Procurámos encetar iniciativas com outras entidades externas à escola, as quais foram recusadas totalmente.
"2. No ano 2002, foram protocoladas intervenções que envolviam para além do pavilhão desportivo o arranjo dos espaços exteriores; no entanto, prossegue o incumprimento do protocolo.
"3. Fomos informados de que as obras a executar no refeitório estão adjudicadas no entanto, não há previsão para o seu começo, muito provavelmente não serão feitas no decorrer do ano de 2007.
"4. A escola não possui um posto de socorros minimamente eficaz. Nem sequer é possível entrar com uma maca no espaço existente. Se ocorrer uma situação mais gravosa, quem assumirá a responsabilidade? Da nossa parte saberemos de quem apresentaremos queixa.
"5. Estamos a seis meses do começo de um próximo ano lectivo. No final do ano transacto solicitámos à DREL que fossem assumidos compromissos que possibilitassem a construção de mais um bloco de salas de aulas, atendendo à ruptura de espaços que se previa ocorrer. Situação que foi ultrapassada, por não se ter atingido o limite, mas prevê-se que este ocorra no próximo ano lectivo. Preocupa-nos nada ser feito atempadamente.
"Estas são as situações que entendemos mais urgentes e que carecem de respostas eficazes para solucionar os constrangimentos até agora ocorridos ou que venham a acontecer a curto espaço de tempo.
"Estamos certos que esta carta merecerá a maior atenção da senhora Ministra que aproveitará a oportunidade para demonstrar que as suas palavras e promessas não são contrárias à prática que a educação e a escola precisa.
"Esta APEE já no passado deu mostras que não existem barreiras intransponíveis, mas também não tomaremos outras acções sem antes ouvir os argumentos dos primeiros responsáveis políticos pela educação no Pais.
"Com os nossos melhores cumprimentos e ficando na expectativa de uma breve resposta ao acima exposto, subscrevemo-nos",
O Presidente da Direcção
Zeferino Boal
03 abril 2007
Sobram casas novas
Pessoa ligada ao mercado imobiliário, em Alcochete, garante-me haver no concelho quase um milhar de habitações a estrear disponíveis para venda, para as quais não há compradores.
Somadas às que estão em construção, cujo número será equivalente, é caso para perguntar se ainda há empresários imprevidentes, até por serem também inumeráveis as concluídas há menos de cinco anos cujos proprietários as puseram à venda.
Surpreende-me, entretanto, haver pressões enormes para a urbanização de mais terrenos.
Somadas às que estão em construção, cujo número será equivalente, é caso para perguntar se ainda há empresários imprevidentes, até por serem também inumeráveis as concluídas há menos de cinco anos cujos proprietários as puseram à venda.
Surpreende-me, entretanto, haver pressões enormes para a urbanização de mais terrenos.
E se novo aeroporto fosse perto?
Li esta notícia no DN de hoje e, finalmente, parece-me que o "sim" à Ota passou a ser um "nim".
Quanto à questão de saber se as alternativas serão Faias ou Poceirão – visto que, por razões ambientais, Rio Frio e Campo de Tiro de Alcochete parecem-me hoje hipóteses arriscadas – os especialistas que se pronunciem.
Entretanto, tenho verificado que, em Alcochete, há divisão de opiniões quanto à possibilidade de haver por perto um aeroporto internacional.
Segundo uns, quanto mais longe melhor. Para outros, seria importante pólo de desenvolvimento económico de que o distrito carece há décadas.
Sobre isso tenho uma única opinião firme: que nunca haja um aeroporto internacional no lugar da Base Aérea de Montijo, nem o sobrevoo de aeronaves a baixa altitude perto de aglomerados habitacionais significativos.
Conheço alguma coisa da contestação europeia ao ruído oriundo de aeroportos construídos próximos de cidades e bom será que tal sirva de exemplo.
Quanto à questão de saber se as alternativas serão Faias ou Poceirão – visto que, por razões ambientais, Rio Frio e Campo de Tiro de Alcochete parecem-me hoje hipóteses arriscadas – os especialistas que se pronunciem.
Entretanto, tenho verificado que, em Alcochete, há divisão de opiniões quanto à possibilidade de haver por perto um aeroporto internacional.
Segundo uns, quanto mais longe melhor. Para outros, seria importante pólo de desenvolvimento económico de que o distrito carece há décadas.
Sobre isso tenho uma única opinião firme: que nunca haja um aeroporto internacional no lugar da Base Aérea de Montijo, nem o sobrevoo de aeronaves a baixa altitude perto de aglomerados habitacionais significativos.
Conheço alguma coisa da contestação europeia ao ruído oriundo de aeroportos construídos próximos de cidades e bom será que tal sirva de exemplo.
Aceite convite para domingo
É especialmente a si, residente fora do concelho de Alcochete, que dirijo um fraternal convite para vir visitar-nos na tarde do próximo Domingo de Páscoa.
Realiza-se o cortejo do Círio dos Marítimos de Alcochete, festa por eles organizada desde a época medieval. O ano exacto de início é desconhecido, mas em 1512 já existia.
Depois de observar o filme abaixo inserido (faça dois clics sobre o símbolo ao centro da imagem para iniciar a projecção), oxalá se sinta tentado(a) a aceitar o convite.
O cortejo é organizado num terreno situado defronte da praça de touros de Alcochete e desfilará por várias artérias do centro histórico.
Se puder, na segunda-feira vá também à igreja da Atalaia (concelho de Montijo), assistir às restantes cerimónias.
Aos residentes locais devo ainda uma explicação: a animação contém dezenas de imagens digitais seleccionadas entre as centenas que captei entre 2003 e 2005.
É dedicada aos organizadores e aos protagonistas dos círios desses anos. Por muitas razões devia-lhes esta homenagem.
P.S. - Peço aos compositores locais que me enviem músicas instrumentais para ilustrar outras animações (ver Email na secção Contactos da coluna ao lado). Imperativamente, têm de ser autores dessas obras musicais.
Continuarão a ser legítimos proprietários das composições, que utilizarei exclusivamente neste blogue e para o fim indicado (os filmes são alojados no YouTube, sem o que não poderão ser vistos aqui). A autoria das composições será, naturalmente, identificada.
Formato de áudio digital: qualquer, mas preferivelmente MP3. Duração ideal de cada composição: entre quatro e seis minutos.
Realiza-se o cortejo do Círio dos Marítimos de Alcochete, festa por eles organizada desde a época medieval. O ano exacto de início é desconhecido, mas em 1512 já existia.
Depois de observar o filme abaixo inserido (faça dois clics sobre o símbolo ao centro da imagem para iniciar a projecção), oxalá se sinta tentado(a) a aceitar o convite.
O cortejo é organizado num terreno situado defronte da praça de touros de Alcochete e desfilará por várias artérias do centro histórico.
Se puder, na segunda-feira vá também à igreja da Atalaia (concelho de Montijo), assistir às restantes cerimónias.
Aos residentes locais devo ainda uma explicação: a animação contém dezenas de imagens digitais seleccionadas entre as centenas que captei entre 2003 e 2005.
É dedicada aos organizadores e aos protagonistas dos círios desses anos. Por muitas razões devia-lhes esta homenagem.
P.S. - Peço aos compositores locais que me enviem músicas instrumentais para ilustrar outras animações (ver Email na secção Contactos da coluna ao lado). Imperativamente, têm de ser autores dessas obras musicais.
Continuarão a ser legítimos proprietários das composições, que utilizarei exclusivamente neste blogue e para o fim indicado (os filmes são alojados no YouTube, sem o que não poderão ser vistos aqui). A autoria das composições será, naturalmente, identificada.
Formato de áudio digital: qualquer, mas preferivelmente MP3. Duração ideal de cada composição: entre quatro e seis minutos.
01 abril 2007
PS: agora manda ela!
Com 58,8% dos votos – naquele que terá sido o sufrágio socialista mais participado de sempre a nível local – a lista encabeçada pela deputada Teresa Diniz derrotou a do vereador Arnaldo Teixeira nas eleições para os órgãos dirigentes do PS em Alcochete.
Devido a problemas jurisdicionais, a concelhia socialista está inactiva há mais de um ano.
Não é ainda conhecida a data de posse dos novos órgãos concelhios do PS, dependendo a marcação da cerimónia da validação dos resultados.
Maria Teresa Filipe de Moraes Sarmento Diniz é licenciada em Direito e docente universitária, tendo sido eleita pelo círculo eleitoral de Setúbal.
A quem queira enviar-lhe flores, informo que 18 de Outubro é o dia do seu aniversário.
Sendo uma militante e a outra simpatizante – ambas bem conhecidas pelas funções autárquicas desempenhadas – as minhas fontes não são unânimes na previsão de pacificação imediata nas hostes socialistas de Alcochete.
Essas fontes prevêem que a presidente eleita da concelhia terá pela frente um difícil processo de negociações, mormente com os vereadores afectos à lista derrotada e respectivos apoiantes. Mas talvez tenha de travar ambições de um outro dos seus apoiantes incondicionais, cuja ascensão causaria novas e delicadas divisões.
Se Teresa Diniz for bem sucedida, os socialistas locais chegarão unidos ao início de 2009. De contrário, antes das autárquicas de Outubro desse ano poderá haver nova mudança de rostos na concelhia.
Isto é o que pensam as minhas fontes, porque nisso não meto prego nem estopa.
Além do trabalho de pacificação, aparentemente, algumas das prioridades imediatas dos novos órgãos locais socialistas deverão ser a análise do processo de revisão do Plano Director Municipal e matérias de urbanismo. Oxalá, penso eu!
Dois aspectos sensíveis em que, no entender das minhas fontes, a complacência dos vereadores do PS tem sido notória e suscitado interrogações.
Como sempre, nisto da política faço como São Tomé...
P.S. - Esqueci-me de assinalar mais acima que outros dados biográficos sobre a nova presidente da CPC de Alcochete do PS estão aqui.
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