30 dezembro 2005
Mais flores e respeito, por favor
Não é ilegal nem ilegítimo que, sob determinadas condições, os cidadãos alindem, conservem e vigiem canteiros, jardins e espaços públicos existentes nas respectivas zonas de residência. Não obstante o individualismo, o comodismo e o alheamento que caracteriza os portugueses em geral, só os verdadeiros interessados conseguirão fazer das áreas de recreio e lazer o que parece quase impossível exigir hoje às autarquias.
Para esse efeito há municípios que celebraram acordos com associações de moradores, mediante contrapartidas, fornecendo-lhes meios e algum apoio técnico. Lá fora há curiosas experiências de cooperação entre cidadãos e autarquias, de que poderá aperceber-se quem pesquisar ideias e sugestões na Internet.
Em Alcochete há dezenas de reformados que passam os dias roçando as calças em bancos e esquinas mas, com meios próprios ou a ajuda de uma instituição privada ou colectividade (talvez a Casa do Povo), provavelmente o município conseguiria cativar alguns para essa e outras missões úteis.
Alguma retribuição, tacto, paciência, compreensão e uma placa informativa, implantada em cada jardim, seriam merecidas recompensas a quem se disponha a esse trabalho individual ou colectivo.
Acredito que, pelo menos, os mais velhos se recordam dos lindos canteiros que, há 30 ou 40 anos, faziam de Alcochete uma vila invulgarmente florida. A imagem acima mostra como se apresentava, na década de 60, o canteiro que rodeia o busto do Barão de Samora Correia.
Hoje, de uma ponta à outra do concelho, as flores rareiam e os canteiros estão pouco menos que abandonados. Resistem uns arbustos desprezíveis e, claro, a milagrosa casca de pinheiro contra as ervas daninhas.
No Largo Barão de Samora Correia (Rossio) há vários canteiros com brechas visíveis, porque alguém resolveu preenchê-los com as inefáveis palmeiras, a árvore municipal de excelência. São feias e baratas, mas óptimas porque exigem manutenção quase nula. Não servem nem aos pássaros, da sua sombra até os gatos fogem e a inutilidade ornamental é óbvia. E como as palmeiras cresceram mas os canteiros não, pouco falta para a câmara ter de deitar mãos à obra.
Creio que alguns reformados conseguirão fazer mais e melhor, gastando a autarquia muito menos. Quanto aos jardineiros municipais, dêem-lhes formação e missões melhor remuneradas.
Por falar em flores: o município tem ou não um viveiro de plantas? Confesso que nunca vi ou li nada sobre o assunto. Estará fora das possibilidades orçamentais da câmara oferecer, nomeadamente aos residentes nas zonas históricas de Alcochete e Samouco, suportes e vasos de flores para as respectivas janelas e portas de entrada? Não é isso que se observa, por esse mundo fora, nas zonas históricas?
A propósito de missões úteis para reformados: por saber que muitos homens idosos e esquecidos – que vagueiam nas imediações dos Paços do Concelho, do Museu de Arte Sacra e do jardim do Rossio, em Alcochete; da Praça da República e do Largo Dias Coelho, em Samouco; além do Largo 1.º de Maio e imediações, em São Francisco – acabam por recorrer, desnecessariamente, ao Centro de Saúde, em busca de remédio para chagas sociais cuja terapia adequada é readquirir o gosto pela vida e o prazer de ser útil a si próprio e aos outros, cura que os centros de dia para reformados estão longe de oferecer e a maioria considera até abomináveis, pergunto se não seria preferível alguém da autarquia conversar com esses homens e ver até que ponto ela própria poderia aproveitar os seus conhecimentos, aptidões e habilidades.
Um exemplo mínimo do muito que há a fazer, porquanto os médicos raramente conseguem milagres: em artérias muito movimentadas do município da Amadora, nas passagens de peões situadas junto às escolas, são reformados que regulam o tráfego e os atravessamentos. Envergando um colete retroreflector e segurando uma raqueta com duas faces (verde e vermelha com sinal de "stop"), há anos que fazem esse trabalho, têm evitado acidentes e salvo algumas vidas.
Quantos não haverá por aí capazes de fazer muito mais por nós?
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