28 dezembro 2005

Bacalhau, secas e hotéis


Estão encerradas e abandonadas, há mais de duas décadas, as três secas de bacalhau de Alcochete. Com excepção de um caso, os terrenos foram vendidos a empresas cuja actividade nada tem a ver com a cura ou a comercialização do "fiel amigo".
Como o município era parte interessada nas mais valias de futuros negócios, desde 1997 o PDM local passou a prever o aproveitamento desses espaços para actividades turísticas e de lazer. Há já projectos para a construção de hotéis.
Descobre-se agora no «Jornal de Notícias» estar
"na iminência de ser reconhecido a nível comunitário o método português de produção do bacalhau salgado seco", único no mundo!
Provavelmente essa certificação passará ao lado de Alcochete e os empreendimentos imobiliários irão mesmo por diante – a menos que, por milagre, apareçam por aí estrangeiros com ideias arrojadas – não obstante nos secadouros locais ter sido preparado, entre meados das décadas de 50 e 70, muito do bacalhau capturado por navios nacionais na Terra Nova e na Groenlândia, que na volta carregavam o sal das marinhas de Samouco e Alcochete.
Quando a maior parte dos edifícios continua ainda de pé e as marinhas de sal existem mas nada produzem (excepto mosquitos), esta certificação europeia do "bacalhau de cura tradicional portuguesa" dá que pensar.
O sol e o vento continuam generosos e a técnica portuguesa da cura do bacalhau é pouco exigente em investimento. Falta apenas o mais difícil: empreendedores dispostos a apostar no que a Natureza lhes oferece de mão beijada.

Sem comentários: