Ser ou não ser alcochetano ,e o que é isso de ser alcochetano , não deixa de ser uma questão cuja abordagem pode revelar algum interesse sociológico face à evidente miscigenação entre aqueles cujas raízes familiares ou de nascença se encontram há gerações ligadas a esta terra e a significativa massa de novos residentes que se vão instalando nesta Vila.
Na minha modesta perspectiva, e por muito que isso custe a algumas minorias ( e minoria se calhar ainda é exagero) , sem qualquer desprimor ou menor respeito pelos primeiros , a verdade é que o universo abarcado pelo conceito de «alcochetano» é hoje muito , mas muito mais abrangente.
É que esse universo abrange não só aqueles cujas raízes familiares mais antigas se encontram ligadas a este terra, mas, e cada vez mais, aqueles que escolheram Alcochete para viver e para aqui criarem os seus filhos, filhos esses sim que porventura no futuro , poderão reivindicar para si, com legitimidade acrescida, a condição de alcochetano.
No meu caso em particular, e apesar das minhas raízes profundamente ribatejanas, reconheço que não tinha qualquer vinculo familiar em Alcochete, pelo menos até ao nascimento do meu filho , cujo bilhete de identidade , ostenta , no que concerne à sua naturalidade ,e com muito orgulho meu , ALCOCHETE.
Para além da sua naturalidade, Alcochete é a terra onde o meu filho cresce desde o seu primeiro dia de vida, e é a terra onde vivo desde há sete anos a esta parte e onde tenciono viver muitos mais, porventura até ao final dos meus dias.
Perante isto, e perdoem-me os mais puristas da «raça alcochetana», considero-me um ALCOCHETANO, ou se esses mais puristas quiserem ,um ALCOCHETANO-NOVO .
A minha preocupação com Alcochete, com a forma como a autarquia gere os seus destinos e todos os problemas que lhe são inerentes , também me diz respeito , por tudo o que acima referi e obviamente porque há mais de vinte anos que aprendi a gostar desta terra , que hoje considero a minha terra adoptiva no plano afectivo.
Vem isto a propósito de um episódio ocorrido há cerca de seis anos atrás , e que há dias atrás se repetiu por força da minha participação neste Blogue.
Há cerca de seis anos atrás havia umas senhoras que diariamente despejavam no passeio adjacente ao prédio onde vivo baldes com restos de comida com que alimentavam umas dezenas de gatos vadios cujo número se ia multiplicando de mês para mês. Não o faziam nos passeios adjacentes aos prédios onde vivem.
Para além da visão dos restos de comida espalhados pelo passeio , do cheiro , das moscas e varejeiras , a enorme concentração de gatos vadios constituía um verdadeiro atentado à saúde pública , sobretudo se tivermos em conta que nos prédios existentes nessa rua havia e há um número considerável de crianças que diariamente brincava ou circulava naqueles passeios.
Quando um dia cheguei a casa deparei-me com uma dessas senhoras a despejar mais um balde de restos de comida no passeio junto ao prédio onde vivo.
De forma cordata abordei-a tentando alertá-la para os inconvenientes dessa situação. Da referida senhora obtive apenas uma resposta. «Estou na minha terra e faço o que quiser, VAI MAS É PARA A TUA TERRA.»
Felizmente imperou o bom senso e há muito que essa situação cessou , sendo com agrado que constato que hoje em dia qualquer dessas senhoras me aborda de forma cordial e bem educada.
Há poucos dias atrás e a propósito da minha participação neste Blogue houve alguém ( e quem é o que menos interessa) que me «MANDOU PREOCUPAR COM A MINHA TERRA».
Estou mais certo que essa pessoa se preocupa tanto com a sua terra como eu , e é por isso que seguindo à letra o conselho dessa pessoa , aqui vai mais um contributo para uma reflexão em torno dos problemas da MINHA TERRA – ALCOCHETE.
Tem amiúde vindo à colação neste blogue a questão de um maior envolvimento e uma maior participação dos alcochetanos (naturais , residentes e novos filhos da terra) na gestão dos assuntos concelhios.
A sugestão que aqui deixo , não sendo original , não deixará de constituir uma oportunidade para as forças politicas do concelho , no poder ou na oposição (falar em oposição é outro exagero que aqui cometo) evidenciarem uma vontade real , honesta e determinada de promoverem uma maior participação dos munícipes na gestão da autarquia.
Esta proposta , que se poderá inserir no quadro mais vasto de um plano estratégico para o desenvolvimento sustentável do concelho , (Plano cuja elaboração e execução , volto uma vez mais a repetir , se me afigura como um passo nuclear para Alcochete ), traduz-se na criação de um «SENADO» como orgão consultivo da Câmara Municipal.
Esse «SENADO» seria pluripartidário , DISTANTE DA NECESSIDADE DO VOTO com as vantagens que daí decorrem.
Seria constituído por figuras locais ( que nasceram ou que vivem em Alcochete) no domínio da arte , do desporto , da economia , da ciência , da educação , da segurança , etc.
Este orgão , cujos custos de funcionamento seriam obviamente reduzidos , reuniria para reflexões de carácter ESTRATÉGICO , assumindo-se como um GERADOR DE IDEIAS que permitam ligar o sonho ou as visões a longo prazo à realidade do curto prazo. Das respectivas reuniões seriam elaboradas actas e conclusões a divulgar no Boletim da Câmara Municipal e num site criado expressamente para o efeito na Internet , aberto ao contributo dos munícipes em geral.
Para tal seria necessário estabelecer critérios de convite , elaboração de um estatuto e regulamento interno , o que não me parece complicado havendo uma vontade real nesse sentido.
Deixo aqui a sugestão e o desafio à prova da vontade dos políticos locais , ideia que repito não é original , mas que uma vez mais é bem demonstrativa que a preocupação que tenho com Alcochete é uma preocupação digna de quem se afirma Alcochetano.
1 comentário:
Caro Luís Proença:
As sugestões de criação, em Alcochete, de Senado ou de Conselho Municipal são excelentes e foram postas a circular, há mais de três anos, nos fóruns de opinião do defunto Tágides.
Recordo-me de ter havido então algum debate positivo sobre a matéria e ninguém contestou a ideia.
Tão boa ela era que, durante a campanha eleitoral para as autárquicas de Outubro de 2005, pelo menos três partidos ou coligações pegaram na ideia e prometiam um Conselho Municipal.
Como sabe, uma dessas propostas era da CDU, a qual, no programa apresentada para a Câmara Municipal, no capítulo "Objectivos Operacionais e Acções Concretas", prometia criar um "Conselho Municipal, como o órgão máximo de promoção e da participação dos cidadãos, na lógica de uma democracia participada".
Mais de dois anos passados após o retorno ao poder com maioria confortável, os eleitos da CDU meteram a viola no saco quanto a essa e outras promessas escritas. Aliás, habitualmente, só aludem às que lhes convêm, ignorando muitas outras que só deles dependiam e não são condicionadas por limitações financeiras.
Farto de esperar, em 23 de Julho passado escrevi aqui um texto intitulado «Reivindico Provedor do Munícipe em Alcochete», ideia que nem sequer é inédita em municípios nacionais.
Era a esse provedor que deveriam recorrer os munícipes de Alcochete que, durante cerca de sete anos, esperaram em vão pela devolução das cauções da água. É sabido que essas devoluções foram finalmente concretizadas, há três meses, mas continuamos ainda à espera da devolução das actualizações legalmente previstas.
Quanto à primeira parte do seu texto, nomeadamente a referência à frase «Estou na minha terra e faço o que quiser, vai mas é para a tua terra», é bem conhecida. Ouvi-a, pela primeira vez, no ano 2000, proferida por uma autarca comunista. Nunca pensei ser considerado estrangeiro no meu próprio país e respondi à letra: se pensa assim, o melhor é mandar instalar guaritas e polícias à entrada do concelho e fazer o controlo de passaportes. Nem na República Popular da China alguma vez escutei tamanha estupidez, na época em que o regime estava isolado e fechado para a maior parte do mundo!
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