03 junho 2012

Ando aqui às voltas...

Ando aqui às voltas com um problema.
Se pegarmos em Os Maias de Eça de Queirós e Amor de Perdição de Camilo Castelo Branco, verificaremos que o protagonista da primeira obra, Carlos da Maia, é filho e neto de homens dominados pelas mulheres...tal como o protagonista da segunda, Simão Botelho, é filho de um títere manietado pela respectiva mulher.
Convém, desde já, não perder de vista que estas personagens representam a nobreza portuguesa.
A questão é esta: Eça e, antes deste, Camilo o que é que nos queriam dizer quando desenhavam os traços destas personagens?
Bom! A culpabilização das mulheres pelos desaires do universo masculino, talvez melhor dizendo, pelos desaires do patriarcado, é estratégia que existe desde que a humanidade tem memória de si.
Em matéria de religião, veja-se, por exemplo, a história bíblica de Adão e Eva, representantes da humanidade inteira; em matéria da História de Portugal, veja-se, por exemplo, o último rei da primeira dinastia, D. Fernando, que não se livra da fama de ser pau-mandado de D. Leonor Teles e o último rei da segunda dinastia,  D. Sebastião, que raramente é referido sem se dizer ou insinuar que era misógino como se as mulheres tivessem culpa que o rei lhes desse pouca ou nenhuma importância.
Mas também eu tenho que ver uma coisa: quando, de facto, me desagrada que a origem dos malogros na área masculina seja tributada às mulheres, eu estou a obedecer à minha subjectividade e pendor personalista ou à real natureza do humano? Esta natureza é como é ou como eu desejaria que fosse?
Não vejo nenhuma instituição a defender mais que a Igreja Católica a dignidade da pessoa humana. O meu conceito de pessoa deixa-me desarmado quando o sacerdócio é negado às mulheres, mas também sei que, uma vez a mulher ordenada sacerdotisa no seio da Igreja Católica, esta acaba como instituição.
Então no que ficamos? Ficamos a viver em permanente tensão que esta é mesmo a sina da Fé Cristã.
Meus amigos, o poder é o poder. O que é que eu quero dizer com esta tautologia? Quero dizer que o poder não é uma linha horizontal, mas, sim, uma linha vertical; que ele, o poder, é o primeiro ponto do cimo.
É tão mau uma sociedade patriarcal como uma sociedade matriarcal, mas face à natureza do humano e do poder temos que fazer a escolha que nos esmague menos e permita que vivamos...ainda que em tensão, sem prejuízo da luta contra todo o abuso.

1 comentário:

Unknown disse...

Não há especialista nenhum no mundo, amigo ou inimigo da Igreja Católica, que não saiba que esta instituição acaba a partir da altura que se democratize. Isto não quer dizer que esses especialistas estejam contra a democracia. Estou mesmo em crer que o equilíbrio desta deve muito ao contrapeso que é a orgânica colegial da Igreja Católica.