Quando consultamos textos de várias feministas dos últimos 30 ou 40 anos, o que vemos com frequência são tremendas contradições.
Pelos estudos que eu próprio fiz na Universidade Aberta em Estudos sobre as Mulheres (Women Studies), apercebi-me perfeitamente que as feministas em geral execravam a maternidade porque esta é uma gigantesca dificuldade que se levanta na luta que as intelectuais feministas mantêm contra o determinismo biológico.
Por exemplo, se um ser humano nasce com uma vagina, para mim tal facto determina a feminilidade e maternidade inscritas nesse ser humano. Aqui, a maioria esmagadora das feministas não estão de acordo comigo.
Na verdade, a badalada Judith Butler, em El género en disputa, 2001, escreveu isto: «dado que el sexo no se puede considerar una "verdad" interior de disposiciones e identidad, se mostrará que es una significación performativamente realizada y por lo tanto que no "es"». Quer isto dizer o seguinte: quando a parteira Guiomar, Deus a tenha em descanso, me "arrancou" da barriga da minha mãe e logo lhe disse que eu era um menino, na minha constituição intrínseca eu não tinha dispositivos para a minha futura masculinidade. Esta hoje em dia não passa de uma performance, isto é, uma representação. Ora se a minha masculinidade é representada, ela não existe. O mesmo se diga da feminilidade.
No meio disto tudo, em The Transexual Empire, 1979, da Janice Raymond, encontro algo curioso, vale dizer, a ideia de que a passagem do «homem a mulher fabricada» (transexualidade) surge do desejo de assumir, ao menos simbolicamente, a capacidade feminina para a reprodução. Porém, "a capacidade feminina para a reprodução" não é outra coisa senão a maternidade. Então agora já vale o determinismo biológico para dizer que no fundo de todo o homem há uma mulher e justificar a transexualidade?
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