31 março 2012

Tremenda contradição

Depois que moro na vila, tenho frequentado mais assiduamente a Igreja. Ora eu nasci em Alcochete e cá tenho vivido há 62 anos que é a minha idade. Quero com isto dizer que admito sem custo que boa parte das pessoas que assistem à celebração da missa e recebem os sacramentos votam comunista e socialista.
-Ó Marafuga, não te metas nisso! Olha que não é politicamente correcto!
-Meto-me, sim, porque penso que se eu fosse politicamente correcto seria um criminoso.
-E não tens medo?
-Tenho medo de quem me pergunta se tenho medo.
Vamos à vaca fria. A base dos partidos comunistas e socialistas é o marxismo, uma ideologia ateia. Mas o marxismo não é só ateu. Com efeito, há muitos ateus que negam Deus, mas mantêm o sentimento religioso. O marxismo, além de negador de Deus, quer destruir no ser humano o sentimento religioso. Mas se tu cortas a religação (religião pertence ao tema desta palavra) entre ti e Algo maior do que tu por cima de ti, destróis o teu próprio intelecto, ou seja, destróis-te a ti próprio.
Em toda esta conformidade, a minha pergunta é a seguinte: como um cristão e católico pode afirmar Deus por um lado e, por outro, fazer coisas, quais sejam dar o voto a comunistas e socialistas, que levam ao desaparecimento da ideia de Deus?
Essas pessoas, com ou sem consciência sobre a matéria em foco, vivem objectivamente em tremenda contradição, o que as precipita numa psicopatologia destruidora do pneuma, isto é, da vida espiritual. E não é isto o que se pretende?

30 março 2012

A procissão do Senhor dos Passos

Acabo de integrar a procissão do Senhor dos Passos (lat. passu de patior, sofrer).
O que é uma procissão? É uma manifestação pública da Fé...muito importante quando o marxismo cultural de que somos vítimas pretende remeter Deus para dentro das igrejas e da consciência de cada um.
Remeter Deus para dentro das igrejas é amputar Deus, quer isto exactamente dizer, amputar o homem; remeter Deus para a consciência de cada um tem por efeito cada um "ter" o seu deus, o que significa matar Deus, logo matar o homem.
Nada mais derrama o poder instituído que "ver" pessoas na rua, muitas com uma vela na mão, rezando e cantando em uníssono cânticos religiosos. Isto está contra todos aqueles projectos muito bem intencionados que o poder tem para o povo sem que esse mesmo povo pedisse e fosse consultado relativamente a qualquer deles.
Desculpa lá, mas quase apostaria que tu que me estás a ler não vês bem esse filme de uma simples procissão de aldeia ser importante para desconfortabilizar projectos nefandos como o abortista (em nome da saúde pública), o "casamento" de dois homens ou duas mulheres e a adopção por esses "casais" (em nome da igualdade de direitos), etc., etc., etc.
Bom, não esqueças que por todo o País houve milhares de procissões como aquela que se realizou hoje em Alcochete. Aqui, um grupo de umas 100 pessoas, eu estava lá, rezavam ao mesmo Deus por cima das cabeças delas. Este Deus é o Deus da Verdade, quero dizer, da Moral que a todos nos faz ver que vivemos sob uma legislação abusiva, toda ela uma estrutura de pecado.

29 março 2012

Três perguntas em uma

Confesso-vos, amigos, às vezes entro na esfera da dúvida e interrogo-me sobre mim mesmo. É que não sei se Deus me dotou de alguma inteligência ou esteve no plano d'Ele que eu não passasse de um burro à face deste mundo.
Porque - dou comigo a pensar - sendo feito da mesma massa que todos, não consigo compreender como eu seria capaz de dar a vida por princípios que outros - parece - desprezam.
As três perguntas em uma, inseparáveis entre si, são estas: como há gente que não compreende que o ataque ao Cristianismo, à Tradição, à cultura de raiz popular, à família, à propriedade privada, aos direitos individuais, à economia de mercado...nos leva à escravidão e animalização? Como há gente que não compreende que o ambientalismo, o feminismo, o abortismo, o homossexualismo, o transexualismo...nos leva à escravidão e animalização? Será possível atacar o Cristianismo, a Tradição, a cultura de raiz popular, a família, a propriedade privada, os direitos individuais, a economia de mercado...e defender o ambientalismo, o feminismo, o abortismo, o homossexualismo, o transexualismo...mantendo a nossa liberdade, coesão e segurança?
Talvez um das minhas largas dezenas de leitores tivesse a coragem de me fazer a tão simples como inteligentíssima pergunta: ó Marafuga, mas o que é que queres que eu faça? Eh pá, integra uma procissão, vai a uma corrida de toiros, fica atento ao que ensinam ao teu filho na escola, encarna o sentido da propriedade mesmo que só tenhas uma carroça e um burro, não deixes que ponham o pezinho sobre o que é teu, convence-te que o ambiente é o maior negócio do séc. XXI, que toda essa legislação saída na linha do feminismo, aborto, gayzismo, etc., se fosse verdadeiramente para o bem e liberdade das pessoas, jamais sairia cá para fora...Caramba, eu até fui à Universidade, mas não seria preciso para perceber isto. Para isto, eu, que lá fui, digo-te, até convém não ir lá.

28 março 2012

Mulher

Volta a face, mulher, levanta as mãos,
Respira fundo, grita forte e alto,
Que o mundo inteiro oiça, dá o salto,
Sê sujeito de novos trilhos sãos.

Esposa, mãe, irmã de rosto ao vento,
Assim te quero ver, mulher-pessoa
Que o desmando do tempo hoje perdoa
Para enfim mitigar o sofrimento.

No corpo teu que miro o duplo espreita
Invisível somente a homem duro
Que da vida o mistério não respeita.

Mulher, poder brutal o denuncia
De homem desencontrado de si próprio
Por viver em contínua hipocrisia.

Autor do soneto: João Marafuga

Mídia Sem Máscara - Onipresente e invisível

Mídia Sem Máscara - Onipresente e invisível

Em toda a minha inteireza de homem, eu penso que o que diz Olavo de Carvalho é a verdade. E confesso que é doloroso para mim admitir haver pessoas que não vejam essa verdade nas palavras de Olavo de Carvalho. Será que Deus, mais uma vez, se vai compadecer de todos nós? EU TENHO QUE ACREDITAR QUE SIM.

27 março 2012

A recusa do recebido

Se abandono a memória rumorosa,
Meu presente será bateira solta,
Leme perdido, bailarina louca,
Sozinha sobre vaga tormentosa.

O presente o passado incluirá
P'ra amanhã se viver de confiança.
Sem mala de viagem quem avança
Por caminho que a sítio longe irá?

A tradição-renovação o dado
Certo contra Babel do nosso tempo
Há muito em confusão assaz virado.

Se rebelde recuso o recebido,
Comunicar jamais será lugar
De encontro com irmão reconhecido.

Autor do soneto: João Marafuga

O paradigma dominante em ciência...

O paradigma dominante em ciência assenta na separação sujeito/objecto. Este dualismo, há séculos ensinado nas escolas, é responsável pela nossa visão do mundo aos pares. Mas até o calhau, como sabe qualquer geólogo, simultaneamente recebe e emite informação, logo é simultaneamente sujeito e objecto.
Se eu com o outro, com o tecto da minha cabeça e o chão dos meus pés me posicionar numa envolvência unitiva, anulo a separação sujeito/objecto (observador/observado) e instauro uma nova racionalidade que traz o fim de um mundo e o princípio de outro.
E no que consiste essa nova racionalidade? Consiste em fazer cruzar a minha subjectividade com tudo o que me é exterior. Aqui não pode haver discriminação de raça, classe, sexo, etc. É isto que poderá ser feito para, pelo menos, relativizar o método cartesiano em ciência e elevar o sinal da Cruz de Cristo que é o sinal da Vida desde toda a Eternidade: união pelo amor do Sujeito Supremo com a multiplicidade das coisas que d'Ele saem e n'Ele estão.
A Cruz de Cristo, imagem visível do Deus Uno e Trino, é porta para o Amor e também chave metodológica para a compreensão científica do Universo. Bastaria que voltássemos costas à árvore da ciência do bem e do mal a favor da árvore da Vida.

25 março 2012

A categoria de género (9)

Do nome género reclama-se a Biologia, a Gramática, as Artes Plásticas, a Lógica, a Literatura, etc., etc., etc.
Género é então uma palavra homónima que tem pronúncia e grafia iguais às de outra, mas sentido diferente. (ex.: canto 'da sala' e canto 'do rouxinol').
Nesta conformidade eu pergunto: o "género" como conceito que se pretende científico dos Gender Studies não se prestará a equívocos a que forçosamente a linguagem o levará? É evidente que sim porque «na linguagem existem nomes que, sendo os mesmos e, portanto, não diferenciáveis ao nível linguístico, se referem a coisas diversas» (António Monteiro:2002).
Um conceito científico tem como verdadeiro objecto a estrutura do real, servindo-se para isso da linguagem, mas também evadindo-se desta mediadora. Ora eu receio que o género das feministas se fique pelas coisas que se dizem, a mirar as coisas que existem.
Nesta conformidade, eu penso que a categoria de sexo nos ajudaria a frear a estrutura da linguagem porque assim seria mais fácil dar a definição do referido (o concreto) sem as ambiguidades do referente (a representação).
Qualquer pessoa atenta vê que me tenho estado a basear em Aristóteles, mas Kant, filósofo que detesto, diz isto sobre o imperatico categórico: «age segundo máximas que possam ao mesmo tempo ter-se a si mesmas por objecto como leis universais da natureza». Será que o filósofo iluminista me desse razão quando defendo a categoria feminista de sexo em desfavor da de género?
Mas a categoria de sexo acabará por prestar os mesmos serviços às mulheres que a de género se não se voltar contra o poder patriarcal, omnipresente e verdadeiro flagelo das mulheres e de todos aqueles homens que recusam poisar as cardas sobre os semelhantes.

24 março 2012

A categoria de género (8)

Mas afinal, a categoria de género é um títere e o grande titereiro é o poder patriarcal. Se eu tenho alguma razão, estamos perante o espectáculo. Isto é tanto mais grave quanto me parece que só o espectáculo é real. Mas o que é o real?
O real é o que faz o pensamento. Se são os homens os que fazem o pensamento das mulheres, estamos perante a ausência de pensamento a favor do domínio deles sobre elas.
As mulheres têm que ser sujeitos dos próprios guiões tal como os homens são sujeitos dos guiões deles. Não há mal que os homens sejam sujeitos dos guiões deles. Não podem é impedir que as mulheres reivindiquem ser sujeitos do próprio destino.
Para que o destino de homens e mulheres se oriente à liberdade, homens e mulheres têm que se encarar como pessoas, palavra arredada do discurso feminista.
Por exemplo, se ao longo destes textos eu tenho dado algumas provas de autoridade, as pessoas reconhecem essa autoridade. Na verdade, o homem de autoridade é o homem inteiro, nunca o meio homem.
Por outro lado, ninguém poderá aproveitar a capacidade de amor de uma mulher para exercer domínio sobre ela. Esta é uma das mais recentes estratégias do poder patriarcal que é um espectáculo de homúnculos.

23 março 2012

A categoria de género (7)

Em Giddens, Anthony, Sociologia, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2000, poderemos ver que género «...diz respeito às diferenças culturais entre homens e mulheres». Eis por que as feministas tentam por todos os meios esbater essas diferenças, desestabilizando o género.
Se assim é, como perceber a expressão "igualdade de género" utilizada mil vezes pela Câmara de Alcochete? Aparentemente, estamos perante uma contradição porque não se perceberia que as feministas desestabilizem o género e a Câmara o pretenda igualar.
Bom, a Câmara não está a incorrer em erro. Mas já tenho sérias dúvidas que alguém lá seja capaz de explicar à população o que é macaqueado a partir de tenebrosos centros ideológicos. Eu sei o que estou a dizer e por que o estou a dizer.
As feministas opõem-se tenazmente que haja um modo de educar meninos e outro de educar meninas; que as roupinhas dos meninos sejam diferentes das roupinhas das meninas; que os brinquedos para meninos sejam diferentes dos brinquedos para meninas, etc. Nesta conformidade, as feministas não só são adeptas da destruição do binarismo como também são adeptas da igualdade de valor para cada género, no fundo, para cada sexo. (Diga-se, de passagem, que a categoria de sexo ganharia em muitos pontos à de género, o que poderá ser assunto de outro texto).
Ora, por exemplo, o trabalho é um valor. Não querem as feministas que haja trabalhos só para homens e outros só para mulheres. Aqui eu estou de acordo, percebendo-se agora o que significa igualdade de género. O problema é que esta Câmara que ainda temos desmancha-se a sí própria. Então vejamos: dantes as mulheres só varriam em privado, quero dizer, só varriam a casa delas; agora, como promoção, foi-lhes cedido, para varrer, o espaço público...onde já não se vê homens.
As feministas podem desestabilizar o género, o que não quer dizer, forçosamente, que desapareça o poder patriarcal. Este organiza os espaços e está por cima dos sistemas de género.

21 março 2012

A categoria de género (6)

Quando consultamos textos de várias feministas dos últimos 30 ou 40 anos, o que vemos com frequência são tremendas contradições.
Pelos estudos que eu próprio fiz na Universidade Aberta em Estudos sobre as Mulheres (Women Studies), apercebi-me perfeitamente que as feministas em geral execravam a maternidade porque esta é uma gigantesca dificuldade que se levanta na luta que as intelectuais feministas mantêm contra o determinismo biológico.
Por exemplo, se um ser humano nasce com uma vagina, para mim tal facto determina a feminilidade e maternidade inscritas nesse ser humano. Aqui, a maioria esmagadora das feministas não estão de acordo comigo.
Na verdade, a badalada Judith Butler, em El género en disputa, 2001, escreveu isto: «dado que el sexo no se puede considerar una "verdad" interior de disposiciones e identidad, se mostrará que es una significación performativamente realizada y por lo tanto que no "es"». Quer isto dizer o seguinte: quando a parteira Guiomar, Deus a tenha em descanso, me "arrancou" da barriga da minha mãe e logo lhe disse que eu era um menino, na minha constituição intrínseca eu não tinha dispositivos para a minha futura masculinidade. Esta hoje em dia não passa de uma performance, isto é, uma representação. Ora se a minha masculinidade é representada, ela não existe. O mesmo se diga da feminilidade.
No meio disto tudo, em The Transexual Empire, 1979, da Janice Raymond, encontro algo curioso, vale dizer, a ideia de que a passagem do «homem a mulher fabricada» (transexualidade) surge do desejo de assumir, ao menos simbolicamente, a capacidade feminina para a reprodução. Porém, "a capacidade feminina para a reprodução" não é outra coisa senão a maternidade. Então agora já vale o determinismo biológico para dizer que no fundo de todo o homem há uma mulher e justificar a transexualidade?

20 março 2012

A categoria de género (5)

Para não poucas feministas, dos anos 70 para cá, o facto de eu ter nascido com um pénis, dado da natureza, não me condena a ser varão. Eu fui genderizado (do inglês gender, género), isto é, o Marafuga é o que é porque factores sócioculturais o fizeram assim. Não tive escolha.
Se não fosse o grilhão da cultura, o Marafuga escolheria a orientação sexual que quisesse e construí-la-ia. Mas se o Marafuga até fosse muito inteligente e corajoso, desconstruiria o recebido da cultura e, por exemplo, viraria transexual.
E se eu mudasse de sexo e substituísse o pénis pela vagina, será que passaria a ser mulher ou continuaria sempre transexual? Alguém tem palpites?
Para mim, cristão convicto, a ideologia de género é uma estrutura de pecado das mais perigosas ou mesmo a mais perigosa deste nosso tempo conturbado. Esta loucura humana está a passar paulatinamente para a legislação e a recair, através do sistema de ensino, sobre os nossos filhos e netos.
Pais e avós que se cuidem.

A categoria de género (4)

Perguntei à minha mulher assim à queima-roupa:
-És mulher?
Ela abriu os olhos pequenos ficando quase ridícula.
-Sou!
-Por que afirmas que és mulher?
-Porque em tudo sou o contrário de ti!
-Os nossos narizes não são iguais?
Ela começava a perder a paciência.
-Mas cheira diferente de ti!
Num texto clássico do feminismo, Vindicación de los derechos de la mujer, Mary Wollstonecraft escreveu isto: «obtener el carácter de un ser humano sin tener en cuenta la distinción de sexo» (pág. 103).
Sem dúvida que o domínio sexual dos homens sobre as mulheres anula na humanidade o humano. Poderia ter parecido que a categoria de género viesse para aliviar as mulheres, mas afinal a dita categoria veio piorar o que era muito mau.
Para mim, a ideologia de género é um socialismo feminista de extermínio, mais devastador que os próprios totalitarismos do séc. XX. De facto, na ideologia de género cabem aborto, homossexualismo e tantos outros -ismos, "casamento" entre dois homens ou duas mulheres, etc. Isto não é extermínio?
As feministas destes nossos dias estão a abandonar a categoria de género e a regressar à de sexo, isto é, aparentemente, estão a regressar ao ponto de partida. É isto que vejo quando leio Tubert, Silvia, Del sexo al género. Los Equívocos de un concepto, Cátedra, Madrid, 2011.
Assim, o que diz Wollstonecraft em 1792 relativamente à defesa dos direitos da mulher ainda hoje mantém toda a pertinência.

19 março 2012

A categoria de género (3)

Meus amigos, voltemos à vaca fria. Isto tem que ser enquanto eu viver.
Aquela gente da Câmara de Alcochete, quando fala em igualdade de género, o que está a dizer no fundo? Sabeis mesmo?
Vamos fazer um exercício: substituamos "género" por "direitos das mulheres". Então a expressão ficaria assim: igualdade de direitos das mulheres.
Mas uma coisa que é igual só o é em relação a outra coisa. Portanto, quando as mulheres reclamam igualdade de direitos, reclamam para elas os mesmos direitos que os homens têm. Ora é aqui que se levanta a grande contradição, deveras abjecta. Na verdade, o alicerce de todo o Direito é patriarcal. E não é contra a sociedade patriarcal que está o feminismo? Aqui há marosca.
As mulheres o que tinham que fazer era lutar pela despatriarcalização e/ou desfalocentralização do Direito. Isto não acontece por que razão? Porque despatriarcalizar e/ou desfalocentralizar o Direito é que seria a verdadeira revolução que daria liberdade às mulheres...mas não é isto que interessa às esquerdas. A estas interessa escravizar até à animalização total.
(-Ó Marafuga, aquela gente percebe-te?/-Eh pá, eu cá arrisco!).

18 março 2012

A categoria de género (2)

É curioso constatar como, aparentemente, não há superintendência dos intelectuais de esquerda sobre o que as câmaras debitam nos órgãos de comunicação regionais relativo a uma "jóia" operatória de tanta importância para o movimento de esquerda à escala mundial como é a de género.
Quando aquela gente da Câmara de Alcochete fala em violência de género, dar-se-á conta de que, na perspectiva feminista, elimina a potencialidade analítica da categoria só para mandar alguma areia para os olhos dos eleitores?
Por que em vez de violência de género não falam em violência dos homens sobre as mulheres? Será porque a violência dos homens sobre as mulheres, sendo facto transversal a todas as classes, tanto mais cresce quanto mais vai descendo nos estratos sociais? (Dias, Isabel. Exclusão social e violência doméstica, que relação? Comunicação apresentada no I Congresso português de Sociologia económica, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1998). Ora é, sobretudo, nos estratos sociais mais baixos que está a base de apoio de um partido político como o Partido Comunista Português. Eis-nos, outra vez, perante o politicamente correcto porque a denúncia da dominação masculina poderia prejudicar, eleitoralmente, o Partido.
Mas, ó Marafuga, estás a prevenir esta gente da Câmara ou o que é que tu estás a fazer?
Eu estou a querer dizer às pessoas que para a consecução da revolução vale tudo, inclusive a grande falta de respeito por parte das esquerdas por aquilo que lhes pertence, isto é, pela panóplia de instrumentos conceptuais próprios dessas mesmas esquerdas.

A categoria de género

Aparentemente, eu poderia não me ralar nada com esta problemática porque a análise das referências que a Câmara de Alcochete tem feito ao conceito de género revela confusão. Na verdade, essa gente que debita frases sobre género, julga que esta palavra substitui sexo, transformando-a num mero eufemismo politicamente mais correcto.
Essa gente da Câmara não sabe que está a dar um tiro nos próprios pés.
Se é como digo (podem crer que é), pensará o desprevenido leitor que eu poderia largar da mão essa gente porque sucumbiria por si própria. Enganas-te, amigo. Ao serviço da revolução está tudo, inclusive a própria confusão mental. Essa gente alaga as margens, mas os milhafres que estão por trás nunca permitirão que haja inundações que lhes prejudiquem a causa.
Bom, por agora digamos que o conceito de género (eu tenho medo deste conceito), introduzido na teorização feminista nos anos 70, com especial relevância nos países anglossaxónicos, berços da liberdade, define-se fundamentalmente por sua oposição a sexo. Assim, o conceito de género, apareceria para "revelar" que a diferença entre sexos é uma construção sócio-cultural.
Se é verdade o que dizem as feministas, o ser humano nasce sexualmente neutro. A sociedade e a cultura é que vão dizer: tu és varão e tu és mulher. Uma vez que a sociedade ocidental é de raiz patriarcal, héureka, aí está o género para estabelecer quem tem poder sobre quem. E pronto, a autoridade do varão é atacada pelos alicerces. Para quê? Dir-te-ei num dos próximos textos, se entretanto o meu passo não for atalhado.
Tu, caro leitor, cai em ti e pensa por tua própria cabeça.

16 março 2012

Direitos Humanos (2)

Os meus amigos saberão por que razão a direita não encarna na forma de uma estrutura política? (Quando aqui falo em estrutura política, refiro-me a um corpus ideológico-partidário para a conquista do Estado).
A direita não encarna na forma de uma estrurura política porque se transformaria na sua própria negação. Desde quando é que o Estado é arauto da defesa dos direitos individuais? Não só não é arauto como tende a restringir esses mesmos direitos individuais.
Mas os meus amigos quererão que eu dê exemplos de direitos individuias. Ei-los aí: direito à vida, à liberdade, à propriedade e à busca da própria felicidade. Estes direitos, pergunto eu, são defendidos pelas esquerdas? Não. O que as esquerdas defendem são os direitos humanos, esquecendo essas esquerdas que quando as necessidades recebem direitos, se violam os direitos que permitem a criação de riqueza para satisfazer as necessidades.
Em nome dos direitos humanos, cada vez mais infiltrados por todas as constituições, o mundo enfrenta a continuidade da pobreza e o sério risco do totalitarismo.

15 março 2012

Igualdade?

Vou tentar falar contigo, mas devo confessar-te que estou fatigado. Estes problemas arrasam-me intelectualmente, sentindo-me tentado a largar tudo da mão. Este estado de espírito investe contra mim frequentemente, desejando tantas vezes, como D. Quixote, meter-me dentro da jaula e deixar que os outros energúmenos me levem.
Vem tudo isto a propósito do famigerado projecto da Câmara Municipal que recebe o nome de Igualar em Alcochete. Mas o que esta gente da Câmara está a cozinhar para nós com o nosso próprio dinheiro e aquiescência? "Para nós" é como quem diz porque a odiosa tramóia é para os nossos filhos e netos.
Esta gente fala em igualdade de género, mas não explica ao povo o que, na realidade, esta porcaria é.
Ouve, meu amigo, neste momento eu só sinto forças para te falar na problemática da igualdade, uma das grandes palavras de ordem que vem da Revolução Francesa (égalité).
A igualdade é monopólio dos socialismos. Tu, meu amigo, sim, tu que me estás a ler, já percebeste que quando falo de socialismos refiro-me a todas as esquerdas. (Estas são muito mais do que aquilo que te querem fazer crer, mas isso não é conversa que seja chamada aqui e agora).
As esquerdas são revolucionárias e visam só e apenas instaurar o poder revolucionário. Mas este o que é? É o domínio do homem sobre o homem. Ouve, meu amigo: na perspectiva revolucionária, se eu tenho uma pistola e tu tens outra, para eu ter poder sobre ti não vou ao mercado comprar mais uma pistola, mas sim o que faço é afanar-me a tirar-te a pistola que tu tens.
Enquanto que é mais rico quem mais bens acumula porque a riqueza debruça-se sobre coisas, o poder revolucionário debruça-se e cresce sobre si próprio, neutralizando os meios de acção de todos à sua volta.
Verifica-se então que a génese do poder revolucionário assenta numa tremenda desigualdade porque pela estrutura que lhe é mais intrínseca esse poder não tolera outro que lhe faça frente. Ora, bom leitor e amigo, já estás a ver a grande pergunta que eu vou colocar: como é que o poder revolucionário que se alimenta de prometer a igualdade pode instaurar esta entre os povos se o ponto de partida desse poder nega essa mesma igualdade?
Sinto, meu amigo, que desta vez a minha expressão não ficou ao nível da minha ideia, mas também sei que me percebeste perfeitamente.

14 março 2012

Direitos Humanos

Desde há vários anos, muitas vezes ao longo da existência deste blog, venho escrevendo e tornando público que o politicamente correcto é crime. Inclino-me mesmo cada vez mais a pensar que o politicamente correcto é o maior crime do Ocidente.
Mas o que é o politicamente correcto? Eu respondo: é um simulacro de justiça.
Para ilustrar o que digo, vejamos parte do artigo 25º dos Direitos Humanos (Human Rights): «Toda a pessoa tem direito a um nível de vida adequado que lhe assegure, assim como a toda a sua família, a saúde, o bem estar e, essencialmente, a alimentação, o vestuário, a moradia, a assistência médica e os serviços sociais necessários...».
A minha pergunta imediata é a seguinte: quem paga tudo isto? Respondo: O Estado. Mas este não dispõe de recursos próprios, razão por que usa poderes coercitivos para arrancar os referidos recursos dos pagadores de impostos, cada vez mais sobrecarregados e impossibilitados de utilizar o que lhes pertence da forma que melhor entendem. Mas é precisamente aqui que eu não vejo articulação, ou por outra, vejo contradição entre o artigo 25º supra referido e o 17º que reza assim no seu nº 1: «Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade». E acrescenta no nº 2 do mesmo artigo: «Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade».
Em conclusão, os chamados Direitos Humanos são um instrumento de poderosos interesses globalistas, cuja face mais visível é a ONU, a favor do Estado socialista e contra os direitos individuais.
Na verdade, os Direitos Humanos não podem forçar quem trabalha e investe a garantir esses mesmos direitos. Por exemplo, na perspectiva do mandamento bíblico, o meu direito à vida não exige que os outros me sustentem para que eu me mantenha vivo, mas tão só que se abstenham de me matar.

Pensando e Escrevendo...

...o sentido escatológico da vida busca-se percebendo a dialéctica da natureza...a fenomenologia cristã não é a síntese criativa que definitivamente nos faz compreender a Totalidade...a pesquisa e o caminho para a compreensão do Absoluto traduz-se num contínuo processo histórico de superação das incessantes contradições que o Homem vai enfrentando, usando para o efeito os instrumentos que tem ao dispor: a Ciência e a Tecnologia. A busca do Conhecimento é imanente à condição e idiossincrasia humana, a roda da História não pára...então, se para os católicos, o cristianismo possibilita a percepção do Universo; para alguns materialistas, o materialismo dialéctico é a concepção histórico-filosófica que os inspira para a inteligibilidade da Origem, do Devir e do Fim...entre ambos existe contudo uma abissal e intransponível diferença: enquanto os católicos manipulam a Religião e o Sagrado, conceitos imutáveis no Tempo, nos quais a Modernidade dificilmente encontra acolhimento; os materialistas apostam no Conhecimento, na Ciência e na Tecnologia para paulatinamente irem superando as dificuldades e contradições que se colocam na apreensão dos fenómenos do Macrocosmos e do Microcosmos...em suma, a Religião explica o presente e o futuro pelo passado; a Ciência introduz  a ambição de alcançar o futuro pelas dúvidas do presente...as clivagens conceptuais são evidentes embora, muitas vezes, as roupagens filosóficas com que se pretende  interpretar as "coisas" tudo baralhe...deixo apenas uma singela interrogação: afinal quem tem Razão?...

13 março 2012

Lemos nos Evangelhos que...

Lemos nos Evangelhoa que quando Jesus Cristo foi preso, Ele, o Inocente, optou pelo silêncio tanto no Sinédrio como perante Pilatos. Porquê? Porque se tratava de dois mundos em confronto que nada tinham a dizer um ao outro. Roma era a decadência versus a ascensão do Cristianismo.
Mas quem lê os Evangelhos? Não poucas pessoas nem sabem do que estou a falar. Eis também por que razão cada vez somos menos livres. Mas continuemos com o nosso discurso.
Jesus Cristo aí está para ser imitado, quero dizer, para nosso exemplo. Ele é o meu exemplo, qual travão aos meus erros para que estes não virem em estrutura de pecado.
Enretanto, já o leitor pergunta: onde é que queres chegar?
Quero chegar ao ponto de que não vale a pena estar aqui neste blog a debater com marxistas culturais, isto é, com pessoas do politicamente correcto porque pertencemos a mundos antagónicos. Tudo o que essas pessoas me pudessem dizer e eu a elas redundaria em esterilidade.
Nos Evangelhos só Cristo aparece a falar com o Diabo, isto é, o Mal...mas eu não sou Cristo porque Este, Senhor pela Criação, é só UM desde toda a Eternidade.
Não me percebes? Com mil pedidos de desculpa, eu não tenho culpa nenhuma.

12 março 2012

Sou cristão e católico

Ser cristão e católico que é aquilo que eu sou significa respeitar o outro. De facto não se pode amar Deus e odiar o próximo.
Ora é aqui que começa a confusão de muitas pessoas porque pensam que ser cristão a sério é andar com o outro às costas.
Andar com o outro às costas é a negação de todo o Cristianismo porque esta religião surgiu exactamente para que o homem deixasse de ser animal de tiro.
Sou um cristão e católico que não estou de bem com todos. Está de bem com todos quem não é ninguém.
Como posso estar de bem e tomar café com quem defende a criminosa ideologia de género, o extermínio dos mais fracos, o "casamento" entre dois homens ou duas mulheres?... Então eu posso estar de bem com o mal?
Sou um cristão e católico do século XXI que nem sequer estou de acordo com todas as directrizes emanadas de Roma. Na verdade, que diz Bento XVI, por exemplo, relativamente ao ambientalismo ou à crescente islamização da Europa? Tanto quanto tenho apurado...quase nada.
Valeu alguma coisa a Ostpolitik do Vaticano? Será que a paz se faça negociando com os inimigos da paz? O alívio de várias comunidades cristãs sob ferozes ditaduras, sobretudo comunistas, foi obtido à custa do enfraquecimento da Civilização Ocidental.
Foi obra de Willy Brandt a famigerada Ostpolitik. Esta forçou-o a demitir-se humilhantemente em 1974 depois de se ter descoberto um espião da Alemanha do Leste no seu próprio Governo. Eis no que em política dão as Ostpolitiks de quaisquer planos.

Reorganização Administrativa Territorial Autárquica : Considerações e Perspectivas


O Poder Local num País em Mudança


Reorganização Administrativa Territorial Autárquica : Considerações e Perspectivas

Na sequência do Documento Verde da Reforma do Poder Local, cuja discussão pública se iniciou no decurso do último trimestre do ano transacto, foi recentemente aprovada, em Conselho de Ministros, a Proposta de Lei nº 44/XII relativa à Reorganização Administrativa Territorial Autárquica. Este diploma segue o seu normal percurso legislativo de acordo com um calendário previamente definido, devendo ser publicado em meados do corrente ano por forma a estar em vigor já em 2013.
Neste contexto, tudo indica que irá descer de novo às Assembleias Municipais e, por conseguinte, ainda irá fazer correr “muita tinta” antes de ser posto em execução. Nomeadamente nos Municípios onde vão ocorrer agregação de Freguesias e, eventualmente, de Concelhos.
Assim, perante a importãncia do tema, regresso de novo a ele nas páginas do “Alcaxete”, um veículo de comunicação que paulatinamente vem assumindo cada vez maior protagonismo e influência na defesa da “vida pública” no Concelho. No entanto, vou apenas cingir-me sobre alguns dos seus tópicos embora o mesmo justifique uma abordagem muito mais detalhada para a qual o espaço é aqui diminuto.


A reorganização administrativa do território reveste-se de especial significado face aos ganhos de eficiência e de escala resultantes da racionalização do número de Freguesias. Decrescem encargos e reduz-se a despesa pública.
Nesse sentido, assume relevância a agregação de Freguesias nas grandes cidades e nos demais Municípios de nível I, onde muita gente certamente nem se vai aperceber que ela irá acontecer. Como, de resto, se viu em Lisboa onde o processo decorreu com o sucesso que se conhece.
Para as novas Freguesias “um mundo novo” se abre. Porque, com a presente reforma, ficam mais protegidas relativamente ao seu passado e, a partir de agora, dotadas de uma maior autonomia administrativa e financeira. Com mais recursos disponíveis, com maior capacidade de intervenção e competências próprias mais extensas (as quais podem até abranger a possibilidade de licenciar actividades económicas).
Também se prevê, inclusivé, que seja constituído um novo orgão, denominado “Conselho de Freguesia”, o qual se destina a funcionar junto das novas Assembleias de Freguesias e cuja função base será a de desenvolver actividades de cidadania e de proximidade junto das comunidades agregadas. Gratuitamente, sem qualquer retribuição e sem o pagamento de senhas de presença aos seus membros. Inegavelmente uma grande inovação face ao figurino que caracteriza as Freguesias actuais.
De dizer também que está prevista, no diploma acima citado, a majoração de 15% do Fundo de Participação das Freguesias, a atribuir até ao final do mandato aquelas que voluntariamente se queiram agregar. Neste processo de fusão, ficam salvaguardados, como é evidente, os serviços públicos prestados à população, a coesão territorial e a identidade histórica, cultural e social das comunidades locais. Não será como demagogicamente muitos por aí vão dizendo.
Relativamente a Alcochete, importa realçar a importãncia e o alcance da norma contida no artigo 15º do projecto em apreço. Torna-se agora possível equacionar, ao abrigo da Lei, a redefinição da circunscrição territorial do Concelho e respectivas Freguesias.
Atente-se no caso da Freguesia de Alcochete. Esta possui 92% do território do Concelho e as duas restantes apenas cerca de 4% cada. Não se verifica aqui um claro fenómeno de subalternização que poderia ser ultrapassado?...
Por outro lado, já nestas páginas muito se escreveu sobre as desconformidades dos limites territoriais dos lugares urbanos do Samouco e Fonte da Senhora, cujos aglomerados se encontram “cortados ao meio” por uma divisória administrativa que não faz sentido algum. Que leva, por exemplo, no caso do Samouco, a que uma parte do lugar urbano esteja servida por rede de saneamento e a outra não a tenha.
A linha de contiguidade que separa os concelhos de Alcochete e Montijo, dividindo os aglomerados de Samouco e Fonte da Senhora, está manifestamente errada. Que é preciso dizer mais para que a regularização dos limites destes dois lugares urbanos comece a ser pensada e devidamente ponderada?...
Com este diploma surge assim uma oportunidade para levar avante tal tarefa. Uma decisiva janela de oportunidade para aproveitar tão importante ocasião. A fim de promover um processo de reforma no perímetro territorial em ambos os Concelhos.
Aos autarcas do Concelho de Alcochete peço apenas que ouçam as populações do Samouco e da Fonte da Senhora. E que o diálogo com os seus homólogos do Concelho vizinho do Montijo se possa realizar.
Oxalá que a “razão prevaleça sobre a posição partidária”...


Uma outra reflexão é pertinente trazer aqui à colação no âmbito da reforma do Poder Local. Que tem a ver com o reforço da Democracia Local.
De acordo com a arquitectura político-constitucional vigente, o Governo da República, os Governos Regionais e os executivos das Juntas de Freguesia emergem das Assembleias que se formam após as respectivas eleições. Por seu turno, os executivos das Câmaras Municipais, situados num patamar intermédio da Administração Pública, são eleitos directamente em listas próprias apresentadas a sufrágio. Ora, este duplo modelo de constituição de executivos na esfera do Poder Local faz pouco sentido hoje em dia. Até porque, a formação de vereações com constituição plural conduz, em muitos casos, a desnecessários impasses na área da acção governativa. Pela sua própria natureza, os executivos são para trabalhar e não para dirimir querelas políticas, muitas delas estéreis. Por isso, a instituição de executivos homogéneos, saídos dos eleitos para as Assembleias Municipais, afigura-se como a melhor solução para a liderança nas Câmaras. Onde, no cumprimento das normais actividades, “se deve falar a uma só voz”.
Contudo, o controlo democrático, a pluralidade e a representatividade política devem continuar sediados nas Assembleia Municipais, ficando o debate e discussão política reservada aos fóruns de intervenção deste orgão. Cabendo-lhe ainda a missão de escrutinar e acompanhar o desempenho dos executivos.
De resto, se observarmos com atenção a nossa realidade local, vemos bem que a oposição, presente na vereação, em minoria, pouca importância tem e a sua influência na acção executiva é praticamente nula. Ao invés, se o conjunto dos vereadores da oposição fosse maioritário poderiam surgir problemas de governabilidade...o que também não é bom.
Em suma, torna-se evidente a necessidade de modificar este “estado de coisas”. A Democracia Local sairá fortalecida com a revisão da Lei Eleitoral Autárquica, também prevista para breve. A alteração ao modelo de eleição dos orgãos autárquicos, a constituição de executivos homogéneos e o reforço de competências das Assembleias Municipais, a par da redução dos autarcas e dirigentes municipais, são os pontos essenciais da mudança que neste domínio se pretende implementar. No fundo, o objectivo é evitar uma excessiva “politização” na acção do executivo, com os consequentes ganhos em estabilidade e eficácia no funcionamento das estruturas municipais.


Uma palavra ainda para a tão indispensável redefinição no modelo de gestão e financiamento do Poder Local.
É notório e evidente que quase todas as autarquias estão a gastar demasiado. No entanto, umas mais que outras. No caso de Alcochete está-se a gastar ou gastou-se exageradamente.
O endividamento é assustador e compromete o futuro de muitas autarquias. Deficiências na acção governativa e opções políticas erradas estão na génese do problema e asfixiam as normais actividades das Câmaras. Se nada fosse feito, muitas passariam a “vegetar” por muitos e bons anos, tão descapitalizadas e sem recursos se encontram. Cortar com o despesismo inútil, racionalizar e dar escala aos serviços constitui uma prioridade, adoptando para o efeito um novo paradigma de gestão que valorize a eficiência e seja capaz de modificar a situação.
Neste momento, está em causa a prestação do serviço público em várias áreas de intervenção dos Municípios e até a própria carreira e estabilidade profissional dos trabalhadores da Administração Local não se encontra garantida, muito por força duma política insustentável de acesso ao emprego público que a maioria das edilidades se habituaram descuidadamente a executar (veja-se, por exemplo, a comparação entre Alcochete e Portalegre, capital de distrito. Portalegre tem igual número de trabalhadores embora muito mais área e habitantes, além de possuir um maior número de aglomerados urbanos dispersos).
Surge assim a necessidade do aprofundamento da legitimidade e de valorização das competências das Comunidades Intermunicipais e das Áreas Metropolitanas na base NUT III (provavelmente o embrião das propaladas Regiões Administrativas). Um novo modelo que se fundamenta numa lógica de renovação das antigas fórmulas de funcionamento das autarquias, susceptível de gerar mais economia de escala e maiores ganhos de produtividade. Tudo na perspectiva de dar esperança e futuro ao Poder Local, hoje em ruptura.
Acresce ainda dizer que, no imediato, em matéria de financiamento, o Governo tenciona implementar a chamada “Lei dos Compromissos”, passando desta forma a impedir que todo o Estado, autarquias incluídas, continue a assumir despesa corrente que não possam liquidar no curto prazo. Havendo, a partir de agora, responsabilidade civil e criminal para os infractores. Impossibilitando o contínuo endividamento com a aquisição de bens e serviços (em Alcochete a dívida a curto prazo atinge já o montante de 5,5 milhões de euros e os pagamentos a alguns fornecedores dilatam-se por mais de um ano. Excluindo a dívida a médio e longo prazo de montante sensivelmente igual).
Encontra-se também em curso a actualização dos valores patrimoniais do edificado urbano, o que vai permitir um substancial acréscimo de receita no IMI a transferir para as Autarquias.
Estas medidas, a par da redução dos encargos salariais em 2012/13, certamente que as vai aliviar do estrangulamento financeiro em que se encontram. Um balão de oxigénio que em Alcochete será muito bem recebido.
Em alguns casos, o descalabro é de tal ordem que já se fala em pedir assistência financeira. Num pedido de resgate financeiro. O que significa o descrédito na gestão e independência financeira do Poder Local. Daí a maior envolvência das Comunidades Intermunicipais, transferindo-se para estas algumas das responsabilidades até agora cometidas ao Poder Local.
Encontra-se prevista ainda a possibilidade dos Municípios, em determinadas circunstâncias, acederem a mais 15% do Fundo de Garantia Municipal durante quatro anos consecutivos, sendo-lhes atribuído igualmente tratamento preferencial no acesso a linhas de crédito e apoio nos domínios da inovação e coesão social. Libertando-os dos constrangimentos actuais e dando-lhes uma maior capacidade financeira. Uma solução que muito pode vir a beneficiar algumas regiões do território nacional...


Por último, importa sublinhar que a Reorganização Territorial, plasmada na citada proposta de Lei nª 44/XII, traduz uma mensagem muito clara quanto à necessidade da adopção de um novo modelo de ordenamento do território e vem num momento crucial face às dificuldades que o País atravessa. Esta reforma e outras igualmente em curso ( Lei do Arrendamento Urbano, Lei Laboral, Lei do Novo Mapa Judiciário, Privatizações, etc) constituem um conjunto de instrumentos com inegável importãncia para a modernização do País. Nada fazer seria altamente lesivo do interesse das populações e dos Municípios.
No caso específico da nossa autarquia, julgo que a força política dominante não se pode sobrepôr aos interesses da Vila de Alcochete e das suas Freguesias. Actuando com a mera preocupação de se perpetuarem no poder, tudo vão rejeitando e hostilizando numa clara manifestação de lamentável autismo. Usando um discurso oficial e uma política de comunicação que afasta interlocutores, não alavanca a economia local nem atrai novos investimentos para o Concelho. Basta uma simples observação para se perceber desde logo que o risco e a iniciativa privada não são bemvindos, o que significa menos desenvolvimento, mais empobrecimento e aumento do desemprego.
Nesta perspectiva, erradicar a política “do mandar abaixo tudo o que vem do governo e da oposição” é uma tarefa que a todos deve mobilizar. Espero, porém, que, pelo menos, exista o bom senso de olhar este diploma como uma oportunidade única para corrigir as assimetrias dos actuais limites territoriais do Concelho e Freguesias.
A Reestruturação do SEL, hoje quase falido, a Reorganização do Território, a Redefinição do Modelo de Gestão Municipal, Intermunicipal e do seu Financiamento e, ainda, o Reforço da Democracia Local são os quatro pilares estratégicos para que uma a verdadeira Reforma do Poder Local seja levada por diante. Assim, para já, em sede de ordenamento territorial, Alcochete deve ponderar realisticamente a oportunidade histórica que este diploma contém.
É que se torna realmente confrangedor ver o Município de Alcochete continuar a evoluir nesta indesejada continuidade, desaproveitando os ventos da mudança ...


João Manuel Pinho

10 março 2012

Foi há tanto tempo!...

Há mais de 30 anos que escrevo em jornais regionais. Tudo começou no princípio da década de 80 em O Distrito de Setúbal, cujo Director era o saudoso Carlos Florival Monteiro que chegou a visitar-me na minha própria casa, incentivando-me a escrever porque, dizia ele, «o Marafuga tem ideias».
Não faço a mínima ideia do número exacto de textos que já publiquei na minha vida, mas seguramente que são muitas centenas, a maior parte sobre Alcochete.
Sempre que sai um texto meu num jornal gosto de o reler, mas passados dois ou três dias rasgo o jornal e meto-o no caixote do lixo. Há quem não pense assim e me mostre dossiês com os meus artigos todos muito ordenadinhos ou me ofereça a colecção completa dos jornais Echo d'Alcochete de que fui Director nos fins dos anos 80.
Há pessoas que acham que eu devia voltar-me para a História Local. Neste sentido, esses bons amigos procuram materiais sobre os nossos maiores e depositam-nos gentilmente nas minhas mãos para que eu os analise, trabalhe e publique; outros acham que era no campo literário que todo o meu afã se devia espraiar. Ninguém me pergunta o que eu quero fazer.
Mas o que é que eu quero fazer?
Eu quero combater o MAL que é o politicamente correcto, o marxismo cultural, os socialismos, o globalismo.

Regresso?

Em primeiro lugar, uma palavra à memória do fundador do blog Praia dos Moinhos, Arnaldo Fonseca Bastos. Com este jornalista, por Alcochete, trabalhei, a sério, perto de uma dezena de anos.
Em abono da verdade (só esta interessa), não vou dizer que o meu relacionamento com Fonseca Bastos tivesse sido um espelho de exemplaridade. Será que em quase dez anos de comunicação diária, falando com ele pessoalmente inúmeras vezes, trocando com ele talvez milhares de e-mails, indo com ele aos mais recônditos locais do Concelho de Alcochete para tomarmos nota e fotografarmos o que haveríamos de denunciar neste blog...eu me comportasse com a verticalidade de um fio de prumo? O espantoso é que Fonseca Bastos nunca perdeu a serenidade comigo e estava sempre disposto a ultrapassar atritos do minuto anterior a cada minuto seguinte.
Aprendi alguma coisa com Fonseca Bastos? É por demais evidente que sim. Ele tinha um faro de verdadeiro jornalista para os factos que estampava através do processo da escrita com grande objectividade. Aqui eu não lhe pedia meças.
O acordo entre Fonseca Bastos e eu próprio, desde a primeira hora, era que ele privilegiasse os factos e eu a parte ideológica que em tudo se oporia ao tenebroso marxismo cultural (ambientalismo, abortismo, feminismo, homossexualismo, etc.). E não foi isto que fizemos?
Muitas aves de rapina que esvoaçavam e ainda esvoaçam por este blog não percebiam, na íntegra, o que eu fazia e ainda continuo a fazer em outros meios de comunicação (não é preciso dizer social porque toda a comunicação é social). Não percebiam nem percebem porquê? Porque também eles são marxistas culturais abjectos...quase todos sem terem consciência disso. Só Deus sabe o desprezo interior que sinto por todos estes ladrões que agora, se aqui me virem, aguçarão as garras imundas para se cevarem na minha carne que é a minha própria escrita.

08 março 2012