31 dezembro 2006

Acabar mal o ano


Confesso que, hoje, pouco depois de acordar, voltei a rogar pragas àquela gente que, com o vosso consentimento, vive muitíssimo melhor a tomar conta da câmara que fora dela.
Abri a torneira da água quente mas a pressão era tão escassa que, pela enésima vez, o esquentador mandou-me pentear macacos.
Para mim é estranho que, em finais de 2006, a 30kms do Terreiro do Paço, volte a ser necessário aquecer água em panelas.
Mais estranho que, há semanas, ninguém se digne explicar o que se passa com a água de consumo público, que jorra das torneiras a uma pressão variável e anormalmente baixa.
Tão reduzida que, em certos períodos do dia, nos terceiros pisos os enquentadores se recusam a trabalhar.

Há demasiado tempo que, sem aviso prévio nem justificação ou um pedido de desculpas, a câmara me fornece água assim, aos bochechos. Mas cobra-me, pontualmente, uma taxa de disponibilidade de serviço.
Começo a ficar farto disto e pergunto se querem manter a exploração da água no domínio público ou se há alguém interessado em arranjar argumentos para outro tipo de negócio.
Não sei se a maioria dos meus concidadãos quer a água pública ou se, como sucede nos demais casos, se marimba nisso e em tudo o que diga respeito à câmara.
Eu quero que a água continue a ser gerida como um bem público. Por isso nunca deixarei de exigir explicações acerca de um problema que muita gente nota e que, desde há tempos, tende a agravar-se.

30 dezembro 2006

Meus e vossos desejos para 2007

Os meus são apenas três, porque se concretizados seria possível depois fazer uma revolução em Alcochete, pelo menos, única forma de salvar o que resta:
1. Cidadãos atentos, interventivos e exigentes, porque cientes do poder surpremo que detêm, sem o que não haverá nem esperança nem razões para optimismo e muito menos melhoria da qualidade de vida;
2. Futuro construído pelos cidadãos, com o seu contributo decisivo e efectivo, sem o que jamais será positivo;
3. Para caminhar em segurança na construção de uma sociedade mais feliz retomar a velha máxima: «O povo é quem mais ordena».

Incluam os vossos desejos na caixa de comentários.

P.S. - Desportivamente falando, a caixa de comentários regista interessante diálogo entre dois alcochetanos.

29 dezembro 2006

Previsões para 2007

Prevejo que no novo ano os alcochetanos terão sobretudo más notícias, tais como a subida progressiva e muito acentuada das taxas de saneamento. Não excluo também uma revisão em alta do preço da água de consumo público.
A "betonização" de solos agrícolas ampliar-se-á significativamente devido ao incremento da construção de habitação (embora haja já centenas de fogos novos sem comprador), o património edificado e os espaços verdes continuarão a degradar-se, a pressão da água nas torneiras diminuirá ainda mais e os esgotos pluviais darão novos problemas.
Aumentará significativamente o número de habitações usadas à venda e diminuirá o valor comercial das adquiridas há menos de uma década, pelo que o património familiar continuará a desvalorizar-se.
Em face do que é voz corrente – embora nenhum órgão de comunicação social ousasse tocar no assunto – o aumento da criminalidade não violenta será notório.

28 dezembro 2006

O melhor do ano

Em Alcochete há muito pouco a assinalar do lado positivo, excepto a conclusão do pavilhão desportivo da Escola EB 2,3 El-Rei D. Manuel I e a banalidade da desmontagem de uma perigosa grua que ajudámos a fazer desaparecer.
Mas posso estar enganado. Façam o favor de recordar, na caixa de comentários, o que consideram ter sido o melhor do ano.

27 dezembro 2006

Abram os olhos

Recomendo a leitura deste texto de «A-Sul». Não é necessário acrescentar mais nada.
Abram os olhos antes que haja no concelho 50.000 residentes (1/3 já existem), porque o actual PDM foi feito com esse objectivo.

26 dezembro 2006

Só tenho um rosto


Com o fim deste ano de 2006, anuncio aos visitantes deste blog que, face à postura da oposição em Alcochete, será uma medida politicamente correcta eu pôr um fim à minha intervenção pública.
Eu não como da gamela comunista, mas só do prato ganho à custa da minha própria competência. Esta maneira desabrida de falar sempre concorreu para que fosse excluído da participação honesta que poderia dar a esta minha terra de Alcochete, mas se por profunda consciencialização intelectual não me é possível pactuar com comunistas, também não me é possível pactuar com gosmas repugnantes que só se lembram da Democracia quando chega a altura das eleições. Claro, todos nós sabemos do que eles se lembram!
Quem escreveu até aos 57 anos não vai deixar de fazê-lo para o resto da vida.
Sempre que algo de grave aconteça contra os interesses das populações do nosso concelho, eu denunciarei às pessoas que fazem parte da minha lista de contactos que só serve exclusivamente para este efeito. Quem quiser pertencer a essa lista, procure o meu e-mail à esquerda neste blog e envie-me simplemente desejos de próspero Ano Novo tal como eu desejo a todos.

O pior do ano


Os piores factos do ano em Alcochete foram três: a confirmação de que a estupidez política transformou esta terra num dormitório de gente abúlica e desenraizada, o falso orçamento participativo do município e a hibernação da totalidade da oposição.
Ainda do lado negativo coloco uma mentira: a prometida emenda daquele aborto rodoviário no troço da Estrada Nacional 119 situado entre a Crown & Cork e o novo supermercado, obra disparatada mas intocável desde há 9 meses.
Por isto e pelo muito que escrevi neste blogue ao longo do ano – traduzido, nomeadamente, na enorme lista de micro-causas ainda sem solução – a nota global de 2006 que considero justa para o executivo da câmara municipal é de 8 valores.
Para esta nota simpática contribuíram factos relevantes: dois valores por apoiar os bombeiros e outros dois pela criação do conselho municipal de segurança.
À Assembleia Municipal dou 4 valores por se desconhecer qualquer actividade como órgão deliberativo do município e como acompanhou e fiscalizou as funções atribuídas à Câmara Municipal. Se assim continuar será, como até aqui, um órgão rigorosamente inútil.
Em meu entender, as figuras do ano em Alcochete foram os pombos que habitualmente descansam no telhado dos Paços do Concelho. É melhor cada um pensar para si próprio a razão dessa minha escolha.

23 dezembro 2006

Pensar não ofende

Provavelmente esta não será a melhor altura para propor uma reflexão sobre a matéria abordada nesta notícia do «Sol».
Mas faça-se um esforço, vá lá.
Isto porque o município de Alcochete está entre os 159 que cobram 10% de derrama sobre o IRC pago pelas empresas ao Estado.
No entanto, podia estar entre os 149 que não cobram tal derrama.
Pergunto: derrama sim? Derrama não?

22 dezembro 2006

Ainda mais uma vez o aborto

Se uma mulher engravida, não interrompe a gravidez e tudo corre bem, nasce um ser humano.
Se uma mulher engravida e interrompe a gravidez, deixa de nascer um ser humano.
Vistas as coisas por este prisma, onde cabe aqui o aborto?
Venha aqui alguém e com honestidade intelectual responda à minha pergunta.

21 dezembro 2006

Onde está a verdade?

A verdade não é monopólio do meu grupo cultural.
Se eu pensasse que a verdade é monopólio do meu grupo cultural, não teria qualquer possibilidade de acolher a cosmovisão de outros grupos culturais.
Quando na ex-colónia da Guiné, depois de um enterro, assistia à festa de toda a aldeia onde eu estava destacado, compreendia que aqueles indígenas animistas faziam da vida e morte uma só coisa. Esta compreensão da cultura alheia era-me dada a partir da estrutura trinitária vivida pela cultura teológica cristã.
Assim, a verdade está por cima dos grupos culturais e cada um destes é uma janela aberta para aquela.
Nesta conformidade, eu não estou a perceber o desprezo cada vez maior no Ocidente por todos os aspectos culturais relativos à comemoração do nascimento de Jesus Cristo. Sei apenas que a isto chamam multiculturalismo, embora, no meu ponto de vista, melhor lhe chamassem desconstrucionismo, sanha diabólica.
Será que o respeito pelas outras culturas exige a abdicação da cultura que foi a dos meus pais e avós?
Eu sempre pensei que só poderei ser das outras culturas à força de ser da minha!

Continuidade no Aposento

A conferir aqui a nova composição dos corpos sociais do Aposento do Barrete Verde.
Quem conheça minimamente o lugar e as pessoas de Alcochete difícil será não descobrir, pelo menos, um nome que lhe seja familiar.

20 dezembro 2006

Desejos de bom Natal

Se para ti isto tem um sentido, tu estás com o espírito do Natal, quero dizer, com o espírito da Encarnação que, se vires bem, é também o sentido da Cruz: o Espírito (verticalidade) desce sobre a carne do homem e a do mundo (horizontalidade).
O meu companheiro de blog e eu próprio desejamos-te um bom Natal.

Há presépio em Alcochete?

Desde muito novo que admiro o presépio tradicional português. Tem um encanto especial e ainda hoje procuro rever os gostos artísticos de quem os contrói.
Ajudem-me: há algum presépio tradicional português acessível na área do concelho de Alcochete?

Agora é a água

Começo a entrar no espírito natalício e não me apetece ser duro com ninguém. Mas assunto nunca falta.
Peço que a água da torneira tenha pressão suficiente para caldeira e/ou esquentador trabalharem sem problemas.
Eu e os meus vizinhos temos esse problema pendente há mais de uma semana e ninguém se explica nem pede desculpa.
Já todos amaldiçoámos os respectivos equipamentos mas, providencialmente, em conversa uns com os outros, temos vindo a descobrir que o problema é generalizado. E sendo-o, alguém deve justificar-se.
Se não me resolverem este assunto até ao Natal, nem me derem qualquer justificação, depois a gente conversa.

19 dezembro 2006

Nós por cá...

Nós por cá estamos bem, obrigado. Estaremos mesmo?
Fazemos de conta que não se passa nada. Mas passam-se muitas coisas e contam-mas, constantemente, perto do ouvido.
Fazemos de conta que estamos bem. Mas estamos cada vez pior, a julgar pela aparência.
Continuem a fazer de conta. Mas não se queixem.

18 dezembro 2006

Triste fado: fábrica vira urbanização


Está estampado numa acta da edilidade de Alcochete, em reunião realizada a 14 de Junho último, algo que abordara superficialmente neste texto, baseado nos poucos dados então conhecidos: a fábrica de cortiça Orvalho, no Largo da Feira, em Alcochete, vai dar lugar a loteamento com 92 habitações, em edifícios de quatro pisos com parqueamento em cave.
Só em parte conheço a história da ida dessa fábrica para Vendas Novas – tendo escutado, nomeadamente, trocas de mimos entre autarcas – e preconizo, uma vez mais, que se peçam explicações acerca da transferência de uma unidade industrial radicada há 52 anos em Alcochete.
Explicações que devem ser dadas, publicamente, pelos principais protagonistas no processo, todos conhecidos e no exercício de funções públicas.

Enquanto cidadão e munícipe só posso lamentar que mais uns quantos alcochetanos sejam forçados a mudar de vida porque, inevitavelmente, a transferência da fábrica para outro concelho implica substituição de alguma mão-de-obra directa ou indirectamente ligada a esta terra.
A troca de uma fábrica por habitações rende, em um ou dois anos, milhões de euros a um voraz município especializado em atolar-se no lodo de elefantes multicoloridos. Mas torna-nos social e economicamente mais pobres e agrava problemas que continuam a ser habilmente iludidos ou escondidos debaixo do tapete.
Quanto ao estacionamento de veículos, por exemplo, o loteamento em causa está mal dimensionado.
A área total sujeita a intervenção é de 25.460 m2 e a área de construção acima do solo de 12.800m2. A previsão de lugares de estacionamento próprio coberto é de 200, a que se adicionam mais 222 lugares de parqueamento na via pública.
É pouco, muito pouco espaço para estacionar automóveis numa zona já hoje visivelmente crítica. Tenho a certeza que, em menos de cinco anos, haverá veículos arrumados sobre os passeios, como sucede noutras urbanizações de construção recente.
Mais uma vez não se aplica a política ambientalmente correcta de dedicar a áreas verdes e de lazer 3/4 do espaço total de intervenção, pois é cedida ao município somente uma área de 14.485m2 para infra-estruturas e espaços verdes. Falta saber, de resto, de que infra-estruturas se trata e qual a área efectiva destinada a zonas verdes e de lazer.
Até hoje a autarquia nada disse sobre o que pensa fazer com esse espaço, excepto que o actual estacionamento de veículos na Rua do Norte (no Bairro das Barrocas, entre a igreja da Senhora da Vida e o Museu de Arte Sacra) transitará para essa nova urbanização.
Anteriormente, neste texto, eu criticara tal decisão da câmara por considerar ilógico que se tente recuperar e repovoar o centro histórico da vila mas, paralelamente, se obriguem os moradores a deixar o automóvel a 400 metros de casa, ou mais.
Em face dos dados ora conhecidos não é difícil prever que, dentro em breve, haverá muito mais automóveis sobre os passeios e em artérias vedadas ao trânsito no centro histórico da vila. Culpa de quem?
Enquanto os eleitos locais continuarem a apostar no betão para pagar elefantes multicoloridos e alimentar a pesada, ineficiente e incontrolável máquina administrativa, pouco mais haverá a esperar que o agravamento de problemas bem conhecidos.

O Natal é o Menino Jesus

Já há algum tempo que não ia ao café Barrete Verde.
Hoje, quando entrava no estabelecimento, pessoa bem conhecida do nosso meio dizia de viva voz: "O Natal é o Menino Jesus!" E à queima-roupa pedia-me a confirmação: "Professor, é ou não é?". Logo respondi: "Sim, é, o Natal é o Menino Jesus!".
Quem falava no meio do café o que não compreendia era a história do Pai Natal. Eu também não a compreendo senão como mais uma ferramenta destruidora dos valores cristãos desde há dois mil anos.
O Menino Jesus é um puxão de orelhas à atenção dos homens para o sentido encarnado em tudo. Ora nós vivemos na era do nihilismo, isto é, na destruição de todo o sentido. E para a consecução desta empresa satânica o Mistério da Encarnação surge como obstáculo. Abatê-lo a todo o transe com a ajudinha do Pai Natal é o que há a fazer.
Claro que é impossível conseguir contra o fundamento do mundo real seja o que for, mas entretanto a Humanidade corre riscos tremendos em termos de futuro.

16 dezembro 2006

O comunismo acabou?

Se a memória não me falha, a derrocada da União Soviética faz este mês 15 anos.
Que fez a ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas senão endeusar a ciência - herança do iluminismo racionalista - e querer planear a vida de todos os povos à face da terra? Como todos sabemos, o fim foi desastroso!
Mas o que é que esteve mal?
O que esteve mal foi o homem esquecer-se do homem, isto é, da dimensão irredutível da pessoa humana. Numa simples frase, o indivíduo foi arrasado. Eis a grande causa de desmoronamento da então URSS.
E o Ocidente? Tem a certeza de que hoje pode fazer frente a todos os terrorismos? Não só o que vem do fundamentalismo islâmico, mas também os que vêm dos embriões congelados, aborto, clonagem humana e outros horrores?
Eu penso que nos poderemos libertar das bombas cobardes lançadas por todo o lado, mas sou mais céptico que nos libertemos de Gulags impostos por força da aplicação de uma ciência desumanizada.
O que serviu para afundar o titanic comunista jamais poderá servir para nos salvar.

15 dezembro 2006

Partilha de informação

Durante as férias do Natal vou ler Zambrano, Maria, Pessoa e Democracia, Fim de Século, Lisboa, 2003.
O que espevita a minha curiosidade é querer saber o que Maria Zambrano entende pelo conceito de pessoa, uma vez que a tese de doutoramento desta filósofa intitula-se A Salvação do Indivíduo em Espinosa. Este foi um imanentista radical, razão por que, numa perspectica cristã, eu não esteja a ver qual o contributo do espinosismo para desvelar a pessoa.

14 dezembro 2006

Americanos ricos e patos bravos (2)

Recomendo vivamente a leitura, no sítio da câmara na Internet, da acta da reunião da edilidade realizada a 31 de Maio passado (link impossível).
Nela está transcrito o texto do protocolo do plano de pormenor da Barroca d'Alva, relacionado com o núcleo turístico a implantar numa área de 4.445.525 m2, prevendo a edificabilidade máxima de 170.000m2, a construção de um campo de golfe com 18 buracos e de um hotel de 4 ou 5 estrelas, assunto a que aludi neste texto há menos de um mês.
Consta também da acta uma importante informação técnica.
Assunto a acompanhar com atenção.

13 dezembro 2006

Mínima novidade

Várias vezes – nomeadamente aqui e aqui – se criticou neste blogue a inutilidade do sítio da câmara de Alcochete na Internet, tanto porque havia promessa eleitoral de fazer muito melhor como por ausência de informação relevante que os munícipes devem conhecer em tempo oportuno.
Acabo de detectar uma novidade mínima nesse malfadado sítio: estão, enfim, disponíveis actas das reuniões da vereação da câmara, realizadas entre Janeiro e o passado dia 2 de Novembro. Obviamente podiam e deviam ser já apresentadas as de reuniões posteriores, porque estas se realizam quinzenalmente e essa informação é indispensável.
Faltam, entretanto, actas das reuniões de Julho a Dezembro de 2005. Que existem e têm de estar também acessíveis.
Quem perder uns minutos a ler, atentamente, qualquer acta das reuniões da edilidade, perceberá por que considero muitíssimo importante a consulta de tais documentos.
Brada aos céus a total e persistente ausência de reproduções dos estudos e documentos elaborados pelas direcções técnicas, bem como pelas várias comissões municipais existentes, submetidos à câmara e à Assembleia Municipal.
Muito estranho, sobretudo, que as actas da Assembleia Municipal continuem há anos no segredo dos gabinetes. É lamentável que o órgão deliberativo, de fiscalização e de acompanhamento da actividade da câmara continue, formalmente, a ser tratado como secundário ou um mero apêndice!
Nenhum dos seus membros se sente minimamente incomodado com a discriminação, dado que câmara e assembleia são órgãos autónomos?

12 dezembro 2006

Símbolos (13)

METANÓIA

Negra loucura humana dessa gente
Que procura uma tíbia do Senhor
Sem nada ver um pouco mais à frente...
Ó barranco de cegos sem pudor!

Quando p'ra além do facto se não vai,
O tempo à nossa volta faz tramóia
E o nosso ser afunda em curto ai
Bem longe da urgente metanóia.

Eternidade e tempo une a Cruz,
Fundamento do mundo ao meu redor,
Eis a lição que dá o bom Jesus.

História sem o raio do sentido
É negrume mais denso do que pedra
Que o homem pela noite traz perdido.

João Marafuga

Símbolos (12)

É inteligente quem vê os pontos comuns e não comuns entre as coisas, conclui e age.
Se eu não consigo ver a relação, por exemplo, entre aborto e atentado à perenidade da nossa identidade cultural, como posso reclamar-me de inteligência?

INTELIGENTE

Desde pequeno
Vivo insciente
Do que isso seja
De inteligente!

Se calhar é
Meu pensamento,
Cave de trastes
A monte ao tempo?

Se calhar é
Não questionar?
De havido e tido
Tudo palrar?

Se calhar é
Ter de memória
Em coisas mil
Certinha história?

Se calhar é
Sábia sentença
Depressa aceite
Sem mais detença?

Se calhar é
Ser da cultura,
Homem sabido
Que isto assegura?...

João Marafuga

Símbolos (11)

TEMPO-SERVIDÃO

A hidra assalta a casa do Senhor
Sem que o guardião resista à arremetida.
Pela terra se espalha amarga dor
Sob a pata de serpe tão temida.

Se o monstro ataca e o pastor hesita,
Que fará o rebanho amedrontado?
Cada ovelha em seu canto p'ra ali fica
Logo à mercê das garras do danado.

Nunca provoco a fera à minha frente,
Mas não fujo nem quero acomodar-me
Ao tempo-servidão de pobre gente,

Antes p'rà Cruz do meu Senhor virar-me
Decidido e com força bem premente,
Se do Mal por aí quiser livrar-me.

João Marafuga

11 dezembro 2006

Símbolos (10)

O politicamente correcto é abjecto.

NU

Aí há veste
Linda por fora,
A venda à peste
E a gente ignora!

Eu ando nu
Sem ter vergonha
E também tu
Larga a peçonha!

Olha o irmão,
Eis o teu rosto...
Já tens razão
P'ra andar com gosto!

Eu ando nu
Sem ter vergonha
E também tu
Larga a peçonha!

Mantém a chama
Desta lucerna
Que o mundo inflama
De vida eterna!

Eu ando nu
Sem ter vergonha
E também tu
Larga a peçonha!

João Marafuga

10 dezembro 2006

Símbolos (9)

Há coisa de uma dezena de anos, falava eu sobre temas da nossa terra com um dos raríssimos ex-autarcas comunistas que nunca precisou do partido para viver. Deambulávamos ao longo da marginal do Rossio e eu, a dado passo da conversa, lastimava vereadores do município de Alcochete cujas credenciais não iam além do diploma da 4ª classe. A resposta logo dada foi a seguinte: " Está bem, mas são grandes trabalhadores!".
Não ripostei, mas enquanto ele julgava que eu o ouvia, ia pensando que, segundo os comunistas, ser 'grande trabalhador' será condição suficiente para ser autarca. E interrogava-me silenciosamente: "Mas isto não é fazer pouco de todos os que honestamente fazem pela vida?"
Nesse mesmo dia, quando cheguei a casa, fiz este soneto.

O GOSMA

Avança o gosma feito lince à espreita,
Matreiro a controlar o movimento,
Não surja tresmalhado impedimento
À trama desta vez quiçá perfeita.

Há-de ser presidente ou segundo-homem,
Para si uma ou outra coisa vale.
Ao ignaro por tolo não o tomem,
Ganhar reforma nédia o grande ideal.

Digam que apenas tem a quarta classe
Que contra dizem ser trabalhador
E sem haver à frente quem lhe passe.

O gosma rejubila com fervor
Sem ver contradição que o embarace,
Gerindo a estupidez a seu favor.

João Marafuga

09 dezembro 2006

Símbolos (8)


A raiz é símbolo do passado, das origens, das tradições...
O passado que arrasta o rosto dos nossos pais e avós, as origens que nascem do chão, as tradições que cristalizam normas, todos decorrem de uma ordem que templo é por cima de nós.
A destruição do templo deixar-nos-ia sem abrigo à mercê de intempéries e bestas esfaimadas.

ALCOCHETE

Alcochete, meu amor,
A raiz do meu cantar,
Tu menténs o meu verdor,
Tu do mundo és meu altar.

Alcochete, meu reduto,
Minha gente, minha igreja,
Teu condão me fez adulto
Como int'ressa que homem seja.

Alcochete, já chorei,
Por ti choro ainda agora
Feito homem que p'la grei
Uma lágrima devora.

Alcochete, dura via,
A força do meu viver,
Se de ti fugisse um dia
Matava todo o meu ser!

Alcochete, dá-me a graça
Duma cova no teu chão,
Por convir que jus se faça
Ao amor de coração.

João Marafuga

RAIZ

Recorda, alcochetano, o teu passado,
Memória que estrutura vero ser
Contra a ruína atroz do parecer
Por gente distraída ambicionado.

Da árvore que se ergue rumo ao céu
A raiz a segura firme ao chão
E o vento nela investe fúria em vão
Como se a protegesse forte véu.

A raiz a defende, alcochetano,
De ilusão preparada por matreiro
Portador luzidio de fundo engano.

Amor à nossa terra a terapia
De mim, de ti, do povo todo inteiro
A favor do equilíbrio cada dia.

João Marafuga

Símbolos (7)


O traço vertical simboliza a Eternidade, o Infinito, a Transcendência, o Espírito...
O traço horizontal simboliza o tempo, o finito, a imanência, a carne (do homem e do mundo)...
A Cruz de Cristo é a união da Eternidade e do tempo, do Infinito e do finito, da Transcendência e da imanência, do Espírito e da carne...

A CRUZ

Dois milénios lá vão depois do crime,
Dessa morte sem crime que fizesse,
Mas ódio contra a cruz o mundo esgrime
P'ra cercar de veneno a grande messe.

A cruz por todo o sítio levantada
Incomoda a consciência dessa gente
Que bebe até ficar embriagada
Tanto sangue de vítima inocente.

Enquanto o homem do homem faça pouco,
Se erga a cruz imponente em todo o monte
E se exiba um opróbio que lhe aponte

O fazer e dizer deveras louco
A mostrar de uma vez a vera fronte
De quem jamais bebeu na prima fonte.

João Marafuga

08 dezembro 2006

Símbolos (6)

Cada palavra do poema é penhasco indelével de uma cadeia montanhosa a favor de uma causa. Qual? A causa dos valores da Civilização Ocidental e cristã.
Sou cristão convicto, mas não sou bonzinho.
Quando levamos uma bofetada e o Evangelho da Cruz aconselha a darmos a outra face, certamente não quer dizer que nos deixemos matar sob agressão de outro. De facto, para defender Cristo eu preciso de estar vivo.

ANÕES

Muitos querem na mão trazer chicote,
Sobre os outros poisar a dura carda,
De cano alto mostrar a bota parda,
Tudo e todos forçar ao próprio mote.

Anões que nada enxergarão por cima,
Estão longe de atingir o homem todo.
Os caminhos que pisam são de lodo,
Tudo o que pensam com relinchos rima.

Mas se p'ra ti levantam as arreatas,
Não arredes migalha do lugar
Nem temas investidas insensatas.

Porventura não venham a julgar
Que alçam sobre um qualquer as grossas patas
E com iguais se vejam a lidar!

João Marafuga

INIMIGOS DA CAUSA PÚBLICA

P'ra eles se olha e vê-se a estupidez
Que homem inferior em si projecta.
A mente deles preta como pez
É prima-irmã duma lixeira abjecta.

Dos outros a fazerem sempre escada,
Ei-los mandante aqui, gosma acolá,
E à gente a trabalhar esperançada
P'lo apoio prometem o maná.

Finalmente pousados sobre o galho
Quais aves de rapina sobre a presa,
Meter ao bolso próprio eis trabalho
De quem valor por lei alçou vileza.

Indestrutíveis guardas da cidade
Que afirmam defender com valentia,
Nunca ouviram falar de dignidade,
Termo raro sem uso em grande orgia!

João Marafuga

07 dezembro 2006

Símbolos (5)

Todo o bébé é um pobrezinho indefeso, símbolo dos milhões de pobres indefesos à face da terra. Isto mesmo nos é dito por Cristo que morreu como nasceu: indefeso.

BÉBÉ

Esse dedo mindinho transparente
A sair atrevido da coberta
E contra opinião quiçá incerta
Parece já dizer: "Eu estou presente;

Sou pequeno, mas tenham lá cuidado;
Aqui no berço vive outra pessoa;
Não falo e minha voz ao mundo soa
Tal como de indefeso forte brado.

É para respeitar o meu direito
Tanto quanto eu não posso defendê-lo,
Pois de idade um mesinho tenho feito.

Meu biberão fervido quero vê-lo,
Farinha da que mamo sempre a jeito
E banho à noite não convém esquecê-lo!"

João Marafuga

Símbolos (4)

O símbolo é qualquer coisa visível que remete para algo invisível.
Assim, vemos a bandeira nacional, mas não vemos o que ela representa, isto é, a pátria.
O Deus-menino é um excelso símbolo da Encarnação, isto é, da verdade nunca vista pelos olhos da cara de que o homem e o mundo recebem um sentido (logos).

ENCARNAÇÃO

Ama Deus tanto o mundo que encarnou
No ventre de mulher de todos seio.
Assim Jesus o Cristo à terra veio
E eternidade e tempo n'Um juntou.

Mas foi tão radical encarnação,
A seguir reforçada pela Cruz,
Que toda a face de homem hoje é luz
Por graça de tamanha doação.

Encarnação, palavra do futuro
Donde vem o presente que é querido
Por homem que derrube todo o muro,

Caminhe rumo ao outro destemido,
E sem ligar a pedra de chão duro,
Grite, "Valeu a pena eu ter vivido!"

João Marafuga

Símbolos (3)

Deus desce sobre todos os conceitos e vai para lá deles.
Deus é a realidade das realidades.
Quem sou eu ou o que valho eu para negar Deus?
E quem nega Deus tem mesmo a certeza de que não se nega a si próprio?
Negamos Deus para nos colocarmos no lugar d'Aquele que é a vida, julgando que podemos acabar com esta já que dá-la nos é impossível.
Sim, eu não posso dar a vida porque não sou a vida. Nem sequer alguma vez a vi.

DEUS É AZUL

Deus não fica além do homem
Como coisa independente.
Minha crença não a tomem
Vista agora de repente.

O homem-homem sobe alto,
Passa a estrela mais distante
Sempre a ir de salto em salto
Contra meta que o quebrante.

Nesta ânsia de infinito
Cor de céu em dia claro
Que atormente um ser aflito
Vejo Deus ao homem caro.

Eu recuso um Deus polícia
A rondar por todo o lado
À maneira de milícia
Em país de chão castrado.

Só em plena liberdade
Mira o homem o seu rosto.
Pasma então com a verdade
Que nunca tinha suposto!

João Marafuga

Símbolos (2)

No fundo, todas as palavras têm uma carga simbólica porque são bandeirinhas que remetem para conceitos como uma bandeira nacional remete para o conceito de pátria.
O termo alcochetanidade, património de todos mas cuja paternidade me pertence, é símbolo de um objecto mental que alude a traços marcantes da micro-cultura alcochetana.
Dizem que os mesmos traços se encontram nas populações da Moita ou de Vila Franca. A minha exigência de pensamento rigoroso diz-me que não é assim. As diferenças entre duas terras são tão abissais como entre duas pessoas. Cada uma destas é única e irrepetível.
Mas o que dá mais peso ao conceito de alcochetanidade é esta plêiade de poetas, pintores, artesãos, fadistas e guitarristas de Alcochete que não sei se encontra paralelo nos concelhos da margem sul do Tejo.

ALCOCHETANIDADE

Minha terra, Alcochete, a tradição
É valor sacrossanto para gente
Hospitaleira e sã de coração,
Capaz dum sacrifício boamente.

Vem depois o valor da forcadagem,
Abraço firme de homem e animal,
Pintura, poesia e fadistagem
Deste lindo rincão de Portugal.

Defender a cultura do terrunho
Será tarefa dura nesta era,
Mas deste meu fazer não me acabrunho.

O poema diz, eu sei, valer a espera.
Que cada homem leve o próprio cunho
Ao grande encontro sob a face vera!

João Marafuga

06 dezembro 2006

Símbolos (1)

Imaginem, caros amigos, que eu chego aqui e digo: os comunistas são uns mentirosos. Eis uma proposição para um juízo que não é minimamente produtivo porque se trata de um facto.
Os factos, por si só, não mudam nada se não forem trespassados pela verticalidade do símbolo. Só quando este se instala no imaginário colectivo, acolhemos umas coisas, desprezamos outras.
Afirmar simplesmente que os comunistas são mentirosos porque na última campanha eleitoral nesta terra de Alcochete fizeram inúmeras promessas apenas para a caça ao voto deixa tudo como está.
Mas suponham que a luta é levada a cabo através de outro tipo de registo. O poema, por exemplo! Aqui tudo muda de figura porque o objecto artístico tem o condão de dar vida ou morte a símbolos, estruturas complexas que mexem com o ser de cada um.

NINHO

Alcochete, o meu ninho,
Do salineiro e do moço
De forcado e do campino,
De entre nós artreda o fosso.

O valor da tradição,
Da Senhora da Vida
E também da Conceição,
Tu mantém, minha querida.

João Batista o padroeiro,
Tua festa grandiosa
De Agosto dia certeiro,
Guarda sempre mui zelosa.

A família o teu escudo,
Todo o povo o fortim.
Não consintas abelhudo
Que não veja isto assim.

João Marafuga

O IV Encontro de Educadores/Professores

No dia 13 de Dezembro de 2006 realizar-se-á no Fórum Cultural de Alcochete o IV Encontro de Educadores/Professores para debater o tema expresso sob forma prolixamente interrogativa: como vamos melhorar a escola nos próximos anos?
É preciso tomar consciência de que são as esquerdas as responsáveis pela destruição do ensino e desnorte dos jovens.
Na verdade, que escola queremos se a matriz judaico-cristã da nossa civilização é para destruir? Que jovens formamos se, por exemplo, em vez de Vieira, Garrett, Camilo, etc., lhes damos Saramago que consideramos o máximo?
Não vou estar presente no encontro mencionado porque não pactuo com essa vanitas, mas imagino bem o que será dito por alguns profissionais do politicamente correcto.
É destruída de uma forma lenta mas persistente a herança dos nossos maiores e depois os próprios destruidores aparecem cinicamente como salvadores, culpando inocentes e avançando projectos que ainda agravam mais o estado já muito agravado das coisas. Eis a táctica de sempre!
Estou farto!

05 dezembro 2006

Urge uma nova simbólica

Estou prestes a fazer 57 anos, o que é uma boa idade para ter juízo tal como escreveu, assinou e endereçou-me em carta pelo correio um ferrenho comunista desta nossa terra de Alcochete.
Por outro lado, Alcochete, desde o 25 de Abril, não sai das garras dos mesmos homens.
Em relação a Portugal estou muito reticente.
As pessoas julgam que é possível defendermos os valores dos nossos pais e avós sem levantarmos armas por eles.
Não vou embainhar a espada. Apenas vou partir para outras viagens.
Não basta vermos que os comunistas são uns mentirosos. Este facto tem que fazer parte do imaginário colectivo. E então?
A palavra "mentiroso" e outras do género têm que passar a ser os referentes para comunista e esta última o referido.
Qual o meio para consegui-lo? A arte.
Se assim não for, a derrota final será nossa.

Cultura da casca


Há dois anos gastaram-se mais de 76.000 euros na remodelação do Largo Unidos Venceremos, no Bairro 25 de Abril, em Alcochete. A obra foi acertada.
Três anos antes, eu apontara a frieza e desumanidade dessa artéria, situada no outrora denominado Bairro das Caixas de Previdência – entre a escola básica do Valbom e o Hotel Alfoz – definindo-a como exemplo negativo de espaços de recreio e lazer no concelho.

Finalmente, em 2004, a câmara deita mãos à obra e, no Outono, gastos mais de 15.000 contos, devolve à população um espaço supostamente mais humano e agradável... se a vegetação lhe emprestasse ambiente refrescante e acolhedor.
Gosto de acompanhar o evoluir de obras pagas com o meu dinheiro e o que observei agora está patente nas imagens acima.

Os canteiros são vergonhosos e neles é bem visível que a cultura da casca continua a prevalecer, em detrimento da do verde e das flores que noutros tempos era timbre dos espaços públicos alcochetanos.
Quanto às árvores, as que ainda não secaram estão em estado praticamente idêntico ao do dia da plantação, o que em nada abona a sua qualidade.
Chamar àquilo arranjo paisagístico é gozar com os residentes no largo. E até com os munícipes, em geral, porque todos pagaram uma obra inútil.

04 dezembro 2006

Confiteor

Eu me confesso.
Não devo nada a ninguém no que esta afirmação tem de senso comum. Mas bem no fundo o que quero dizer é que não devo nada às partidocracias.
Se eu me desmascarar a mim próprio, poderei fazer alguma coisa por alguém?
Em Alcochete sabe-se que eu sempre me reclamei da cultura e da inteligência, embora, em abono da verdade, muitas vezes com excessividade. Ainda assim, a benevolência dos meus conterrâneos desculpa os meus pecadilhos e reconhece os meus méritos.
A pergunta que me faço é a seguinte: como foi possível eu manter abjectas ilusões de esquerda durante uns trinta anos da minha vida?
Eu me sinto profundamente envergonhado e a todo o povo alcochetano peço desculpa, muito particularmente a todos aqueles que me ajudaram a ser o homem que hoje sou.

Cheira-me a esturro (2)

Tendo descrito aqui e aqui, há um ano e dois meses, respectivamente, o que pensava acerca do assunto, limito-me a referenciar mais uma notícia.
Novos comentários para quê se, retirando o papel vistoso e as fitas coloridas da embalagem, sobra apenas betão?

03 dezembro 2006

Aos pais e educadores


Embora crítico do poder local que temos, sobretudo pela inércia revelada em questões elementares, seria injusto passar ao lado de algumas decisões e acções correctas, tais como a substituição dos antigos abrigos das paragens de autocarros situadas junto à vedação da Escola EB 2,3 El-Rei D. Manuel I.
Se bem se recordam os antigos abrigos eram uns barracos metálicos inaceitáveis, que a arraia miúda foi pintando e desfeando a seu bel-prazer.
Contudo, como as imagens acima demonstram, em pouco mais de dois meses selvagens destruíram três placas de um desses abrigos novos. Antes mesmo da câmara conseguir acabar várias obras na 2.ª fase da pomposa variante!
Não vi e não posso garantir quem foram os autores da façanha, mas porque passo ali frequentemente e observo o comportamento de alguns gandulos tenho as minhas suspeitas.
Há soluções para minimizar problemas comportamentais e cada um de nós tem ideias sobre o assunto.
Fico-me por um apelo a pais e educadores, recordando palavras de uma canção dos Delfins: "quando alguém nasce, nasce selvagem".
Pensem nisto e contribuam para emendar alguns meninos que, se continuarem selvagens ao atingirem a idade adulta, talvez sejam um novo problema social.

02 dezembro 2006

Como é que é possível?

Estou aqui a pensar sobre algo que me faz muita confusão. Como é que é possível haver pessoas que acreditam saber como todos os outros deveriam conduzir as suas vidas? Como é que é possível haver pessoas que acreditam saber como todos os outros deveriam ordenar os seus negócios? Como é que é possível haver pessoas que acreditam saber como todos os outros deveriam educar os seus filhos? E para cúmulo, como é que é possível haver pessoas que vêem no Estado um meio de impor os seus pontos de vista a todos os outros? Mas tudo isto não é uma doença deveras grave?
Deixem as pessoas cuidar das suas próprias vidas, ganhar dinheiro honestamente, criar os seus filhos da maneira que acreditam mais adequada, etc.
Atreva-se algum iluminado a chegar ao pé de mim e a dizer-me que eu deveria viver de forma diferente para meu próprio bem e verá a sorte dele! Se muitos fossem sensíveis a estas palavras, jamais algum governo seria dirigido por esses energúmenos.

01 dezembro 2006

Índios e 'cowboys'


Na política local a realidade e a ficção estão a anos-luz.
Nos programas e nas campanhas eleitorais promete-se melhoria do bem-estar, desenvolvimento sustentado, uma sociedade mais justa e equilibrada, gestão participada e muito mais, mas a prática demonstra serem promessas vãs.

Passado o período da caça ao voto, uns metem a viola no saco, outros hibernam até à eleição seguinte e os do poder governam e governam-se com rédea solta.
Vem isto a propósito do chamado bairro da Coophabital, situado entre o quartel dos bombeiros, o centro de saúde, a piscina e o pavilhão gimnodesportivo de Alcochete.
O arquitecto que o concebeu teve o cuidado de humanizar o espaço, criando várias áreas de convívio e lazer.
Mas o que se observa – e as imagens acima evidenciam – é que, em cinco anos, pelo menos (um mandato autárquico inteiro e um ano após a chegada do sucessor), ninguém mexeu um dedo para remendar aquela vergonha.

A praça interior situada entre as ruas do Salineiro, da Cooperação, dos Fundadores e da Liberdade, onde existe um arrremedo de parque infantil, foi quase integralmente empedrada e transformada num dos espaços mais frios e desumanos do concelho, espelhando absoluto desprezo por miúdos e graúdos.
Conforme é patente nas três imagens superiores, a pouca vegetação existente nos canteiros foi, visivelmente, obra dos próprios moradores.

No bloco oposto, perto do qual existe um polidesportivo (repare nas duas imagens do meio), a situação é ainda pior: os canteiros estão abandonados e a erva cresce livremente. Talvez por isso, alguém resolveu escrever numa parede frase que possivelmente exprime a frustração destes munícipes.
As três imagens inferiores referem-se ao estado de outro espaço abandonado, situado no prolongamento das ruas Virgílio Martinho e dos Fundadores. Está assim há anos.
Quando reparo nestas coisas, percebo por que as pessoas votam os autarcas ao desprezo. Não merecem outra coisa, de facto.

30 novembro 2006

Agnosticismo (texto revisitado)

Desta vez não é de gnosticismo que falo, mas sim de agnosticismo.
O agnóstico afirma que é impossível ao homem alcançar conhecimento acerca de Deus.
Convém não confundir o agnóstico com o ateu. Este nega a existência de Deus, podendo-se descortinar nele uma estranha relação de natureza religiosa com o objecto negado. Na verdade, não há tema para o debate mais desejado pelo ateu do que toda a problemática em torno de Deus.
O agnóstico, do alto da sua indestrutível soberba, diz ser indiferente à existência ou não existência de Deus.
Mas a pergunta é esta: eu poderei ser indiferente a Deus e simultaneamente chegar ao homem bom? O agnóstico vê-se forçado a responder que sim porque se julgará o dispensador do bem, conceito este cujos termos já remetem para um princípio absoluto recusado pelo agnosticismo.
A contradição vivida pelo agnóstico jamais o poderá levar à deferência face ao outro porque o efeito da ideia titânica de que o homem se constrói a si próprio traduz-se inexoravelmente em desprezo pelo outro. Este apenas servirá de capacho para cardas dominadoras que matam.
Mas a minha fé em Deus é a minha fé em Cristo, o irmão maior que me faz ver um irmão no rosto de cada um.

28 novembro 2006

Para petizes de palmo e meio (9)


NATAL

Numa noite longa e fria
Nasceu o Jesus menino.
Traz um canto de alegria
No peitinho pequenino.

"Glória a Deus lá nas alturas,
Paz aos homens de vontade!"
Estas são vozes futuras
De outra era, nova idade.

Mãe e pai de cada lado
Do menino envolto em panos,
Por pastores adorado,
Gesto simples de serranos.

Chegaram magos do Oriente,
Homens de saber profundo,
Cada um com seu presente
P'rò Senhor de todo o mundo!

Vai-se a noite, vem o dia,
Primeiro da salvação.
O homem já tem um guia
Que o salve da servidão.

João Marafuga

27 novembro 2006

Ficção e realidade


Alguém notou que, no actual mandato autárquico, os anúncios inseridos pelo município de Alcochete no jornal local, listando as principais decisões tomadas em reuniões da câmara, omitem a identificação dos proprietários, a localização e características mínimas das novas construções licenciadas?
Não era esse o critério seguido no mandato anterior, como o executivo bem sabe.
Aliás, a maioria dos municípios do distrito publica a informação completa, nomeadamente nos respectivos sítios na Internet.
A câmara de Alcochete, além de omitir informação idêntica no seu sítio na Internet e não só, na publicidade paga menciona somente os números dos projectos de arquitectura autorizados, o que não sendo ilegal nem ilegítimo é inútil.
A opção é errada porque oculta informação respeitante a actos públicos administrativos.
Uma vez mais, a prática contradiz a promessa de apostar na transparência de critérios e de mecanismos de gestão da autarquia.

26 novembro 2006

O pedófilo

O pedófilo é um violador de menores.
É difícil dissecar o carácter do pedófilo exactamente por ele ser um indivíduo fechado ao outro. Este não conta, razão por que o pedófilo nunca confessa os seus crimes.
O pedófilo vive para a satisfação da parafilia que o afecta, mas conseguindo levar a cabo uma vida pública aparentemente normal.
Há uma "intelectualidade" cujos fins não confessa que defende a pedofilia sob a capa de sexo inter-geracional. Tudo serve desde que sirva para abalar os alicerces da civilização.
Um desses alicerces é a moral cristã que arvora a defesa da criança num dos seus primeiros valores: Deus encarna num menino.
Se a destruição da criança se convertesse em indiferença para a sociedade, atingir-se-ia a própria Encarnação, fundamento do mundo real. E se assim fosse, o homem reduzir-se-ia à total materialização, deixando de ter olhos para ver na criança um símbolo do divino.

Mensagem a Catarina Marcelino

Catarina Marcelino, cuja mãe é minha colega há 25 anos, no Jornal do Montijo de 24 de Novembro de 2006, através de artigo intitulado "Homens contra a violência", fala de qualquer coisa incompreensível para mim que designa por identidade de género.
Eu penso que entre mim e a Catarina, como entre mim e qualquer mulher, há de facto uma identidade porque somos simplesmente pessoas. Em rigor filosófico, para a tal hipotética identidade de género, os seres humanos teriam que ser desindividualizados.
Somos iguais porque todos somos pessoas. Na verdade, não há pessoas de primeira, pessoas de segunda, pessoas de terceira, etc. Mas cada um é como cada qual, isto é, cada um tem a sua individualidade. Então, não pode haver dois sujeitos que recebam os dados da cultura de igualíssimo modo. Como cabe aqui a identidade de género?
É no campo moral que se deve colocar a violência contra as mulheres como toda a violência em geral. A agressão física é a forma mais primária de me sobrepor ao outro, quero dizer, de manter o meu poder. Em vez de duas individualidades se complementarem, uma nega a outra.

23 novembro 2006

Desafio aos munícipes de Alcochete

Leiam-se atentamente as págs. 4 e 5 da última edição do jornal da terra.
Um dos edifícios condenados a demolição é este, há muitos anos classificado como monumento no Inventário do Património Arquitectónico, realizado pela Direcção-Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), a que corresponde o número de registo IPA PT031502010019.
Há pouco mais de dois anos evitei a sua demolição. Continuo a não contemporizar com políticas de "bulldozer". O património edificado deve ser respeitado.
Conforme pode ser lido aqui, "pelo facto de o imóvel ser original, a Câmara Municipal de Alcochete encontra-se a estudar a solução para uma possível recuperação". Esta informação é oficial e do ano passado. Está à vista que sim, mas também...
Desafio os munícipes a reagirem da forma que entenderem justa e necessária. E já, antes que seja tarde demais!
Há legislação suficiente para a câmara expropriar ou tomar posse administrativa desta jóia, dispõe da capacidade financeira necessária para tratar do realojamento temporário da única locatária, assim como meios para assumir directamente a recuperação e exploração do precioso imóvel até ter sido ressarcida das despesas inerentes.
Se nada suceder e o edifício começar a ser demolido, deixo expressa uma promessa solene: no mesmo dia em que as máquinas começarem a destruí-lo cessarei a minha intervenção neste blogue.

P.S. - Há pessoas com dificuldade em chegar à página da Direcção-Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais, referida acima, por ser impossível apresentar uma hiperligação directa.
Recomendo o uso exclusivo do browser IExplorer (com o Firefox, por exemplo, a operação resulta infrutífera) e a execução dos seguintes procedimentos:
1. Entre na página http://www.monumentos.pt/
2. No topo da página click na última opção Site;
3. No capítulo Sistema de Informação, click em Inventário;
4. Na coluna com fundo branco preencha apenas as opções País (Portugal), Região (Lisboa e Vale do Tejo) e Concelho (Alcochete);
5. Em seguida coloque o cursor na quadro N.º IPA e carregue em ENTER ou ENTRAR no teclado do seu computador;
6. Aparecerá a primeira de cinco páginas listando os monumentos e sítios classificados no concelho de Alcochete. No topo dessa lista encontra a sequência de acesso às 5 páginas de monumentos locais. O edifício em causa encontra-se na pág. 3;
7. As referências do edifício são as seguintes:
Edifício na Rua Dr. Ciprião de Figueiredo, n.º 38 - 44
Setúbal, Alcochete, Alcochete Nº IPA PT031502010019

Americanos ricos e patos bravos

Não me oponho ao desenvolvimento. Pelo contrário, entendo que para melhor deve mudar-se sempre, desde que se respeitem a Natureza e o bem-estar da comunidade.
Mas o desenvolvimento apregoado em campanhas eleitorais tem sido distinto do que se observa na prática. Para caçar votos pintam-se as coisas em tons cor-de-rosa, embora tempos depois se descubra ser conversa da treta.
Tenho escrito isto vezes sem conta: individualmente ninguém conseguirá forçar a mudança de atitude dos eleitos locais. Apenas reacções e mobilização significativas terão sucesso.
Encaro com reservas o assunto tratado num aviso do município, publicado em suplemento ao «Diário da República» de ontem (ver pág.3), respeitante a um projecto do proprietário da Herdade da Barroca d'Alva, congelado desde 1998 por razões ambientais.
Aviso que, nos termos legais, é de publicação imperativa e tem a finalidade de recolher sugestões e informações prévias.
Nunca há leis perfeitas e esta, reguladora da elaboração de planos municipais de ordenamento do território, deixa campo de manobra suficiente aos autarcas para cumprirem um formalismo sem revelarem, previamente, quaisquer estudos ou anteprojectos existentes.
Nada na lei impede o poder local de ter uma postura transparente, coerente e pedagógica. Mas da teoria à prática a distância é grande e, devido ao desconhecimento geral sobre a matéria em apreço, considero improvável qualquer reacção sobre assunto de tamanha relevância.
Normalmente a memória humana é curta e talvez já ninguém se recorde que o "megaprojecto" da Barroca d'Alva foi um dos temas que, em 2001/2002, os socialistas usaram para desgastar a imagem dos comunistas. A polémica durou semanas e encheu páginas de um jornal do concelho vizinho, cujo chefe de redacção viria a ser assessor de informação do novo poder.
Dois anos e meio depois assisti a uma conferência de Imprensa em que os comunistas classificavam o empreendimento da Barroca d'Alva como megalómano, bem como a debates autárquicos de que anotei acusações mútuas de incoerência.
O chefe da edilidade confirmava então que o público-alvo não se encontra no mercado nacional e que todo o núcleo turístico foi pensado para atrair americanos endinheirados, "pessoas que aliam o golfe aos negócios".
Agora que os papéis políticos se inverteram, novamente, delibera o executivo camarário "reiterar a intenção de dar seguimento ao Plano de Pormenor do Núcleo de Desenvolvimento Turístico da Barroca d’Alva".
Estranho que, tendo tal sido decidido há meses, não haja uma palavra de esclarecimento em parte alguma, nomeadamente no boletim municipal e no sítio da Internet, suportes informativos pagos com o nosso dinheiro e que deveriam servir para algo mais útil que a promoção da imagem pessoal de autarcas.
Sobre o projecto da Barroca d'Alva há muita coisa a carecer de clarificação. Por exemplo: a área contemplada voltou a crescer? Em 2001 eram 362 hectares, em 2004 saltou para 415 hectares e agora são já 444,6 hectares (equivalentes a cerca de 540 campos de futebol).
A este projecto chamei em tempos 'Nova Alcochete', cuja área é superior à da freguesia de São Francisco, contemplando muitas centenas de vivendas turísticas (outra informação a carecer de esclarecimento, porque ao longo do tempo o número varia entre 632 e 811), um hotel de luxo, campo de golfe e outras coisas boas e más.
Há na Internet informação suficiente sobre os inúmeros problemas ambientais causados pelos campos de golfe, pelo que me dispenso de escalpelizar o assunto.
Mas poucos sabem que, até meia centena de quilómetros de distância, a capital está rodeada de campos de golfe, a maioria sem procura suficiente que justifique a sua problemática existência.
Porque desertos ou não, os campos de golfe afectam os recursos aquíferos. Daí a necessidade de prudência na avaliação do custo e benefícios inerentes a tais equipamentos desportivos.

Questões ambientais impedem, há muitos anos, a concretização do projecto da Barroca d’Alva. Por isso desejo que os oito anos de impasse tenham sido aproveitados para repensar o assunto com realismo e segundo as melhores práticas nacionais e internacionais, pondo-se de lado a mania das grandezas, preservando e potenciando a última grande área rural que resta no município de Alcochete.
Nem é necessário voar muito tempo para descobrir boas alternativas. Será inútil, por exemplo, voar para o outro lado do Atlântico. A maioria dos americanos não sabe sequer onde se situa Portugal...

O aborto tem a ver com a consciência de cada um?

Não tenho a certeza absoluta de que o feto é inumano.
Face à dúvida, o mais seguro será não dar um tiro no escuro porque, se o der, poderei correr o risco de matar um ser indefeso.
Por este caminho, é falso que o problema do aborto tenha a ver com a consciência de cada um.
O extermínio de pobres indefesos às mãos dos poderosos tem a ver com a consciência de cada um?

Espírito de abstracção, aborto e feminismo

Quando se reduz o homem e o mundo a meia dúzia de ideias muito racionais cuja questionabilidade se não aceita e se força a vida a passar por elas, estamos perante o espírito de abstracção (hipertrofia do pensamento).
É, no fundo, devido ao espírito de abstracção que, por exemplo, Estaline mata 20 milhões de seres humanos para que o socialismo se implantasse em todas as Rússias.
As raízes mais distantes do espírito de abstracção mergulham no gnosticismo, entram em letargia nos quase mil anos de Idade Média, recrudescem com o Renascimento e são entronizadas por Descartes.
O espírito de abstracção é um traço masculinizante porque se relaciona directamente com a libido dominandi.
Ora o aborto é produto do espírito de abstracção: meia dúzia de ideias muito racionais cuja questionabilidade se não aceita e se força a vida a passar por elas. Mas é aqui mesmo que nos deparamos com a incomensurável contradição, uma vez que o feminismo, defensor do aborto, luta contra a colonização mental das mulheres levada a cabo pelos homens no seio da sociedade patriarcal.

22 novembro 2006

O aborto sob uma mera perspectiva racional

As pessoas contrárias à prática do aborto defendem que o feto é um ser humano. As pessoas a favor defendem que o feto é apenas um pedacito de carne.
As partes não chegam a consenso porque ainda não há uma resposta cabal da ciência à pergunta: o que é a natureza humana?
Nesta conformidade, há 50% de probabilidades de que o feto seja humano e 50% de probabilidades de que não seja. Mas investir nesta última hipótese é optar por um acto que tem 50% de probabilidades de ser um homicídio porque não havendo certeza absoluta da inumanidade do feto, extirpá-lo pressupõe uma decisão tomada no escuro.
Na verdade, os defensores de que o feto é um ser humano poderão reconhecer num futuro breve que empenharam altos sentimentos éticos na defesa de um pedacito de carne ou os defensores de que o feto é um pedacito de carne poderão descobrir que de um ser humano se tratava. Aqui e agora, eu prefiro correr o risco de estar com os primeiros, escolha que me resguardará de colaborar com o maior holocausto da História da Humanidade.

Urbanismo absurdo e condenável


A transformação de áreas rústicas em aberrações imobiliárias – visível em dois pontos distintos da Estrada da Atalaia, do lado esquerdo no sentido ascendente, defronte e pouco depois daquela urbanização abrasileirada denominada dos Barris – é inaceitável do ponto de vista ambiental e deveria suscitar a reacção da comunidade alcochetana.
A insuficiência financeira da autarquia para realizar obras de encher o olho, raramente prioritárias e destinadas a caçar votos (vulgo "elefantes brancos"), juntamente com pressões do mercado imobiliário, têm conduzido a estas e outras soluções urbanas condenáveis.
Entrementes, os centros históricos degradam-se e pouco falta para começarem a ruir edifícios classificados pelo próprio município como de interesse arquitectónico.

O que sei da actividade autárquica leva-me a questionar não apenas o planeamento urbanístico mas sobretudo as cortinas de ocultação que o rodeiam.
Há anos que ninguém mostra plano algum. A última vez foi em 1999 ou 2000, salvo erro.
No entanto, as edificações vão-se erguendo ao sabor das conveniências individuais, políticas e económicas de cada mandato.

Não sei se mais alguém repara nisso mas, em menos de uma década, anularam-se duas importantes potencialidades de Alcochete: a ruralidade e a rusticidade.
Até meados dos anos 90 era caso quase único na Península de Setúbal. Hoje é um concelho em vias de ser tão absurdo como os demais da região, acumulando-se disparates urbanísticos e atentados ambientais ante a indiferença geral.

Declarava, há dias, uma especialista em arquitectura que “urbanismo sustentável é aquele onde as pessoas se sentem bem".
Pergunto aos alcochetanos: sentem-se bem com o urbanismo recente na vossa terra? Acham que se tem construído respeitando as características ambientais herdadas?
Destaco os casos da Estrada da Atalaia por vários motivos: ambas as urbanizações eram propriedades agrícolas até muito recentemente, a licença de construção da exibida na imagem acima foi emitida já no actual mandato, ao contrário do habitual aí não foram previamente construídas as infra-estruturas, a volumetria parece-me desproporcionada e os edifícios têm uma orientação que os desarticula totalmente com o tecido urbano contíguo.
Sem uma deslocação à câmara não é possível conhecer qualquer plano de pormenor – embora se trate de documentos públicos que os munícipes deviam poder consultar livremente na Internet – pelo que cabe aos autarcas explicar e justificar o licenciamento de mais um aborto de 22 moradias.
Numa das extremidades existe um eixo rodoviário fundamental (Estrada da Atalaia), estreito, com lombas e visivelmente incapaz de escoar o tráfego inerente a este tipo de urbanismo.
No outro extremo ainda não percebi ao certo o que haverá (talvez uma nova artéria), nem ninguém o explicou até hoje.

Quando acabará a política do costume: primeiro constrói-se e quem vier a seguir que resolva os problemas inerentes? Quanto aos munícipes, desenrasquem-se!
Na mesma Estrada da Atalaia, o primeiro disparate urbanístico ocorreu no mandato anterior, quando foi autorizada uma urbanização de 20 vivendas, em local onde existia outra propriedade agrícola, com pomar, poço, aeromotor e a pequena casa dos proprietários.
Situa-se algumas centenas de metros antes da acima referida e dela é apenas visível, por enquanto, a construção de infra-estruturas.

Nasceu junto a ela um novo cruzamento, de que prometo falar quando forem mais frequentes os casos de chapa amolgada e vítimas no hospital, pois os automobilistas procedentes da Rua da Escola Secundária já tinham a visibilidade prejudicada por muros, sebes e veículos mal estacionados e a breve prazo os riscos aumentarão significativamente.
E não me custa a crer que, em poucos anos, este urbanismo tipo 'outlet' (tudo ao molho) ou PMV (de pequena e média visão) e os cruzamentos-ratoeira se repetirão noutras apetecidas propriedades da Estrada da Atalaia.
Nomeadamente porque:
1. Os autarcas precisam das receitas do imobiliário para financiar "elefantes brancos" e estão-se nas tintas para a estética urbanística;
2. As vivendas, porque têm preço elevado, não beneficiam de isenção de IMI e os proprietários começam a pagar esse imposto municipal no ano posterior à celebração da escritura de aquisição;
3. Os construtores aliciam, há anos, vários proprietários da Estrada da Atalaia para adquirirem e urbanizarem terrenos agrícolas.
O meu conselho é o do costume: reclamem, reclamem muito para a câmara.
Obriguem os autarcas a explicar-se e, principalmente, a emendar-se.

19 novembro 2006

O estupro das soberanias nacionais

«A ONU está firmemente decidida a tornar o abortismo obrigatório em todas as nações do mundo, sob pena de sanções económicas. É a mais vasta e brutal interferência uniformizante que um poder transnacional já ousou fazer em países nominalmente soberanos. A intromissão vai furar a casca jurídica e administrativa e ir directo aos fundamentos de cada sociedade. Será a extirpação completa das raízes morais e religiosas milenares de culturas inteiras - e não é preciso dizer que junto com esses fundamentos irão embora as respectivas identidades nacionais.
[...]
A decisão quanto ao aborto assinala o que Mao Tsé-Tung chamaria "salto qualitativo": uma lenta acumulação quantitativa de factores homogéneos muda, de repente, a natureza do processo. Décadas de manipulação sorrateira tornaram as nações suficientemente passivas para curvar-se, sem o mínimo questionamento, à imposição ostensiva de uma nova lei moral, contrária a tudo em que acreditaram durante séculos ou milénios.
Se há uma situação em que faz sentido falar de "genocídio cultural" é essa. E não é preciso dizer que novas medidas do mesmo teor virão nos próximos anos, varrendo do mapa símbolos, valores, costumes e tradições que desagradem ao autonomeado governo do mundo. A profundidade e abrangência da mutação planejada vai além de tudo o que a imaginação banal dos politólogos académicos e dos analistas económicos da mídia pode hoje conceber.
De um lado, a substância ideológica dessa revolução é extraída directamente do materialismo revolucionário do séc. XVIII: trata-se de criar uma sociedade global totalmente administrada e controlada por uma elite de intelectuais iluminados, porta-vozes da razão científica contra o pretenso obscurantismo das religiões e culturas tradicionais.
Mas todo esse racionalismo é somente uma casca brilhante construída para engodo das multidões. Por dentro, o iluminismo inteiro foi uma amálgama tenebrosa de ocultismo, magia, gnosticismo, sociedades secretas, rituais entre cómicos e macabros.
Do mesmo modo, o laicismo "esclarecido" da nova ordem global é puro teatro. Suas fontes são as mesmas do ocultismo da "Nova Era" (New Age). Seus gurus são H. P. Blavatsky, A. Bailey, A. Crowley e outros saídos do mesmo esgoto espiritual. [...] O governo mundial que se forma diante dos nossos olhos tem um programa "religioso" bem definido: criar uma nova "espiritualidade global" que domestique as religiões tradicionais e as nivele a qualquer seita ocultista, mágica ou satanista, e na qual o objectivo essencial da actividade religiosa não seja o culto a Deus, mas a "reforma social" - na linha, é claro, escolhida pela burocracia» (Olavo de Carvalho, Diário do Comércio, 20 de Março de 2006).