17 abril 2012

Coisas do arco-da-velha

O Manifesto Comunista de Marx e Engels sai em 1848 e a vida de Freud está entre 1856 e 1939, mas não deixa de ser surpreendente como o marxismo, dito movimento de libertação da classe operária, recupera e mantém tenazmente até aos dias de hoje a aportación freudiana.
Eu sei o suficiente de marxismo e de freudismo para saber que, no fundo, estou perante duas ideologias convergentes, isto é, para saber que estou perante o discurso do interesse.
Quando se pega num texto do neurologista austríaco, por exemplo, Freud, Sigmund, Estudos sobre a Histeria, Imago, Rio de Janeiro, 1988, verificamos que tudo o que é dito repousa sobre o desejo sexual. É este que para Freud é primário na vida humana.
Até parece que em Freud só o sexo é real. Se isto que acabo de dizer tem alguma pertinência, não poderemos pôr de parte a ideia de que o legado de Freud assenta sobre bases fraudulentas.
Passei quase trinta anos a dizer aos meus alunos isto: o homem não foi feito para o sexo; o sexo é que foi feito para o homem. Eu lembro-me bem de ver nos rostos daqueles rapazes e raparigas que eles e elas se davam conta da evidência das minhas palavras.
Mas recuperando uma ponta deixada para trás deste meu discurso, pergunto: por que será que o marxismo valoriza o freudismo? E se for também pela razão de que este é defensor do patriarcado? A resposta afirmativa seria deveras curiosa porque o marxismo cultural, inclusive em Alcochete através da respectiva Câmara, defende a igualdade de género. Eis-nos perante o diabólico.
A dr.ª Laura Ferreira dos Santos, professora auxiliar da Universidade do Minho, na comunicação "Do Feminino em Freud, ou da Mulher como ser encurtado", escreve o seguinte: «Freud enfermou a meu ver de várias limitações quando tentou pensar a mulher. Provavelmente, ele próprio tinha consciência delas quando confessou à sua amiga princesa Maria Bonaparte que, depois de trinta anos de estudo da alma feminina, havia ainda uma pergunta a que não sabia responder: o que quer a mulher?» sic. Já no fim do seu texto, ainda denuncia a dr.ª Laura Ferreira dos Santos: «O lugar da mulher era em casa, tratando das crianças, escreve Freud. Mesmo que o seu trabalho fosse simplificado, isso absorvia suficientemente um ser humano para poder ter hipótese de ganhar dinheiro no exterior. Além do mais, seria impensável querer lançar as mulheres no mundo do trabalho como os homens» sic.
Coisas do arco-da-velha, quer isto dizer, excrescências de um mundo morto.

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