Falar de Descartes (1596-1650), é falar do primeiro filósofo da era moderna e, inevitavelmente, do seu "cogito, ergo sum" (eu penso, logo sou).
Eu vou fazer a minha tentativa de desmontagem da grande infantilidade que é o "cogito, ergo sum", uma vez que esta frase é o berço da morte de Deus nietzscheana.
Para esta empresa à minha escala, socorro-me outra vez da ideia de que «o real é o que faz o pensamento ou a ausência de pensamento» (E. Palma:1996).
Se o real é o que faz o pensamento, este não passa de uma representação desse real. Assim, se oiço a palavra árvore, não preciso de estar ao pé desta para ver com os olhos da minha mente um tronco fixo à terra pela raiz e a erguer-se ao alto com ramos e folhas. Daqui concluo que todo o pensamento é referencial porque feito pelo real para o referir.
Nesta conformidade, o pensamento apresenta-se como ferramenta com uma função: substituir o real.
Ora a minha pergunta é a seguinte: como é que o ser, realidade máxima, é consequência do seu substituto?
Estamos perante a inversão do real porque este é destronado a favor da parcela substituta. Agora, só o pensamento é real. Seria como se eu olhasse para uma parede revestida de azulejos, apontasse para um e declarasse: este azulejo é a parede. Mas aqui chegámos à ausência de pensamento segundo a lição que nos dá o sábio Ernesto Palma.
Agradeço a Deus por fazer de mim instrumento para este texto.
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