30 setembro 2008

Alcochete o meu ninho


Alcochete, o meu ninho,

Do salineiro e do Moço

De Forcado e do Campino,

De entre nós arreda o fosso.


O valor da tradição,

Da Senhora da Vida

E também da Conceição,

Tu mantém, minha querida.


São João o Padroeiro,

Tua Festa grandiosa

De Agosto dia certeiro,

Guarda sempre mui zelosa.


A Família teu reduto,

Todo o povo o fortim.

Não consintas abelhudo

Que não veja isto assim.

29 setembro 2008

Ermida ou Igreja da Senhora da Vida


Edifício classificado pelo Ministério da Cultura como Monumento de Interesse Público.
Antiga Ermida ou Capela do Espírito Santo, situada na Rua do Norte e Rua da Senhora da Vida (bairro das Barrocas, junto ao Tejo) – Alcochete.

Ao longo de décadas, entre o rico património local este templo tem sido o mais fotografado e filmado por profissionais e amadores, de dia ou de noite, porque o seu enquadramento no Tejo proporciona belas imagens.
É um dos símbolos característicos da vila de Alcochete e está de classificado c
omo Monumento de Interesse Público, pelo Decreto n.º 2/96, publicado no «Diário da República» n.º 56, de 6 de Março de 1996.
Encostado à nave, do lado Poente, existe um edifício de empena triangular onde funcionou o hospital da Santa Casa da Misericórdia de Alcochete (uma placa de mármore sobre a porta principal deste edifício indica essa função de outrora).

Um pequeno templo de nave única e com planta quinhentista, coberto por tecto em madeira, cuja fachada principal é maneirista.

Ao redor das portas principal e lateral há almofadas em pedra do tipo "rusticado".
O tecto original era decorado com uma pintura do séc. XVIII, representando o orago. Em 1986 foram realizadas obras de restauro, pela Santa Casa da Misericórdia de Alcochete, constando da reconstrução da cobertura da nave e de apeamento do púlpito, mas a reprodução da pintura original do tecto nunca foi realizada. Existe levantamento fotográfico do tecto original.
A capela-mor é de planta centralizada, sendo coberta por uma elegante cúpula maneirista, coroada com um lanternim.
As paredes laterais e a capela-mor são parcialmente revestidas com painéis de azulejos azuis e brancos do século XVIII, com passos da vida mariana.

O altar do lado da Epístola, de invocação de Nossa Senhora da Soledade, preserva duas imagens policromadas, talvez seiscentistas, figurando São Brás e Santo António.
A época de construção é a segunda metade do séc. XVI (1577), patrocinada pelo Dr. Afonso de Figueiredo para sua sepultura e de sua mulher, Júlia de Carvalho, cujos túmulos estão no pavimento da capela-mor.
Cem anos depois a ermida já não invocava o Espírito Santo mas Nossa Senhora da Vida, quando Nuno Álvares Pereira Velho de Morais, juntamente com alguns conterrâneos, reorganiza a irmandade, cujo compromisso teve confirmação régia em 1674 e já então era fama que a imagem da padroeira teria pertencido ao santuário da Rainha Santa.
Embora datem, pelo menos, do séc. XVII e tenham continuado até ao século seguinte, no século XX apenas em 1930 e 1935 se realizaram, em Alcochete, as Festas de Nossa Senhora da Vida, da devoção do povo porque, segundo uma lenda local, teria sido Ela que o salvara de ser atingido por uma das pestes que grassou no país.
O recorte de Imprensa reproduzido abaixo é a reportagem das festas de 1935, publicada no jornal «O Século» (clicar sobre a imagem para ver ampliação legível),

A organização das festas da Senhora da Vida estava a cargo da Sociedade Imparcial 15 de Janeiro de 1898 e tinha como principal impulsionador o director da centenária colectividade musical, José Diogo da Costa.
No início da década de 40 do séc. XX essas festas viriam a dar lugar às do Barrete Verde e das Salinas – por iniciativa do jornalista alcochetano José André dos Santos – estando na origem destas a fundação do Aposento do Barrete Verde.

Vale a pena acrescentar que o acima citado reorganizador da irmandade do Espírito Santo –
Nuno Álvares Pereira Velho de Morais, que estará na origem da invocação desta ermida à Senhora da Vida – era descendente dos Monizes de Alcochete, família muito chegada à casa real desde, pelo menos, 1498.
Filho de Nuno Álvares Pereira e de Inês de Novais Neto, era capitão e casou na vila em Maio de 1652. Em 1705 era tido como uma das pessoas principais da vila.

Fontes:
Câmara Municipal de Alcochete (PDM)
Região de Turismo da Costa Azul
Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais
Aposento do Barrete Verde

Bibliografia:
Eduardo Ramos da Costa, «O Concelho de Alcochete», 1902
José António Ferreira de Almeida, «Tesouros Artísticos de Portugal», Lisboa, 1976
Luís Maria Pedrosa dos Santos Graça, «Edifícios e Monumentos Notáveis do Concelho de Alcochete», Lisboa, 1998
José Estevam, «Fidalgos e Mareantes, Apontamentos Históricos sobre os Alcochetanos no Oriente», Alcochete, 2001

Existem igrejas dedicadas a Nossa Senhora da Vida, pelo menos, em Granja do Ulmeiro (Soure), Sobral de Monte Agraço e Calheta (Madeira).
No Brasil é a protectora dos nascituros.
Persistem em Bombaim (Índia) ruínas de uma igreja, construída em 1548 pelos portugueses, em honra de Nossa Senhora da Vida.
Há outras referências a Nossa Senhora da Vida em diferentes pontos do globo, como EUA, Canadá, França e Brasil.

28 setembro 2008

Armando Crispim na Filarmónica Mundial


Em Estocolmo, no dia 8 de Dezembro de 1985, «Armando Crispim, contrabaixista da Orquestra Sinfónica do Teatro Nacional de São Carlos, e Carlos Alberto Fontes, violinista da Orquestra Sinfónica da RTP, são os [...] dois embaixadores [de Portugal] na Filarmónica Mundial» ("Telestar", n.º 3, Nov., 1985).
Segundo o testemunho de Armando Crispim, eram 110 músicos de 55 países.
A distinção de Estocolmo é sentida por Armando Crispim como um dos picos mais altos de uma carreira conquistada à dor, mas pródiga de muitas alegrias.
Todos nós, alcochetanos, devemos sentir orgulho pelo conterrâneo tão ilustre que é Armando Crispim e expressar-lhe o nosso mais profundo reconhecimento.

27 setembro 2008

Quem é o contrabaixista Armando Crispim?


Armando José Crispim, filho de José Crispim e de Alexandrina Madruga, nasceu em Alcochete no ano de 1931.

Primo-irmão do Padre Crispim, Armando fez a instrução primária na escola do Rossio com o professor João Santos Nunes.

As primeiras noções de música recebeu-as do saudoso músico e alcochetano Manuel Gomes da Mestra (1906-1986) no antigo edifício da Sociedade que Armando considerava a sua segunda casa.

Este nosso conterrâneo colaborou com a Banda de Alcochete dos 13 aos 40 anos. O seu primeiro instrumento foi trompete (solista). Depois tocou trombone e também bombardino.

Aos 21 anos de idade, Armando Crispim ingressou na Banda do Regimento de Infantaria n.º 1 de Lisboa, aqui permanecendo até aos 23 anos. De seguida, este promissor profissional da música concorreu à banda da Guarda Nacional Republicana (Lisboa) que o admitiu e reteve durante 28 anos.

Cumulativamente às actividades profissionais, Armando Crispim estudou 10 anos no Conservatório, finalizando o seu curso de contrabaixo de cordas com 18 valores e acabando por ser convidado para professor do mesmo instrumento na referida instituição (1970).

Armando Crispim fez parte da Orquestra Filarmónica de Lisboa na qualidade de convidado para o cargo de solista A. Com esta mesma categoria, mais tarde, também fez parte da Orquestra Sinfónica do Teatro Nacional de São Carlos.

A própria Orquestra da Fundação Calouste Gulbenkian acolheu várias vezes a participação de Armando Crispim.

Registe-se ainda que Armando Crispim, na especialização, trabalhou vários anos, em cursos separados, com o mestre austríaco contrabaixista Ludwig Streicher (1920-2003).

Armando Crispim - contrabaixista notável


O pelouro da cultura da Câmara Municipal de Alcochete vai homenagear o emérito professor de contrabaixo de cordas Armando Crispim.

O evento tem o seu início no primeiro de Outubro (dia mundial da Música) com a abertura de uma exposição foto-biográfica realizada por José Alexandre.

Para assinalar o começo desta efeméride, Armando Crispim (contrabaixo de cordas) e Carolino Carreira (fagote) tocarão um duo de Mozart para o público presente.

No dia 4 de Outubro dar-se-á no Forum Cultural de Alcochete um concerto preenchido com grupos instrumentais (sopro e corda) da Orquestra Sinfónica do Teatro Nacional de São Carlos. Armando Crispim será um dos elementos integrantes deste concerto, mas tocará a solo duas obras originais de contrabaixo de cordas: uma do virtuoso contrabaixista italiano Giovanni Bottesini (1821-1889) e outra de João Passos, professor do Conservatório de violoncelo.

25 setembro 2008

Quem matou Abel?

Na centésima edição (24-09-08) do Jornal de Alcochete, a história de Frederico Varela, irmão de José Francisco Varela (Zé Serralha) está muito mal contada.
Na verdade, as coisas não são assim tão simples como se lêem no referido semanário. Este, inclusive, deixa mal colocado o herói invocado, porque se Zé Serralha foi quem escreveu no alcatrão o grito de incentivo à greve do sal (1957), seria homem de hombridade suficiente para se entregar à PIDE, declarando-se culpado, em vez de deixar que o irmão fosse torturado pela atroz polícia política.
A história foi outra. O paz-d'alma do Frederico foi denunciado à PIDE.
Quem denunciou Frederico?

23 setembro 2008

Novo pároco em Alcochete

Esta notícia era desconhecida de muitos paroquianos de Alcochete.
Tal como esta, que descreve a celebração da posse do novo titular da Paróquia de São João Baptista de Alcochete.
E para quem tenha curiosidade em saber algo mais acerca do novo pároco, a sua resenha biográfica, actividades e contactos estão aqui.
Seja bem-vindo à comunidade alcochetana!

22 setembro 2008

Subsídio para a história das secas do bacalhau



A história das secas do bacalhau em Alcochete principia no ano de 1941, mas somente no início de 1951 seria inaugurada a primeira.
Volvidos quase 58 anos as secas estão à beira da demolição, continuando por fazer a história dessa indústria que trouxe desenvolvimento si
gnificativo ao concelho durante menos de três décadas.

Segundo um recorte do «Diário de Notícias» de 6/8/1966, a decisão de instalar unidades industriais de secagem e sal
ga de bacalhau em Alcochete surgiu em Agosto de 1941, quando a Câmara Municipal deliberou pôr em hasta pública os terrenos baldios que possuía na Praia dos Moinhos, determinando que os mesmos apenas "poderiam ser destinados a fins industriais, comprometendo-se o comprador a iniciar as obras no prazo de um ano, sem o que a arrematação se consideraria nula e de nenhum efeito».
Refere o jornal que, "embora arrostando-se com o parecer desfavorável de alguns técnicos qualificados na matéria, foram montadas nos terrenos que se alienaram instalações de salga
e secagem de peixe" e "os resultados obtidos foram de tal modo lisonjeiros que logo a seguir outras grandes empresas do género se estabeleceram em Alcochete, para onde viriam a transferir as suas sedes sociais".
Refere também o jornal que "estes factos tiveram proje
cção imensa e benéfica na vida do concelho e marcam indubitavelmente o início de uma nova era na sua já secular história".
As secas foram erguidas em terrenos que na época eram baldios municipais e há uma referência interessante na acta da sessão camarária de 1 de Agosto de 1941, elucidativa de que a curta era da primeira industrialização de Alcochete estava a principiar.
Nessa sessão deferem-se requerimentos das primeiras empresas industriais interessadas em adquirir terrenos para a sua instalação e o chefe da edilidade, Francisco Leite da Cunha, dita para a acta uma longa e esclarecedora moção, que permite depreender das suas preocupações sobre o desenvolvimento do concelho.
No primeiro requerimento mencionado, a firma Bacalhau de Portugal, Ld.ª, com sede em Lisboa, pede que seja posta em praça para alienação uma porção de terreno baldio sito nos Moinhos da Praia (actual Praia dos Moinhos), com a área aproximada de 40.000m2, com a base de licitação de $25 por metro quadrado (trata-se do terreno da seca de bacalhau situada atrás do Fórum Cultural).
Perduram, há décadas, dúvidas e boatos acerca deste negócio, porque os baldios normalmente iam a hasta pública a $50/m2, embora este fosse alienado por valor muito inferior.
A fundamentação da venda a preço inferior ao habitual consta da acta e parecem atendíveis as razões, dadas as dificuldades de desenvolvimento do concelho na época, mas entre os mais antigos alcochetanos ainda hoje persistem algumas interrogações.
O caso terá voltado novamente à baila pouco depois da revolução do 25 de Abril. Na página 31 do livro de actas municipais n.º 32, deparei [numa consulta realizada em 2004] com um pedaço de folha de agenda do dia 21 de Fevereiro de 1975 – um período politicamente conturbado – marcando a página que contém o assento da alienação definitiva dos terrenos a $30/m2.
Esse assento foi redigido duas sessões após a recepção das propostas, não pelo secretário da câmara porque a caligrafia é diferente.
Consultei a escritura da venda do terreno dos Moinhos da Praia (hoje Praia dos Moinhos) e nela figura como outorgante, em representação da adquirente, o proprietário e industrial Alberto da Cunha e Silva, residente na vila, que assina na qualidade de sócio-gerente da Bacalhau de Portugal, Ld.ª.
Trata-se de pessoa que detinha um terreno adjacente, confrontando a Sul com aquele que a câmara venderia por 17.576$70 (valor equivalente a 5% do seu orçamento anual na época).
Fica por explicar a divergência de áreas: no requerimento dirigido à câmara, a Bacalhau de Portugal menciona a avaliação de 40.000 metros quadrados, mas na escritura estão indicados 58.589m2. No original da escritura, arquivado na câmara, há vários sublinhados a lápis.
Para adensar o mistério, pouco mais de um mês após a celebração da escritura o gerente da Bacalhau de Portugal é guindado à presidência da câmara, em substituição de Francisco Leite da Cunha. Contudo, o mandato de Alberto da Cunha e Silva seria breve.
Interessante peça política é a moção que o então presidente da câmara, Francisco Leite da Cunha, dita para a acta da sessão em que são apresentadas as propostas de compra de baldios, a qual revela preocupações e perspectivas acerca do desenvolvimento do concelho nessa época.
Transcrevo quase na íntegra a moção aprovada por unanimidade, recordando ser da autoria de alguém que, além de chefe da edilidade durante muitos anos, foi professor do ensino primário e pessoa com uma cultura acima da média para a época:
"Nada menos de três requerimentos, apresentados por outras tantas entidades, são hoje patentes à apreciação da câmara [Não pormenorizo o caso dos outros dois baldios por se referirem a indústrias distintas].
"Os baldios constituem parte integrante do património municipal e, ano a ano, vários requerimentos são submetidos à sanção e despacho da câmara e todos têm obtido deferimento.
"É, porém, fora de toda a dúvida que, quer pela extensão dos terrenos cuja compra se pretende quer pela finalidade a que os destinam os requerentes, claramente indicada nos requerimentos de cada um deles, não deve a câmara cingir-se às normas em uso em casos análogos, visto que a operação a realizar transcende em muito e sob todos os aspectos, tudo quanto até hoje de semelhante se tem efectuado.
"Conclui-se facilmente de um dos requerimentos que a finalidade do requerente não é outra que não seja assegurar o futuro e possivelmente maior incremento da indústria que já explora; da apreciação dos dois outros requerimentos igualmente se verifica que existe o desejo de proceder à montagem e instalação de estabelecimentos industriais, sem qualquer relação ou afinidade com outra indústria já existente e também absolutamente díspares entre si mas de cuja actividade e acção futura são de esperar os mais benéficos e lisonjeiros reflexos na vida do concelho.
"Se cotejarmos o desenvolvimento e progresso dos concelhos da margem Sul do Tejo, vizinhos deste de Alcochete, com o marasmo e estagnação de vida do nosso, impõe-se como verdade axiomática a afirmação de que o próspero desenvolvimento daqueles constitue função do seu desenvolvimento industrial, do qual Alcochete não aproveitou por razões bem sabidas e conhecidas.
"A margem sul do Tejo era a região ideal para a laboração e transformação de todas as matérias primas produzidas pela rica província do Alentejo, desde o momento que entre eles se estabelecesse um sistema rápido, barato e cómodo de comunicações. Uma vez que ele se estabeleceu, era fatal assistir-se à industrialização de toda a margem sul, movimento esse de que Alcochete não beneficiou exactamente porque essas comunicações se não estenderam até cá.
"Nesta conformidade, continuou o concelho de Alcochete quase limitado às suas tradicionais fontes de vida: cultura das terras, a lavra das salinas e o tráfego do rio.
"Destas três fontes de vida, o desenvolvimento da última constitue função do grande florescimento ou decadência das duas primeiras, tão intimamente lhes está subordinada.
"Ora, não é segredo para ninguém o quanto, mercê de circunstâncias de ordem vária, a agricultura tem decaído no concelho. A apreciação das determinantes deste fenómeno alarmante, e de todas as suas graves consequências, levar-nos-ia muito longe; basta, por isso, que digamos que os consideramos como fatais e irremediáveis, exactamente porque os conhecemos e temos estudado.
"Resta, pois, considerarmos como factor económico de valor a lavra das salinas.
"É todavia justo que vejamos que não podemos julgar como elemento de influência num ulterior progresso e desenvolvimento concelhio, a sua exploração.
"Não nos resta dúvida alguma que qualquer modificação no ritmo da mesma se viria projectar perigosamente na já precária vida económica do concelho, mas isso constituiria apenas o agravamento daquilo que está já mau e que passaria então a estar péssimo.
"Sendo assim, parece-nos ser de justiça considerar tal género de actividade unicamente factor imprescindível de estabilidade económica concelhia, o que já não é pouco, isto a menos que o sal não venha a constituir num futuro próximo factor de prosperidade, pelo seu aproveitamento como matéria prima, à semelhança do que já acontece noutros pontos. Esboçada assim a traços largos a situação das três principais fontes de vida do concelho e não podendo tomar em consideração qualquer das outras actividades, que nele se exercem pelo carácter transitório e aleatório que a todos informa – excepção feita talvez da construção naval, que se está tornando progressiva e florescente – a câmara reconhece como sendo uma necessidade vital o estabelecimento de indústrias na área do concelho".

Segundo testemunho do falecido Dr. Manuel Simões Arrôs – confirmado por abundante documentação bibliográfica existente, entre outros locais, no Ministério da Agricultura e Pescas – apenas em 1951 começariam a instalar-se as fábricas de secagem e de preparação de bacalhau da Terra Nova.
Primeiro a Bacalhau de Portugal (inaugurada a 25 de Janeiro de 1951), a seguir a Pescal e, por fim, a Sociedade Nacional dos Armadores do Bacalhau (SNAB).

Alcochete chegará a ser, na década e meia seguinte, o maior centro nacional de secagem e preparação de bacalhau.


Em épocas determinadas, no cais da vila e ao largo havia vários bacalhoeiros fundeados. Descarregavam o produto da safra nas águas canadianas e carregavam sal para a safra seguinte.
Os maiores lugres não podiam vir até cá, sendo a carga e descarga assegurada por fragatas. Hoje restam as ruínas dessa indústria que, por alegada escassez de mão-de-obra local, chegou a trazer gente das regiões de Aveiro e de Viana do Castelo. Alguma ainda aqui reside e seria precioso recolher memórias e documentos.
Vale ainda a pena recordar que a instalação dos primeiros túneis de secagem artificial de bacalhau, nos moldes considerados como de sistema convencional, ocorreu em 1951 na Empresa Comercial e Industrial de Pesca – Pescal, Ldª, em Alcochete, a que rapidamente se juntaram os da Empresa de Pesca de Aveiro e da Sociedade Nacional dos Armadores de Bacalhau, Ldª (SNAB), esta primeiro em Alcochete e depois em Lavadores, no Porto [consultar fonte documental aqui].

Estamos em 2008 e o destino das ruínas da primeira revolução industrial no concelho está traçado: serão arrasadas e em seu lugar s
urgirão empreendimentos turísticos.
A primeira a desaparecer será a das imagens deste texto, situada atrás do Fórum Cultural. A autorização está concedida e a quem tiver dúvidas recomendo a consulta deste documento do passado mês de Maio.

21 setembro 2008

Alcochete


Uivos de ventos vindos do mar
Paredes chegadas
Medos encobertos
Gritos de moiras do fundo das eras
Gemidos de dor
Suores de morte
Pardais às revoadas
Adufas ao chão
Manda o patrão.

A Ponte-Cais das secas e o Solar Velho


A ponte-cais das secas do bacalhau, em madeira e ferro, poderia ainda hoje pertencer ao nosso museu colectivo a céu aberto, mas foi barbaramente destruída depois do 25 de Abril de 1974.

Outra relíquia do nosso património destruída gratuitamente também depois da Revolução foi o Solar Velho na Rua Dom Nuno Álvares Pereira, belo edifício que albergou a GNR durante décadas.

Solar Velho - dizíamos - por oposição ao Solar Novo no Troino onde tem funcionado a Biblioteca Municipal. Como este, o que foi destruído também tinha um telhado saliente sustentado por colunas cobrindo a entrada do edifício, vulgarmente dito alpendre.

Aqui fica este pequeno registo para memória futura.

18 setembro 2008

À sua consideração

Pelos motivos em devido tempo explicados na segunda parte de texto de 18 de Agosto, dispenso-me de comentar esta peça municipal.
Mas que me apetecia zurzir a eito, lá isso apetecia!

O mecanismo do bode expiatório


O mecanismo do bode expiatório vê o mal unicamente no outro, visando a destruição deste.

A nível da linguagem, usa-se a metáfora como um processo facilitador: a (des)razão colectiva escolhe certas figuras malignas como "mais ruins que outras". Quem se socorre do mecanismo escolhe essa figura e aplicá-a indiscriminadamente ao outro odiado.

Por exemplo, Hitler foi de facto muito ruim, mas hoje esta figura é utilizada para absolver outros tiranos tão ruins como ele.

Erros históricos crassos opuseram o nazismo ao comunismo, ainda que para o historiador Alain Besançon um e outro sistemas não passem do verso e reverso da mesma medalha.

O abusivo uso comunista do mecanismo do bode expiatório estendeu-se à mentalidade de nossa época.

Hoje, Hitler é o mal absoluto.

Quando toda a caracterização do mal é despejada em alguém, muitos saem absolvidos do outro lado: Estaline, Mao, Pol-Pot, etc.

Agora é fácil perceber por que os conservadores costumam ser insultados de "fascistas" (já me aconteceu a mim), quando o próprio comunismo, segundo Hannah Arendt, é um totalitarismo.

O mecanismo do bode expiatório e Cristo


A mensagem cristã traz o elemento que interrompe o mecanismo de identificação numa vítima expiatória.
De facto, o crucificado, o Cristo, proclama a sua inocência de vítima sacrificial e apensa ao homem (Humanidade) a responsabilidade da violência presente na História, anulando a possibilidade da harmonia social se restabelecer através de uma vingança sacrificial.
Depois de Cristo, eu já não tenho necessidade de baixar os olhos e fazer vénia a este e àquele para que me poupem a vexames ou me discriminem.
Sou cristão. Não tenho medo de erguer a cabeça e olhar para o meu semelhante de frente porque ambos somos irmãos do nosso Irmão Maior, Jesus Cristo.

Biblioteca de Alcochete

Já temos a nova biblioteca, faltam os livros! Faz impressão ver as prateleiras vazias. Espero um investimento em bibliografia nos próximos tempos.

16 setembro 2008

Mecanismo do bode expiatório e tourada


Desde os primórdios da humanidade, por aqui e acolá mesmo depois do Sacrifício da Cruz, sempre que a colectividade se vê em crise, lança as culpas sobre o indivíduo. Só a morte trágica deste devolve as pessoas comuns à vida pacata. Eis em palavras rápidas e simples uma explicação para o mecanismo do bode expiatório.
Ao longo do séc. XX, os bodes expiatórios do totalitarismo (nazismo e comunismo) foram judeus, burgueses, reaccionários, etc.
Ora a minha tese é a seguinte: se a tourada, simbolicamente, obedecesse ao mecanismo do bode expiatório, as organizações de esquerda não estariam contra essa eminente manifestação cultural de raiz popular.
Hoje não vivemos no culto da colectividade, ou melhor, do que a representa, a assembleia? Esta, avessa a qualquer princípio superior que a transcenda, não inculpa nascituros, família, classe média, etc.?
Se o simbolismo da tourada abonasse a dinâmica desta inculpação, as áreas de esquerda certamente que não atacariam tão encarniçadamente a tourada, antes a apoiariam nem que fosse tacitamente.
Mas os espectadores de uma tourada não são uma massa enraivecida que aponta o dedo ao animal, projectando sobre este sentimentos de ódio e vingança e arvorando-o em suspeito a abater, o que faz do mecanismo do bode expiatório uma estrutura antropológica insuficiente para a análise honesta da corrida de toiros.

15 setembro 2008

O desejo mimético


Vou a uma manifestação
A marcha começa.
Levanto o braço, fecho o punho e grito: A luta continua! A luta continua! A luta continua!
A pergunta que levanto é a seguinte: eu faço isto porque estou convicto de que a minha atitude é intrinsecamente boa ou porque, simplesmente, imito os outros?
Caio em mim a pensar e concluo: eu mais não faço do que imitar os outros, melhor, o outro, o sindicato, o partido, mediador entre mim e o meu desejo para a despersonalização do meu carácter até à alienação completa.

Pequena publicidade, grandes problemas

A afixação de publicidade no concelho está regulamentada, a fiscalização e punição poderão ser eficientes – embora essa informação esteja ausente do rol habitual, vá lá saber-se porquê! – mas a remoção não é, seguramente, feita com a prontidão que certas circunstâncias justificariam.
Alguma dessa publicidade parece-me perniciosa e deveria ser especialmente combatida, penalizada e removida rapidamente de locais públicos.
Nas imediações da Escola Secundária de Alcochete, uma empresa suficientemente identificada autorizou alguém a afixar inúmeros papéis a oferecer empregos(?) destinados a jovens.
Será desnecessário discorrer aqui sobre o regime laboral e as perspectivas de futuro de postos de trabalho em empresas de comida rápida, porque melhor ou pior quase toda a gente ouviu falar disso.
Essa publicidade parece estar em voga, perto de escolas. Não é a primeira vez que com ela deparo em Alcochete.
Além da afixação me parecer ilegítima – salvo se foi paga licença à câmara, mas se esta anuiu o escândalo seria óbvio – fazê-la perto de um estabelecimento de ensino representa um acto socialmente reprovável, a menos que o abandono escolar tenha deixado de ser problema preocupante. Do que duvido por conhecer estatísticas e declarações oficiais recentes sobre a matéria.
Estas e outras causas desencadeiam o abandono escolar, foco de inúmeros problemas sociais presentes e futuros.
Escrevo isto pouco depois da mesma Escola Secundária de Alcochete ter promovido, no fórum cultural, a cerimónia de entrega das menções de Quadros de Mérito, Valor e Excelência; dos diplomas aos alunos que terminaram o Ensino Secundário e do prémio monetário ao melhor finalista dos cursos gerais e dos cursos tecnológicos desse estabelecimento de ensino.
E aproveito para lançar um veemente apelo a cidadãos e empresários de Alcochete para que contribuam activamente com o Agrupamento Vertical de Escolas de Alcochete e a Escola Secundária de Alcochete, de modo a que possam ser distinguidos muitíssimos mais alunos com outras qualidades excepcionais e não menos relevantes, como assiduidade, solidariedade, camaradagem, estudo de questões locais, etc.
Espero que alguém lance aqui mais ideias e as iniciativas partam dos próprios estabelecimentos, através dos respectivos sítios na Internet.

12 setembro 2008

Virose


Isto é virose a nível nacional
Aquilo que hoje vemos tão espalhado
Sem pejo nem travão por todo o lado
O nome a denegrir de Portugal!

Sujeitos duvidosos são chamados
Para os cargos mais altos da nação
Só porque fãs de algum partido são
Com seus projectos muito bem traçados!...

Pessoas sérias ficam pela margem
Humilhadas na própria inteligência
E contemplam pasmadas a voragem

Pronta a tragar um homem de coerência
Que desatente um gesto de coragem
E lhes puxe as gravatas da aparência!

Este soneto é da autoria de JMarafuga

Para pensar

Esta é mais uma notícia denunciadora: a sociedade portuguesa está doente e carece de tratamento, sob pena de se desintegrar.
Alcochete não será exemplar em muitos aspectos, mas no da demografia está melhor que o país.
Os últimos dados estatísticos disponíveis respeitam a 2005 e indicam 237 nados-vivos contra 136 óbitos. Mas há envelhecimento significativo da população: 2690 pessoas até 14 anos de idade e 3890 com mais de 65 anos.
E há outros índices demográficos em que a comunidade alcochetana devia reflectir. Por exemplo, o baixo número de matrimónios celebrados: somente 69 (dos quais 24 católicos). Muito menos que os 92 matrimónios dissolvidos, 45 por morte de um dos cônjuges e 47 por divórcio.

11 setembro 2008

A procissão


Meus amigos, nós temos que continuar a bater nestas coisas porque é a nossa liberdade que está em jogo.
Por mais que irrite um ou outro leitor, não posso deixar de dizer, com o meu pedido de desculpas, que só o perigoso afastamento da realidade poderá subestimar a insistência nos temas que me são habituais.
Todos sabemos que os comunistas apoiam a procissão e até se integram nela disfarçados de contritos penitentes.
As pessoas do optimismo ingénuo gostam de ver e dão-lhes o voto. É o que eles querem.
Mas por trás dos políticos comunistas estão os intelectuais comunistas. Ora o que estes pensam é bem diferente e é o que conta.
Saramago, José, Memorial do Convento, Círculo de Leitores, Lisboa, 1984, refere-se à procissão da página 127 à 134.
Entra assim: «É então que começa a sair a procissão [Corpo de Deus]. Vêm à frente as bandeiras dos ofícios da Casa dos Vinte e Quatro, primeiro que todas a dos carpinteiros, representando S. José, que deste ofício foi oficial, [...]. Atrás vem a imagem de S. Jorge, com todo o seu estado, os tambores a pé, os trombeteiros a cavalo, rufando uns, outros soprando, [...]...imaginemos, por exemplo, que corpo terá o S. Jorge que aí vem se lhe tirarmos a armadura de prata e o gorro de plumas, um boneco de engonços, sem fio de pêlo nos lugares onde os homens os têm, pode um homem ser santo e ter o que têm os outros homens, nem sequer devia ser concebível uma santidade que não conhecesse a força dos homens e a fraqueza que às vezes nessa força há,...» (ob. cit., p. 127-128).
O Cristianismo, por força da própria Encarnação, o Sentido que desce sobre tudo, venera as imagens, ao contrário, por exemplo, do Islão que as recusa de forma absolutamente radical. Aqui, até parece que Deus fica longe do mundo que criou, olímpico destinatário do clamor dos crentes. Mas no Evangelho, a cada passo, lê-se que o reino de Deus está próximo, isto é, chegado a nós.
Por outro lado, a inflexão do sério de séculos para um registo de natureza sexual visa destruir o universo civilizacional cristão para impor uma nova ordem a partir do caos.
Dentro de tal propósito leiamos ainda a passagem da ob. cit., p. 132: «..., Ah, gente pecadora, homens e mulheres que em danação teimais viver essas vossas transitórias vidas, fornicando, comendo, bebendo mais que a conta, faltando aos sacramentos e ao dízimo, que do inferno ousais falar com descaro e sem pavor, vós homens, que podendo ser apalpais o rabo às mulheres na igreja, vós mulheres, que só por derradeira vergonha não apalpais na igreja as partes aos homens, ...».
Esta escrita orgiástica, muito comum em todo o Memorial do Convento, já se pressentia a partir do próprio incipit deste romance de intervenção político-ideológica: «D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa e até hoje não emprenhou.» (ob. cit., p. 9).
O literário iliba a iconoclastia e abjectivismo de Memorial do Convento e de outros romances de Saramago?

09 setembro 2008

Ponte perde tráfego a olhos vistos

Diz-nos esta notícia que a ponte Vasco da Gama está a perder tráfego a uma média diária de 7000 veículos. Considerando que, em 2007, o tráfego médio diário foi de 60.000 viaturas, a actual redução parece-me significativa e as causas prováveis serão a perda de poder de compra e o excessivo valor da portagem (2,25 euros por veículo ligeiro).
Declarações com seis meses e dados de 2007 indicam que, embora a ponte Vasco da Gama continuasse com tráfego dentro das previsões iniciais da Lusoponte, "em relação ao que foi negociado [com o Estado] em 2000 estava 30% abaixo".
Dada a relevância financeira das perdas acumuladas, urge tomar medidas de atracção de tráfego.
A redução significativa do valor da portagem para veículos ligeiros com mais de um ocupante – ideia que, tal como outros, também defendo – por muitas e variadas razões parece-me não só recomendável como até, perante a realidade dos números, absolutamente inevitável.

Sugestões:
Automóveis ligeiros até 2 ocupantes - 2,25€
Automóveis ligeiros com 3 ocupantes - 2€
Automóveis ligeiros com 4 ocupantes - 1,75€
Automóveis ligeiros com 5 ocupantes - 1,25€

08 setembro 2008

Anónimo confundido

Como sempre anónimo, alguém enviou a este blogue uma mensagem do seguinte teor (nada emendei no original):
"mas porque é que com as duas bandas do concelho a actuar em espanha ao mais alto nível o praia dos moinhos nem disso fala? será que não merecerá uma notícia? sr. bastos: justifique-se porque esta omissão é grave!".
Começo pelo despropósito do remate da mensagem: justificar-me de quê e porquê?
«Praia dos Moinhos» é um blogue e define-se como espaço dedicado a "aspirações, ideias, comentários e debate sobre assuntos relacionados com o concelho de Alcochete".
Consequentemente, a pergunta deve ser endereçada a sítios informativos na Internet com carácter local. Consultou-os?
Todavia, se deseja informar-se sobre o assunto focado consulte este blogue. Além do mais, recomendo-o por ser exemplar e cumprir muitíssimo bem o papel informativo e dinamizador da colectividade a que pertence. Oxalá todas fossem servidas de idêntica forma.
Infelizmente não poderei indicar-lhe o sítio da Sociedade Imparcial 15 de Janeiro de 1898 porque me parece inactivo. Mas sei que a sua banda actuará, dentro de dias, em Terrugem (Sintra). Lá estarei.

Por onde andava o(a) autor(a) da mensagem anónima quando escrevi isto há exactamente um ano?
Mantenho tudo o que então escrevi e continuo sem obter explicações para o facto de as nossas duas bandas darem concertos em vários pontos do país mas não termos direito a reciprocidade regular. Mais recentemente voltei a abordar o assunto aqui.

07 setembro 2008

Alta finança e princípios bolcheviques


O artigo de Jeffrey Nyquist High Finance and Bolshevik Principles é dos melhores textos que li ao longo de todas estas férias que agora expiram.

Há anos que ando a dizer neste blog, à altura das minhas capacidades, o que Nyquist, sociólogo e expert em geopolítica, condensa magistralmente no seu artigo.

De mim fazem pouco. E dele?

Esclarecimento


Não é preciso sair para fora de Alcochete para nos depararmos com santos. Eles aí estão: o Beato Manuel Rodrigues (séc. XVI) e o Padre Cruz (séc. XX).
Se eu quero ser digno dos valores defendidos por estes dois membros da Companhia de Jesus, evidentemente que abraço a síntese de todo o Evangelho: amor de Deus e amor do próximo.
No entanto, há homens, muitos homens, cujos guias de vida não são varões que professaram as mais lídimas virtudes cristãs, mas líderes políticos que fizeram do extermínio a pedra angular da própria acção: Estaline matou mais de vinte milhões, Mao matou mais de setenta milhões, Pol-Pot matou mais de dois milhões, etc.
Ora a pergunta é esta: se os guias da minha visão do homem e do mundo são assassinos, eu poderei ser um santo?

05 setembro 2008

Com um pouquito de trabalho...


Com um pouquito de trabalho, liberte-se da maior mentira que se abateu sobre a humanidade desde que esta é humanidade à face da Terra.
Leia e retire as suas próprias conclusões para que, em dias que vêm, nossos filhos e netos sejam livres e nós para eles uma memória honrosa.
Vamos lá, é só um pequeno clique!
Deixe, ao menos, que a dúvida se instale em si!


Nada de confusões

Levado pela lição que me dá Olavo de Carvalho (vulto eminente em Filosofia Política de quem conservo alguns e-mails personalizados), o front económico contra os comunistas não deve ser o único a levar a cabo porque, hoje em dia, talvez nem seja o mais importante.
Sobretudo depois da queda do Muro de Berlim que o mesmo é falar do fim da URSS, o livre mercado de alguma maneira se integra na nova estratégia para a revolução socialista à escala mundial.
O que acabo de afirmar não pode espantar ninguém, uma vez que, por exemplo, sendo a ideologia comunista ateia, as câmaras do PC não deixam de apoiar manifestações religiosas em todo o sul de Portugal.
Para o movimento comunista, tudo é susceptível de virar meio ao serviço da revolução sem que a contradição incomode minimamente.
Mas se eu não tivesse alguns conhecimentos do que é o marxismo, como poderia fazer as denúncias já feitas neste texto de tão poucas palavras?
Tudo isto para dizer que, na presente conjuntura da Aldeia Global, a luta político-cultural é tão ou mais importante que a económica contra o comunismo.

04 setembro 2008

Política de financiamento de Colectividades

Todos os autarcas têm interesse em dinamizar e potenciar as actividades das colectividades existentes no seu concelho. Havendo um orçamento disponível, que critérios devem ser utilizados para distribuir o bolo?
Não conheço o que está instituído em Alcochete, nem conheço modelos aplicados noutros locais, mas considero que deve ser o mais objectivo possível.

Que factores a considerar?
- Nº de eventos que a colectivade efectuou no ano anterior?
- Nº de pessoas que usufruiram dos serviços prestados pelas colectividadas?
- Nº de prémios, medalhas recebidos pela colectividade?
- Contributo da colectivdade para a imagem do concelho através do nº de reportagens publicados na imprensa, rádio ou TV
- Será que devemos considerar todos estes factores devidamente ponderados? Qual a ponderação a considerar?

Qual a vossa opinião e sugestão?

A política do despudor ou o despudor da política


O que a Câmara de Alcochete tem feito nestes três últimos anos é obras que dão nas vistas. Esta mesma é a expressão popular utilizada circunspectamente pelo comunista comum.
Um buraco que se tapa, um passeio que se arranja, uma rotunda que se faz, etc., enchem o olho sem mais exigências do eleitor simples.
Como convencerei o meu vizinho do lado, ex-emigrante a viver de uma reforma que lhe vem dos EUA, que o funcionamento de uma biblioteca é séria prioridade para qualquer autarca merecedor deste nome?
Os munícipes que nesta terra de Alcochete se perfilam para a candidatura ao cargo de presidente de Câmara têm que ter em conta a estrutura mental da maior parte dos eleitores. Esta é bem conhecida dos comunistas e com ela jogam despudoradamente para a manutenção do poder.

«ALCOCHETE TAX FREE» sim , mas...

Qualquer ideal de captação de sectores produtivos com recurso ao «isco» da implementação de uma espécie de «ALCOCHETE TAX FREE» sem que , previamente a essa política , se assegure a requalificação e revitalização das zonas industriais existentes , e se promova a instalação de um verdadeiro parque empresarial , é , com todo o respeito , condenar ao insucesso essas politicas.
A disponibilização de condições físicas e logísticas adequadas é uma medida essencial à promoção de verdadeiras comunidades produtivas.
Como já anteriormente referi , a procura destas condições pode e deve ser prosseguida com recurso a parcerias com o sector privado que absorvam parte significativa do esforço acrescido na realização dos investimentos em infra-estruturas de natureza económica estruturantes , como por exemplo a criação de um verdadeiro Parque Empresarial e de Serviços.
Só paralelamente à realização de investimentos desse tipo , é que faz sentido falar na implementação de um programa de apoio ao investidor e de atracção ao investimento, com um alcance bastante mais abrangente do que a pura e simples isenção de derrama , traduzido num conjunto articulado de medidas de apoio e de incentivo à actividade empresarial que complementam estruturalmente o desenvolvimento endógeno do concelho ao permitir a modernização de empresas e a fixação em Alcochete de novos investimentos geradores de emprego.
Só garantindo esse investimento em infra-estruturas de natureza económica estruturante é que se pode pensar em isenção/redução da derrama , medida complementar a outro tipo de medidas entre as quais posso sugerir outras reduções e isenções , tais como:
- isenção / redução nas taxas de administração urbanística para loteamentos e edificações destinadas ao exercício de actividade económica promovidos por empresas;
- isenção / redução nas taxas de publicidade às empresas que comprovadamente sejam geradoras de postos de trabalho;
- isenção / redução no valor correspondente à derrama , mas tendo em conta os sectores de actividade, dimensão e montante de investimento, criação líquida de postos de trabalho, recuperação de empresas de sectores deprimidos;
- medidas de simplificação administrativa e desburocratização que se traduzem numa diminuição dos custos de tramitação e redução do prazo do licenciamento industrial, concretizadas numa espécie de «Via Verde» de investimento;
- atribuição de prémios pecuniários à inovação empresarial e ao fomento do crescimento e fixação de iniciativas empreendedoras.
Finalmente , a procura destas condições não pode nunca obstar à necessidade de uma política proactiva de procura de investidores no âmbito das parcerias acima referidas.

Números não mentem

Retomo um debate que pode andar perdido nos comentários e me parece valer a pena trazer a primeiro plano.
A derrama de 1,5% lançada pelo município de Alcochete sobre a colecta de IRC das empresas afigura-se-me financeiramente secundária: a previsão dessa receita, incluída no orçamento municipal do ano corrente, é de 330.163€, valor equivalente a, por exemplo, 62% do custo estimado da construção da zona desportiva do Valbom.
Tão pouco que talvez seja mais útil estimular os empresários a aplicar o valor da derrama em projectos locais de índole social, dando público testemunho do apreço por tais acções.
Geralmente as receitas da derrama são baixas. Prova-o o facto de, entre 308 municípios, o de Alcochete ser um dos 159 que a lançam. Sobram 149 que terão concluído ser irrelevante esse contributo directo das empresas para as receitas municipais, embora o seu papel no desenvolvimento local seja imenso se existirem adequadas estratégias de atracção de investimento.
Daí que, obviamente, todos os municípios tenham políticas activas de captação de sectores produtivos. Basta percorrer o país e manter os olhos abertos. Bem perto há visíveis casos de sucesso.
A existência de derrama em Alcochete parece-me inconveniente porque a esmagadora maioria dos residentes activos trabalha longe, os custos das deslocações são elevados e, por muitas outras razões conhecidas, deveria ter oportunidades tão perto quanto possível.
Já aqui defendi duas ideias que mantenho:
a) Empresas que instalem sedes sociais na área do concelho deveriam beneficiar de isenção de derrama sobre a colecta de IRC por um período de 10 anos;
b) O município assume como uma das suas principais prioridades o emprego de residentes perto do lar e, dentro dos limites legais, concederá benefícios específicos às empresas que criem sedes, instalações produtivas ou industriais não poluentes e um número significativo de postos de trabalho em que seja dada preferência a residentes.
Visivelmente, na última década não houve empenho suficiente nesta matéria. Há piedosas promessas eleitorais, mas tudo ficou no papel. Estatísticas oficiais de 2006 indicam que, para uma população activa de 9036 indivíduos, as empresas locais empregavam pouco mais de 1/3: 3454 trabalhadores.
Espalhando betão a eito, o desenvolvimento baseou-se sobretudo em construção habitacional. Seguindo uma das hiperligações fornecidas acima, qualquer cidadão curioso descobrirá que, actualmente, nos impostos directos as receitas municipais mais significativas provêm do imposto municipal sobre a transmissão onerosa de imóveis (2.394.015€), do imposto municipal sobre imóveis (1.982.961€) e de loteamentos e obras (1.084.610€).
Os números demonstram por que, em menos de uma década, se converteram Alcochete, Samouco e São Francisco em dormitórios de "refugiados", desenraizados e desinteressados: estes três impostos representam hoje cerca de 1/3 das receitas do município.


P.S. - Contrariamente ao que era minha intenção inicial, por falta de dados estatísticos comparáveis não é possível prosseguir o artigo.

03 setembro 2008

Memória

Editei aqui um texto, a 16 de Janeiro do ano transacto, chamando a atenção para a nova lei das finanças locais.
Mais de 20 meses decorridos volto à carga porque, em quase todos os aspectos de informação acessível aos munícipes via Internet, essa lei também não foi localmente cumprida.
É urgente que o seja porque há muito a debater sobre o passado, o presente e o futuro, embora sejam conversas estéreis sem noção clara da realidade recente.
Há muito que a ética política impõe transparência e clareza na governação local. Mas quando estas inexistem e há leis com força obrigatória geral, o caso muda de figura.

Alcochete está na rota do Pax Rally 2008

Ao consultar o site da Câmara aqui , verifiquei que nos dias 12 e 13 de Setembro, o espírito do Dakar vai invadir Alcochete com o Pax Rally 2008, uma competição que vai acolher a elite de pilotos nacionais e internacionais de todo-o-terreno e que liga Lisboa a Portimão.

Paulo Benito

Ó da guarda!

É cada vez menos recomendável estar descansado.
Ou muito me engano ou, em breve, os postos de combustíveis praticarão horário de escritório.

Caso antigo

Este caso é antigo e volta à baila.
A notícia citada é esta.

02 setembro 2008

Pedrada no charco

Esta notícia será impossível no caso de Alcochete?
Para mim não é, pelo menos em 2009.

Pólo Logistico do Passil - Exemplo de intervenção destruturante na REN do Concelho

Compreender-se à que num concelho cuja caracterização biofísica do seu território , no que respeita ao uso do solo , se traduz numa percentagem de 84% destinado a área agrícola , florestal ou natural , e cuja REN abrange cerca de 42 hectares , seja pertinente prestar um pouco mais de atenção ao regime jurídico da Reserva Ecológica Nacional aprovado pelo Decreto-Lei n.º 166/2008.
Nos termos do Artigo 2.º daquele diploma legal , a REN é:

1 — A REN é uma estrutura biofísica que integra o
conjunto das áreas que, pelo valor e sensibilidade ecológicos
ou pela exposição e susceptibilidade perante riscos
naturais, são objecto de protecção especial.
2 — A REN é uma restrição de utilidade pública, à
qual se aplica um regime territorial especial que estabelece
um conjunto de condicionamentos (limitações) à ocupação, uso e
transformação do solo, identificando os usos e as acções
compatíveis com os objectivos desse regime nos vários
tipos de áreas.

A REN visa concretamente:
- Contribuir para a ocupação e o uso
sustentáveis do território e tem por objectivos:
a) Proteger os recursos naturais água e solo, bem como
salvaguardar sistemas e processos biofísicos associados ao
litoral e ao ciclo hidrológico terrestre, que asseguram bens
e serviços ambientais indispensáveis ao desenvolvimento
das actividades humanas;
b) Prevenir e reduzir os efeitos da degradação da recarga
de aquíferos, dos riscos de inundação marítima, de cheias,
de erosão hídrica do solo e de movimentos de massa em
vertentes, contribuindo para a adaptação aos efeitos das
alterações climáticas e acautelando a sustentabilidade ambiental
e a segurança de pessoas e bens;
c) Contribuir para a conectividade e a coerência ecológica
da Rede Fundamental de Conservação da Natureza;
d) Contribuir para a concretização, a nível nacional, das
prioridades da Agenda Territorial da União Europeia nos
domínios ecológico e da gestão transeuropeia de riscos
naturais.

Antes de prosseguir , e em termos sumários , devo chamar a atenção do leitor menos familiarizado nestas questões para uma confusão em que muitos incorrem quando confundem REN - ‘Reserva Ecológica Nacional’com ‘Rede Ecológica Nacional’ , a qual visa a protecção de espécies ou habitats, que é para o que serve por exemplo a Rede Natura 2000. O que a «Reserva Ecológica Nacional» visa proteger, são sobretudo as configurações no terreno e os suportes físicos.

Mais do que um instrumento proibitivo ou «non aedificandi» , a REN é um instrumento muito importante quando usado de forma construtiva no âmbito do planeamento físico do território.

No plano operativo , a delimitação da REN é concretizada pela intervenção nos instrumentos municipais de planeamento do território.
Tal significa que as Câmaras Municipais podem tomar a iniciativa de delimitar a zona destinada a REN no território dos seus concelhos.
É neste ponto que alguns contestam a municipalização da REN , alertando para os perigos decorrentes do facto dos mecanismos e critérios previstos na lei quanto à iniciativa de delimitação operativa da REN por parte do municípios , não salvaguardarem convenientemente a posição das autarquias e dos interesses que representam , contra a pressão a que habitualmente os órgãos autárquicos estão sujeitos por parte dos promotores imobiliários sedentos de mais e mais espaço onde possam construir.
Ora , no caso de Alcochete , temos um exemplo evidente da iniciativa camarária de delimitação da REN de forma gravemente prejudicial ao planeamento sustentado e qualificado do concelho.
Refiro-me concretamente à delimitação da REN promovida na sequência do parecer favorável dado pela Câmara Municipal de Alcochete à respectiva delimitação para a área do
Plano de Pormenor de Expansão da Área de Indústria, Comércio e Serviços do Passil, parecer favorável emitido na reunião ordinária da CMA de 21/03/2007.

Trata-se precisamente a área onde está instalado o «baldio logístico» de Alcochete , cuja implantação e expansão atenta gravemente contra o ideal de qualificação e desenvolvimento sustentável do nosso concelho.
Para os leitores em geral , e em especial , para aqueles que só recentemente acedem a este Blogue , sugiro uma olhadela aos «posts» com as etiquetas «Betonização» e «Passil» para melhor entenderem a gravidade que esta opção camarária traduz para o concelho , e em que um dos passos foi a intervenção da CMA na delimitação da REN em Alcochete.
Penso que assim ficará melhor esclarecido a alerta de Fonseca Bastos no seu «post» «É a hora» datado de 22 de Agosto último , em que escreve a propósito do recém publicado regime jurídico da REN , e passo a citar: Relevo ainda que, "ao longo da elaboração das orientações estratégicas (...) da delimitação da REN a nível municipal, as entidades públicas competentes devem facultar aos interessados, nos respectivos sítios da Internet, todos os elementos relevantes para que estes possam conhecer o estádio dos trabalhos e a evolução da tramitação procedimental, bem como formular observações, sugestões e pedidos de esclarecimento".
No caso do Passil , esta inovação do regime jurídico da REN chegou tarde de mais , pelo que só a derrota do partido no poder em Alcochete permitirá estancar o verdadeiro atentado em que se tem traduzido a expansão daquele «baldio logístico» , feito à custa da sua reserva ecológica , à custa da qualificação e do desenvolvimento sustentado do concelho , e à custa da segurança rodoviária dos seus munícipes que têm de partilhar diariamente os acessos e as vias rodoviárias locais com centenas e centenas de camiões TIR que entram e saem daquele pólo logístico.

Novo condómino

Dou as boas-vindas a António Maduro, nono condómino inscrito neste blogue.
Não posso nem devo omitir, pelo menos a quem o desconheça, tratar-se do ex-presidente da Assembleia Municipal de Alcochete e actual presidente da concelhia do PS.
«Praia dos Moinhos» é um espaço suprapartidário sobre questões pertinentes e relevantes para a comunidade alcochetana. Tal significa que este blogue é e será um espaço discussão que reune pessoas sem filiação partidária ou filiadas em diferentes partidos, embora não se subordine a nenhum em especial.
Volto a recordar que «Praia dos Moinhos» é um espaço de debate sobre Alcochete, aberto à participação de qualquer membro da comunidade, tenha ou não pontos de vista coincidentes com os dos condóminos mais antigos.
Todos os textos têm autor devidamente identificado (em rodapé) e podem ser comentados, embora a exibição de comentários dependa de validação por um dos administradores do blogue. São rejeitados comentários que contenham expressões ofensivas ou considerações de carácter pessoal sobre autores e cidadãos ou entidades estranhos ao blogue.

01 setembro 2008

AOS NOVOS RESIDENTES EM ALCOCHETE - INSCREVA-SE COMO VOTANTE EM ALCOCHETE

Sobre a temática do perigo que representa a abstenção eleitoral nas próximas eleições autárquicas , importa começar desde já a desmistificar a ideia muito na moda que os eleitores não votam porque estão cansados e desconfiados dos políticos e que a ABSTENÇÃO é o pior castigo que lhes podemos dar.
Nada mais falso e nada mais perigoso.
No caso de Alcochete , o pior que pode acontecer ao partido comunista , partido que sustenta o executivo camarário , é os seus candidatos não serem eleitos.
Ora , ao absterem-se, os eleitores não impedem que os mesmos voltem a ser eleitos uma vez e outra e outra.
Sobre o abstencionismo , tema que voltarei a abordar no futuro porque nunca é demais repetir estes avisos , importa que os munícipes de Alcochete interiorizem o seguinte:
A abstenção não é um voto. Na situação actual o voto exprime mesmo uma posição. O voto expresso nas mesas eleitorais é a voz dos cidadãos participantes.
A abstenção é marcadamente «um não me interessa».
Mas há outra realidade que se pode traduzir num «não me interessa» , num concelho com o perfil demográfico de Alcochete , onde um número significativo de novos residentes se tem vindo a fixar na última década.
Refiro-me à situação dos novos residentes que ainda não estão recenseados nas freguesias do concelho e que portanto ainda não podem exercer aqui o seu direito de voto.
Para além do combate à abstenção , promover activamente o recenseamento eleitoral dos novos residentes em Alcochete , é uma das iniciativas que considero fundamentais a uma aproximação efectiva entre a designada legitimidade institucional dos órgãos autárquicos eleitos e a sua legitimidade democrática (neste capítulo parece evidente que a legitimidade institucional da actual Câmara Municipal de Alcochete está longe de corresponder à sua legitimidade democrática)
O recenseamento eleitoral dos novos residentes em Alcochete constitui um passo essencial no sentido do seu envolvimento político na vida do concelho , e será certamente um instrumento precioso no combate pela derrota do partido do poder em Alcochete.
Sem prejuízo de entender que compete aos partidos da oposição iniciarem uma frente comum nesse sentido , fica aqui um APELO a todos os leitores deste Blogue.
Caso no vosso circulo de familiares , amigos , conhecidos , vizinhos haja pessoas que tenham optado por residir recentemente em Alcochete , incentivem-nos a recensearem-se na respectiva Freguesia de forma a poderem votar aqui nas próximas autárquicas , sensibilizando-os de que a sua condição de munícipes pagantes de impostos municipais ( nomeadamente o IMT que pagaram por ocasião da aquisição da sua casa em Alcochete) só será convenientemente defendida se assegurarem o seu direito de intervir politicamente neste concelho , quanto mais não seja , pelo simples exercício do direito de voto.