Vai para quatro anos – quando este blogue tinha dois ou três leitores diários – editei um texto no qual chamava a atenção para a degradação dos centros históricos de Samouco e Alcochete e para um exemplo dado pelo município de Évora.
Agora – quando este blogue tem centenas de visitantes diários – vale a pena chamar a atenção para algo que escrevi... 18 dias após a tomada de posse dos actuais autarcas.
Volvidos 45 meses chegamos à época de balanços políticos e é bom reflectir nas inúmeras oportunidades perdidas.
Uma das oportunidades perdidas prende-se também com o edifício que serviu de ilustração a esse texto, o qual, embora desde 1992 esteja classificado como de interesse arquitectónico municipal, já por duas vezes esteve para ser destruído. E, em face do abandono a que continua votado, qualquer dia acabará mesmo por ruir definitivamente.
Da primeira vez (em 2004) salvei esse imóvel do camartelo com uma simples chamada de atenção ao então presidente da câmara. Presumo que da segunda vez (em 2006) também, porque reagi violentamente com novo texto aqui publicado. Vale a pena voltar a ele e reparar ainda nos comentários então suscitados.
O edifício em causa situa-se na Rua Ciprião de Figueiredo, n.ºs 38 a 44, em Alcochete, e o seu estado actual está bem à vista de quem não for cego.
Para quem não conhece, trata-se da artéria onde se situa a sede do Clube de Caçadores. Quem desce a Av.ª da Revolução, vindo da Escola EB 2,3 El-Rei D. Manuel I, é a terceira artéria à esquerda. Em sentido oposto é a segunda à direita.
4 comentários:
A questão que levanta é tão importante quanto complexa.
Muitos de nós gostariam de ver o centro histórico da Vila mater as suas características arquitectónicas, porém os interesses económicos são insensíveis a essas ideias românticas.
Os actuais habitantes das casas degradadas do centro histórico são maioritariamente pessoas idosas de parcos recursos. A esses certamente não seria descabido um auxílio da autarquia para a recuperação da casa. Mas à medida que essas casas vão ficando devolutas, os proprietários pretendem sobretudo obter o maior rendimento possível com a transacção do imóvel. Julgo que é o que se está a passar com o imóvel que ilustra o seu artigo de há 4 anos, que se situa na Rua Dr. Ciprião de Figueiredo.
Há cerca de 5 anos, estava para venda uma vivenda degradada no lote de terreno onde hoje está construído o prédio do PBI na esquina ao final da Rua Dr. Ciprião de Figueiredo. Quando fui perguntar o preço, com intenção de recuperar o imóvel para habitação, foi-me pedido um preço equivalente ao preço m2 de todo aquele terreno para construção, multiplicado por 3. Obviamente que foi esse o destino dado àquele espaço, e o construtor ainda ganhou a área de um piso extra.
Não conheço o PDM de Alcochete, mas se os proprietários das casas da zona histórica tiverem fundamento para acalentarem a mínima esperança de um dia poderem vir a vender os espaços a preços equivalentes ao triplo da área de construção, não terão a mínima motivação para recuperar, ou para vender aos preços da realidade actual.
Os edifícios classificados têm, por imperativo legal, um tratamento distinto dos demais.
Se assim não fosse, qualquer pato bravo compraria os Paços do Concelho, a Residência Paroquial, a Quinta da Praia das Fontes, a Igreja Matriz, a igreja da Senhora da Vida, a antiga igreja da Misericórdia (hoje Museu de Arte Sacra), os arcos de São Francisco e a Casa do Mirante em Samouco construindo em seu lugar torres de seis pisos.
O mais estranho (ou talvez não!) é que existindo no concelho de Alcochete dezenas de edifícios classificados – coisa que a esmagadora maioria dos naturais e residentes continua a ignorar – até hoje nenhum autarca resolveu identificá-los à vista como tal, para que nunca mais existissem dúvidas e desconhecimento e toda a gente reparasse nessas jóias do nosso escasso património arquitectónico!
Volto aqui para chamar a atenção para um outro pormenor importante, relativamente ao qual me parece que os autarcas têm metido a cabeça na areia: há vários edifícios particulares no concelho que julgo merecerem classificação.
Sr. Fonseca Bastos
Conheço, como já disse, o edifício da Rua Dr. Ciprião de Figueiredo.
Desconhecia que estivesse classificado.
Relativamente aos edifícios classificados defendo o seguinte:
1. Tratando-se de um património de reconhecido interesse público este deve sobrepor-se ao interesse privado.
2. Constituindo a classificação de interesse público um ónus sobre a esfera patrimonial do proprietário este deve ser compensado, em termos fiscais e mesmo financeiros, para poder manter o bem classificado em boas condições sem que isso para si constitua um prejuízo.
3. Caso o proprietário, de forma negligente ou culposa, deixe chegar o património ao estado em que se encontra o edifício em questão, a solução passa pela expropriação com justa indemnização, recuperação e posterior venda.
O facto de os edifícios classificados não estarem identificados de forma visivel, provavelmente não será por esquecimento.
Enviar um comentário