15 agosto 2009

História do bairro hoje denominado 25 de Abril



Como nasceu, há mais de três décadas, o bairro de casas económicas de Alcochete.

A história do actualmente denominado Bairro 25 de Abril – situado entre a Escola do Ensino Básico de Valbom e o Hotel Alfoz, no sítio denominado «Pão Saloio», em Alcochete – principia por volta de 1964, logo que empossada a vereação da Câmara Municipal de Alcochete presidida por João Pereira Coutinho Leite da Cunha e tendo como vice-presidente o dr. Francisco Elmano Alves.
Foi então decidido que a iniciativa prioritária a pôr em acção por esse executivo municipal seria o crescimento urbanístico da vila.
O trabalho principiou pela elaboração do Plano Director Municipal, a cargo do eng.º Barata da Rocha, e a concretização dos estudos de pormenor dos núcleos com perspectiva de desenvolvimento imediato.

Paralelamente, a câmara lançou mão da compra de novas áreas rurais urbanizáveis, de modo a controlar no futuro os preços dos terrenos, não os deixando inflacionar pela especulação em detrimento da população.
Uns anos antes tinham-se recolhido, através de inquérito realizado junto da população, dados acerca das necessidades sentidas pelos residentes, trabalho executado por assistentes sociais e agregado ao denominado Plano de Desenvolvimento Comunitário de Alcochete.
Tais dados indicavam que uma das necessidades mais vivamente sentidas era a disponibilidade de habitação moderna e de renda acessível, dirigida sobretudo à faixa dos novos casais.
Foi nesse sentido que o vice-presidente Elmano Alves iniciou os contactos com o dr. Manuel Esquível Aboim Inglês, então delegado do Instituto Nacional do Trabalho e Previdência de Setúbal, a fim de encaminhar o processo administrativo para a construção de um bairro com capitais da Federação das Caixas de Previdência. O processo foi aberto e seguiu-se o inquérito prévio exigido por lei.
O dr. Elmano Alves continuaria a acompanhar as diligências processuais embora, entretanto, deixasse de exercer funções na Câmara Municipal, ingressando no governo de Marcelo Caetano como subsecretário de Estado.
Por um conjunto de circunstâncias favoráveis a Alcochete, o dr. Baltazar Rebelo de Sousa – pai do conhecido professor universitário e comentarista Marcelo Rebelo de Sousa – antigo subsecretário de Estado da Educação Nacional e Governador Geral de Angola, ascenderia ao cargo de ministro das Corporações, Previdência Social e da Saúde e Assistência.
E o mesmo dr. Elmano Alves exerce a sua influência junto do novo ministro – de quem fora secretário e era amigo de longa data e compadre – no sentido de abreviar a aprovação do bairro.

Pelo meio houve um pequeno mas simpático gesto, que poderá ter pesado no processo de de
cisão: ao criar-se a cantina escolar de Samouco entenderam os responsáveis locais da época atribuir-lhe como patrono o dr. Baltazar Rebelo de Sousa, que sempre subsidiara – inclusive do próprio bolso – a manutenção dessa cantina.
Na manhã de 31 de Maio de 1970 – dia da visita do Chefe do Estado para as comemorações do V Centenário do Nascimento d'EI-Rei D. Manuel I – seria prestada singela homenagem ao ilustre amigo de Alcochete, com o descerramento do seu medalhão em bronze e de uma lápida alusiva na cantina de Samouco.
Antes, na sede da Sociedade Filarmónica Progresso e Labor Samouquense, realizar-se-ia uma sessão solene de boas-vindas, conforme destaca «O Século» na edição de 1 de Junho de 1970.
O dia foi de festa rija em Alcochete e o dr. Baltazar Rebelo de Sousa aproveita a cerimónia oficial para revelar que acabara de despachar a aprovação do Bairro da Federação das Caixas de Previdência, surpreendendo o Chefe do Estado e entidades presentes com a apresentação da maqueta dos 124 fogos a construir em terrenos antes adquiridos pela câmara, no sítio denominado Pão Saloio, cedidos à Federação das Caixas de Previdência. Imediatamente deu-se início à execução da obra.
A imagem antiga que ilustra este texto (a outra é do bairro na actualidade) reproduz o momento em que, junto à tribuna de honra, o então ministro das Corporações, Previdência Social e da Saúde e Assistência, dr. Baltazar Rebelo de Sousa, apresenta a maqueta daquele que antes da Revolução dos Cravos seria conhecido como Bairro da Caixa e que posteriormente passaria a denominar-se Bairro 25 de Abril.
De notar que, à esquerda da imagem acima, aparece também o então presidente da Câmara Municipal, João Pereira Coutinho Leite da Cunha.

1 comentário:

Melo disse...

Caro F.B:

Li este artigo com grande curiosidade pelo facto de, não conhecer o que rodeou a construção do Bairro 25 de Abril de Alcochete.
No entanto, eu por sinal até morava na parte de baixo e assisti ao nascimento deste bairro.
Recordo-me de muitas histórias dessa época, em que as pessoas assaltavam as casas e instalavam-se lá.
Eu só não fui também morar para aquele bairro, porque o meu pai não quis arriscar a ser colocado depois na rua.
de alguma forma, este foi o inicio do que daí resultou para cá, cada vez mais, tem vindo a aumentar a população no concelho.
São artigos deste que todos devemos lêr e saber, fazem parte da nossa história, história do concelho.