Eu estava a ler Descartes numa esplanada aqui do Largo do Poço, quando um amigo passou rente a mim e disse, arrancando-me à leitura:
-Então, a ler o Discurso do Método?
Eu respondi:
-A reler. Descartes é maluco!
Volta o meu amigo:
-Não é nada!
Como o meu interlocutor já não esperasse pela minha resposta, ela aqui fica.
Eu fui aquele que fez a minha casa. Aqui, o que é substancial? Eu ou a casa? Sou eu quem é substancial. A casa é acidental.
Muitas vezes tenho aqui dito, seguindo a lição de Ernesto Palma, que «...o real é o que faz o pensamento». Então este é a representação do real. Ora as perguntas inevitáveis são estas: desde quando a substância ou a essência é o representante e o acidente o representado? E desde quando é que este último pode ser uma consequência do primeiro? Tudo isto não será a inversão do real? E não foi isto que fez Descartes com o seu "cogito, ergo sum" (eu penso, logo eu sou)?
Maquiavel na política e Descartes na filosofia foi tudo o que precisaram os revolucionários dos tempos modernos cuja insânia levou à matança de muitos milhões de pessoas no séc. XX.
Vou referir dois casos muito sintomáticos de inversão da realidade que li num dos meus livros, mas que neste momento não estou com disponibilidade para fundamentar bibliograficamente porque poderia gastar horas na busca.
Quando alguém entre um grupo de camaradas onde estava Lenine disse que a realidade não suportaria o que defendia o chefe da revolução russa, este respondeu: "tanto pior para a realidade".
Creio que na América Latina, um revolucionário dizia para um subordinado que tinha à frente dos olhos o contrário do que lhe dizia o seu chefe: "tu acreditas no que vês ou naquilo que eu te digo?". Estruturalmente, desde o 25 de Abril, esta é a estratégia que têm seguido os comunistas em Alcochete para desacreditarem aos olhos da turba multa todos aqueles que lhes fazem frente.
1 comentário:
Você é de extrema direita ?
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