18 maio 2011

" De Çamoquo a Samouco Sua História Suas Gentes"

" De Çamoquo a Samouco Sua História Suas Gentes" é um livro que o escritor José António dos Santos Pinheirinho publicou, há cinco anos atrás, em 2006. É um livro sobre o Samouco. Desde os seus primórdios até aos princípios do séc XXI.
Foi posto no mercado por exclusiva iniciativa do autor, sem quaisquer apoios ou editora que promovesse o seu lançamento.
É, em minha opinião, uma monografia de grande fôlego. Exigiu tempo, dedicação e empenho. Porventura, a mais completa obra que foi publicada sobre a terra até ao momento. A minha terra mas também a terra adoptiva deste autor.
José António dos Santos Pinheirinho é um filho adoptivo do Samouco. Aqui não nasceu mas muito tempo viveu. Desde muito novo. Onde tem familiares e onde lhe morreram familiares.
Estudioso, metódico e persistente, conhece melhor que ninguém a nossa querida vila, até há pouco aldeia. Um lugar com estilo bem marcado e identidade própria. Com identidade própria porquanto o "samouqueiro", pela sua própria natureza, é diferente do "alcochetano". Apesar de habitarem o mesmo concelho. O "samouqueiro" é menos individualista, mais permeável à inclusão de outras culturas e com um maior sentimento de partilha. Com tradições agrícolas mais vincadas e com mais conhecimento daquilo que o estuário do Tejo pode oferecer no domínio da pesca. Contudo, o "alcochetano" terá também as suas qualidades. Outras qualidades.
De qualquer modo, são indeléveis as diferenças entre os dois, as quais vêm dos tempos da restauração do concelho ocorrida em 15Jan1898. Data a partir da qual foi sempre notória uma subalternização do Samouco em relação a Alcochete...lendo o livro ou outra historiografia disponível percebe-se melhor porquê.

Este livro é uma exaltação ao Samouco. Um catálogo de emoções. Um trabalho de apoteose e encanto. Nele se descreve a sua origem, aquilo que são as suas tradições, cultura e modo de vida da população. Aborda a sua evolução histórica. Faz um registo detalhado sobre as suas principais referências caracterizadoras e marcos identitários. Fala da Igreja Matriz, da Capela de Conceição dos Matos, das suas antigas quintas, das Festas Populares, etc. Evoca "samouqueiros" ilustres que ao longo do tempo se foram destacando e cujas biografias apresenta com elevado rigor factual. Enfim, é uma obra que enche a "alma dos samouqueiros", que nos faz gostar da nossa terra e que, em meu entendimento, todo o concelho devia conhecer. Até para melhor perceber o que esta vila é...
Mas José António Pinheirinho vai mais longe. Antecedendo o prefácio, o autor agradece a todos quantos lhe confidenciaram experiências passadas e conhecimentos específicos, contribuindo assim para que o livro se tornasse uma realidade. Por ali passam os nomes de muitos homens e mulheres que são e foram o exemplo "vivo" do que é ser "samouqueiro". Revelador de uma enorme acutilância crítica na observação daquilo que constitui a idiossincrasia da nossa gente.
Da mesma forma que, no posfácio, agarrando no período da sua infância e juventude, pinta com palavras "os quadros" do que era, na altura, a vida dos "putos e jovens", seus conterrâneos, no Samouco. Em homenagem aos amigos e companheiros, com quem teve a felicidade de partilhar aqueles tempos.
É comovente fazer a leitura daquelas seis páginas. Nelas se expressa o significado do que representa a verdadeira amizade, a pura generosidade e a efectiva solidariedade entre quem vive lado a lado.
Neste último capítulo do livro estão integralmente retratadas duas décadas de vida da nossa terra. Desde meados dos anos cinquenta até ao tempo da Revolução de Abril.

Trouxe este livro à colação, não apenas pela sua indiscutível qualidade literária, mas também pelo carácter genuíno e verdadeiro (saudosista mesmo) do que nele se descreve. Aqui está a história do Samouco e suas gentes. Especialmente a história da última metade do séc XX, a qual o autor também viveu.
Por isso, falar deste livro, constituía para mim um imperativo ético. Pela sua importância, pertinência e actualidade. Para dar conhecer a todo o concelho esta grande obra e para dizer a todos a honra que é ter nascido "samouqueiro".
Por último, torna-se difícil exprimir qualquer sentimento de gratidão ao autor. É inefável o que sinto sobre "De Çamoquo a Samouco Sua História Suas Gentes".
Devem todos lê-lo!...
Como "samouqueiro", trago simplesmente o meu obrigado a José António dos Santos Pinheirinho.


1 comentário:

João Pinho disse...

Volto ao tema, para abordar a questão da difusão, junto da comunidade educativa de Alcochete, em especial junto dos mais jovens, daquilo que constituem as principais referências do passado e os marcos identitários do concelho e suas freguesias.
Porque não convidar escritores contemporâneos do nosso concelho que falam e estudam o concelho, como José António dos Santos Pinheirinho e outros, para irem às escolas falarem do concelho e das freguesias?
Contar o nosso passado às nossas gerações mais jovens. Pôr o presente a falar sobre o passado. Dar a conhecer a nossa terra, cujas origens e seu percurso, infelizmente, os jovens pouco conhecem...
No âmbito das actividades "extra- curriculares?..." os serviços da autarquia podem promover, nas escolas e outros espaços públicos, colóquios, mesas redondas, conferências, etc, destinados aos jovens, pais e encarregados de educação, muitos deles novos residentes, para dar a conhecer melhor a origem, as tradições, usos e costumes, aspectos etnográficos e sociológicos de Alcochete, Samouco, S. Francisco, Fonte da Senhora e Passil. Dar a conhecer a evolução histórica do município. Para isso, melhor que ninguém, estão os autores e historiadores com afinidades ao concelho e que se debruçam sobre o concelho. Que se faça isto e se valorizem as singularidades e potencialidades que a "cultura alcochetana e samouqueira", especialmente estas duas, oferecem.
É tempo de deixarmos para trás os conteúdos ideológicos e de natureza politica, em relação aos quais a nossa Câmara muito gosta de os apresentar à comunidade e passarmos a dar enfâse aos temas que a todos une, ou seja, falar, em suma, da nossa história, do nosso passado.
Deixo esta sugestão, uma vez mais, aqui no blog, à consideração dos nossos autarcas e dos técnicos das divisões de Cultura, Identidade Local e Turismo e de Educação, Desenvolvimento Social e Saúde, para que a autarquia, em articulação com a agrupamento de escolas, possa pôr os nossos autores a falar com os nossos jovens e respectivos encarregados de educação. Não apenas de vez em quando, de forma esporádica, mas, sim, muitas vezes, consecutivamente, ao longo dos três períodos escolares. Basta apenas planear e organizar...
Promovemos os nossos autores e valorizamos a nossa juventude...