O verso «vencer o mal e o bem» de Eros e Psique era o que mais dificuldade me oferecia quando analisava este poema de Fernando Pessoa com os meus alunos.
Interiormente, sempre achei que eu ficava aquém do que o poeta queria dizer.
Hoje, depois dos meus estudos sobre gnosticismo, morreu em mim aquela ideia de dar o benefício da dúvida a todos estes poetas do séc. XX, modernistas e pós-modernistas.
«Vencer o mal e o bem» é arredar a moral do meu horizonte e de cima do penhasco da minha soberba ferir o céu com o grito: eu sou deus.
Mas mesmo que «vencer o mal e o bem» se tornasse possível, repugna-me pensar que o homem regredisse a uma total ausência de organização legal (anomia) e matar o outro fosse tão natural como a procura de abrigo ou alimento. Quero dizer, ainda assim, haveria sempre alguma regra.
Eis-nos de regresso à moral, a menos que queiramos ser iguais ao leão da selva que mata os leõezinhos se o instinto lhe diz que estes são filhos de progenitor intruso em seu território.
O leão está para lá do mal e do bem.
O homem distingue o mal do bem e escolhe este ou morre naquele.
Eu devo esclarecer que este meu texto decorre da minha profunda convicção de que livre arbítrio não significa escolha para matar.
ResponderEliminarNoutra altura poderei dar expressão a esta ideia num post mais amplo.