29 outubro 2013

Um Fenómeno Efémero...ou uma Emergente Realidade?...




No rescaldo das Autárquicas 2013, verificou-se, uma vez mais, que Alcochete decidiu escolher a linha da continuidade. Indiscutivelmente, venceu a CDU. Ganhou no Concelho mas não ganhou o Concelho.
Com algum desencanto, alguém dizia, há poucos dias, “em Alcochete o eleitorado é comunista”. Porém, como nada é eterno, eu diria antes: “em 2013, o eleitorado votou comunista mas o futuro a Deus pertence”. De qualquer modo, a vitória é irrefutável e nada há a escamotear. Mérito aos vencedores, dignidade aos vencidos.
Entretanto, à laia de conclusão, quero deixar aqui algumas notas breves visto detectar indicadores que merecem adequada reflexão.
Em primeiro lugar, de sublinhar que a abstenção constitui o “principal partido”. Mais de 4.500 eleitores inscritos não foram votar. Facto que, a meu ver, penaliza mais os partidos do arco democrático já que, enquanto na CDU, o seu eleitorado, activo e mobilizado, vai sempre votar, nos restantes partidos, os seus apoiantes e simpatizantes, nem sempre votam. E perante a actual conjuntura nacional, como muitos destes, descrentes e  desmotivados, resolveram não votar, a diferença acentuou-se, ajudando a construir a famigerada maioria dos comunistas.
Daí que o combate à abstenção se afigure uma importante preocupação dos democratas. Passar a mensagem de que a renúncia ao voto dá origem às “amplas maiorias” da CDU, com claro prejuízo para os demais partidos. Uma lição para todos nós.
Em segundo lugar, de realçar a derrocada eleitoral do PS no Concelho. Perderam cerca de 50% dos mandatos, à excepção da Freguesia do Samouco onde o seu número se mantém inalterado. As razões...bem todos sabemos que o PS local é uma organização autofágica que se “devora a si própria” em vez de voltar-se para o exterior e lutar para “devorar” a hegemonia dominante. Como corolário, assiste-se à sua crescente pulverização e considerável perda de influência.
Em terceiro lugar, uma referência para os democratas do PSD/Alcochete. O meu Partido. Foi feito tudo o que era possível para tentar chegar à vereação da Câmara Municipal e atingir um número maior de mandatos na Assembleia Municipal e nas Freguesias. Desiderato que infelizmente não se concretizou. Apenas se conseguiu alcançar mais um mandato do que em 2009. O que é manifestamente pouco. O momento que vivemos não foi favorável de forma alguma. De qualquer maneira, a Dra Rosário Prates e o PSD local apresentaram-se com a credibilidade e humildade democrática que os caracterizam. Fizeram uma campanha dedicada, esforçada e empenhada. Podem, pois, estar de consciência tranquila.
Agora o compromisso passa por não desiludir a sua base social de apoio, lutando nos orgãos próprios pelas ideias e projectos propostos na campanha. Certamente que os respectivos autarcas saberão estar com dignidade e competência no exercício dos cargos para que forem eleitos.
Em quarto lugar, um comentário dirigido à candidatura do Dr Vasco Pinto. Ou do CDS/PP como quiserem. Foi “um furacão” que passou pelo ambiente político em Alcochete. Inesperado para muitos. Por isso, uma palavra de saudação para a visão estratégica patenteada pela liderança do CDS/PP local, para a excelente campanha que toda a sua estrutura desenvolveu no terreno e ainda para o carisma que manifestamente o candidato possui na terra natal. Não me custa reconhecer e parabenizar quem esteve melhor e fez mais bem feito. Assim deve ser em Democracia.
Apesar de serem apenas a terceira força política em Alcochete e de alguma frustação porque elevada era a sua expectativa, existem “derrotas que, no fundo, são saborosas vitórias”. Foi o caso. Agora é seguir em frente, adoptar uma postura isenta de arrogância e manifestar plena disponibilidade para servir a causa pública.
O futuro dirá, contudo, se esta candidatura significa apenas um epifenómeno transitório, uma situação de carácter efémero, volátil e passageira ou se, ao invés, configura uma nova realidade emergente. No presente, torna-se prematuro extrair ilacções em definitivo. Veremos.
Por outro lado, a candidatura alegadamente independente de Vasco Pinto, apoiada por uma equipa de pessoas multifacetadas, provenientes de diversos quadrantes ideológicos e suportada pela “entourage” política do CDS/PP, foi inequivocamente uma “lufada de ar fresco”. Mas veio demonstrar à saciedade que os partidos políticos são essenciais à democracia portuguesa.
Ao contrário daquilo que muitos demagogicamente costumam dizer, sem uma estrutura política devidamente organizada, muito dificilmente qualquer cidadão, ou grupo de cidadãos aglutinados, consegue apresentar-se perante o eleitorado com um projecto político consistente, sustentável e ganhador. Conhecem-se alguns casos mas poucos. Em qualquer tipo de eleição, os partidos são importantes para assegurarem a logística, algum financiamento e a capacidade administrativa que uma “empreitada” destas sempre requer.
Por fim, de assinalar também que o espectro político, aparentemente imutável em determinado momento, pode, num ápice, entrar em mutação. O eleitorado torna-se imprevísivel. Como se viu em Alcochete. Ainda estável na CDU mas inconstante nos restantes.
Assim sendo, devem os democratas fazer a leitura adequada deste facto e reflectir sobre qual o melhor caminho a seguir, cientes que cada “coisa” que há-de vir, a seu tempo virá. Continuando com serenidade, convicção e persistência, sem dramas e “caça às bruxas”, seguros que o projecto político e a matriz social democrata que corporizam são indispensáveis, tanto hoje como no Portugal do amanhã.