31 maio 2012

OS MAIAS de Eça de Queiroz

Eça de Queiroz, o artesão de Os Maias, não canta ninguém nesta obra literária, senão que lastima nostalgicamente a aristocracia e ri-se da parasitagem da sociedade.
Eu poderia servir-me de uma caricatura para dar a ideia ao curioso visitante deste blog do que é Os Maias: "vós, aristocratas, tristemente, falsificastes a vossa posição de senhores no seio da sociedade. Agora, sentai-vos na plateia e ride das habilidades dos novos actores que fizestes subir ao palco".
Mas é aqui já que surge uma pergunta: quem são os novos actores que sobem ao palco na obra queiroziana Os Maias? Os novos actores são os parasitas do capitalismo, quero dizer, os parasitas de todos aqueles homens que se mexem nos mercados a comprar e a vender, afã considerado desprezível por uma mentalidade aristocrática, justamente a de Eça que escreve o texto em foco.
Ora é exactamente com o servo a passar a homem livre que eu não vejo solidária, desde há duzentos anos, a nossa elite.
A aristocracia em Os Maias está representada muito especialmente pela personagem-toldo Afonso da Maia. Vejamos então algumas passagens da caracterização que o narrador faz ao avô de Carlos Eduardo, o protagonista deste romance.
Comecemos por esta: «...fora [Afonso da Maia], na opinião de seu pai [Caetano da Maia], algum tempo, o mais feroz jacobino de Portugal! E todavia, o furor revolucionário do pobre moço consistira em ler Rosseau, Volney, Helvécio e a Enciclopédia; em atirar foguetes de lágrimas à Constituição; e ir, de chapéu à liberal e alta gravata azul, recitando pelas lojas maçónicas odes abomináveis ao Supremo Arquitecto do Universo» (Livros do Brasil, Lisboa, 2006).
Um parêntesis para esclarecer que é sob o ponto de vista literário que as "odes" são "abomináveis".
Mas, pergunto eu: alguém pode recitar odes ao Supremo Arquitecto do Universo e ficar imune à inexorável confusão sobre o homem e o mundo?
Afonso da Maia, ostracizado pelo pai para Santa Olávia nas margens do Douro, sente a privação e, qual filho pródigo, foi ter com o pai a Lisboa, pedindo-lhe «...a bênção e alguns mil cruzados para ir a Inglaterra...» (ibid., p 16).
Logo umas poucas linhas à frente, com Afonso da Maia já na Inglaterra, o narrador apressa-se a dizer: «durante os dias da Abrilada [revolta de D. Miguel/Abril/1824] estava ele nas corridas de Epsom, no alto de uma sege de posta, com um grande nariz postiço, dando hurras medonhos - bem indiferente aos seus irmãos de Maçonaria...» (ibid., p. 17).
A morte inesperada de Caetano da Maia faz regressar Afonso a Lisboa. É então que conhece e casa com «...D. Maria Eduarda Runa, filha do conde de Runa...» (ibid., p. 17).
Ora Maria  era a encarnação da confusão. Muito confuso era Afonso da Maia, cuja visão política o narrador no-la dá: «Já admitia [...] o esforço de uma nobreza para manter o seu privilégio histórico; mas então queria uma nobreza inteligente e digna como a aristocracia tory[...], dando em tudo a direcção moral, formando os costumes e inspirando a literatura, vivendo com fausto e falando com gosto, exemplo de ideias altas e espelho de maneiras patrícias...» (ibid., p. 17). Isto é uma ilusão, produto da inversão da realidade. É evidente que a aristocracia tory de uma Inglaterra sob a reforma protestante desde o séc. XVI e que tinha acabado por sair triunfal de uma das poucas e verdadeiras revoluções do mundo, de uma Inglaterra - dizia - que tinha sido o berço do capitalismo, o sistema político-económico que fez mais pela humanidade nos últimos duzentos anos do que todos os outros juntos desde os primórdios da História, é evidente que - dizia eu - a aristocracia tory nunca poderia ser o espelho da aristocracia portuguesa tal como a água não pode ser o espelho do vinho.
Do casamento de Afondo da Maia com a Runa, digo, do casamento da confusão com a confusão (abyssus abyssum invocat), sai o Pedro da Maia, um monstruzinho qual filho do incesto. Este aqui, cruzamento de tantas mesmices, aloja-se no centro da diegese de Os Maias, uma longa história de chulos da sociedade protagonizada pelo dandy Carlos da Maia, filho de Pedro e neto de Afonso.





26 maio 2012

Peditório para a Festa de São João.

A Igreja está a fazer um peditório à população para as Festas de São João (24 de Junho).
Todos deveríamos contribuir, mesmo que seja com pouco: um euro para as Festas de São João é um euro para a nossa liberdade.
A prática do peditório está-se a esvair com manifesto prejuízo para a cultura do povo, fortaleza da ordem, segurança e liberdade.
É evidente que se encarregarmos o poder de tudo, o poder acabará com tudo...até ele, poder, se erguer por cima de todos como o único senhor.
Também devemos, cada um conforme possa, contribuir para as Festas do Barrete Verde e das Salinas para que as grandes Festas da nossa terra não se transformem nas festas da Câmara.
Um dia que sejam da Câmara as Festas do Barrete Verde e das Salinas, estas até poderão continuar, mas à alma das mesmas ser-lhe-à dada a morte lenta.
Eu sei o que estou a dizer porque tudo o que leio sobre as esquerdas em várias línguas não me deixa chegar a outra conclusão.
Basta que nos agarremos ao sangue do nosso sangue para que também nos agarremos à cultura de raiz popular como verdadeira tábua de salvação.

23 maio 2012

VIAGENS NA MINHA TERRA de Almeida Garrett

Acabei de reler Viagens na Minha Terra de Almeida Garrett (1799-1854) e pensei que devia partilhar com os visitantes deste blog a "viagem" que faço às Viagens...
Embora todos saibamos que Garrett lutou pelos liberais de armas na mão, a verdade é que bem se nota no curso do discurso a nostalgia do antigo regime...sobretudo através da personagem Frei Dinis: «segundo os seus princípios, poder de homem sobre homem era usurpação sempre e de qualquer modo que fosse constituído. Todo o poder estava em Deus que o delegava ao pai sobre o filho, daí ao chefe da família sobre a família, daí a um desses sobre todo o Estado, mas para o reger segundo o Evangelho e em toda a austeridade republicana dos primitivos princípios cristãos» (Círculo de Leitores, Lisboa, 1978, p. 69). Ora esta estrutura de pensamento é a velha ordem, sem que, obviamente, aqui, o adjectivo "velha" tenha significado negativo.
Correspondendo aos Costas, Limas, Isaltinos...de hoje, os barões agiotas são execrados em Viagens na Minha Terra até à exaustão. Escreve Garrett: «mal do governo que deixar comer mais aos barões» (ibidem, p. 179). E um pouco mais à frente: «mais dez anos de barões e de regime da matéria, e infalivelmente nos foge deste corpo agonizante de Portugal o derradeiro suspiro do espírito» (ibidem, p. 186).
O que Garrett exalta recorrentemente é o povo: «...porque o povo, o povo está são. Os corruptos somos nós, os que cuidamos saber e ignoramos tudo» (ibidem, p.186).
Ora é aqui que me surge uma dificuldade que expresso pelas seguintes perguntas: o que entende Garrett por povo? O povo vassalo ou aquele que livre trabalha para ganhar com a satisfação das necessidades dos outros? Em toda a obra em foco, eu não vejo o espírito que preside a esta segunda hipótese, tendo eu a certeza de que tal espírito vou encontrá-lo em Cesário Verde. Mas este segundo Camões da nossa Literatura fica para um próximo texto que deixarei aqui se Deus quiser.

Nota: eu estou livre de todo esse discurso académico que face a Almeida Garrett recorre ao Romantismo para desbocar frases feitas. Para mim, antes do Sturm und Drang está o homem.




15 maio 2012

Despedida?

Bom, meus amigos, já lá vão mais de dois meses sobre aquele texto de 10 de Março intitulado "Regresso?".
Vou fazer uma pausa para um balanceamento de tudo o que aqui escrevi.
Depois, se me sentir com saúde e coragem, voltarei a deixar aqui a visão que vou apurando do homem e do mundo.
Até lá, que cada um trate o melhor que puder da própria vida: muita atenção ao que nos pertence e à educação dos nossos filhos; séria denúncia de actividades culturais que nada têm a ver com a alma do povo português; veemente defesa da cultura de raiz popular, nomeadamente a Festa Brava; intransigente respeito pela religião que fez a Europa e Portugal, pela família e pela tradição dos nossos maiores.
E não esqueças: a saída para o povo é o próprio povo.

13 maio 2012

Descartes quis dizer: "Duvido, logo sou"

-Abraão!
Ele respondeu:
-Aqui estou!
E Deus disse:
-Pega no teu filho, no teu único filho, a quem tanto amas, Isaac, e vai à terra de Moriah, onde o oferecerás em holocausto, num dos montes que eu te indicar.
(Génesis, 22, 1-2)

Antes que algumas pessoas, tristemente, carreguem o sobrolho, devo esclarecer que a passagem bíblica que transcrevo é a representação dos costumes, quero dizer, a representação da realidade ao tempo do grande patriarca Abraão.
Para as mesmas pessoas, resta-me ainda responder à pergunta que precipitadamente sei que me estão a fazer: que tem isto a ver com Descartes? Resposta: tudo.
Abraão vê-se perante um problema a resolver de magnitude sem par. Que fazer? Dar perpetuidade ao recebido ou empreender a quebra? Isaac é o seu único filho legítimo. A ordem desde a bruma dos tempos é que deveria imolar o filho primogénito a favor da inquestionabilidade do profundo amor a Deus. Instala-se a dúvida no coração de Abraão. Se se põe do lado do legado, logo vê o filho morto sobre a ara que erguerá quando chegar ao cimo do monte; se se põe do lado de Isaac, arrasa a ordem oriunda dos seus antepassados, fonte de equilíbrio. Que fazer? A realidade que foi a dos seus pais e avós não se ajusta à situação que lhe faz frente.
Abraão não duvida de que ama Deus. E Deus não o sabe? Sim, Deus sabe que Abraão ama Deus no âmago do seu coração. Que necessidade tem Deus deste sacrifício que arrancará a alma a seu filho e a ele também?
E do sagrado costume Abraão passava para Isaac e deste para o sagrado costume. Onde se iria deter? Ao lado do filho, subia lenta e penosamente o monte, o cajado na mão, a água desde o rosto a molhar-lhe o corpo todo.
Chegado ao alto do monte, Abraão colheu pedras, pô-las umas sobre as outras, a lenha em cima, por fim o filho, ergue o punhal, susteve-o um pouco e desfaz a dúvida a favor da carne da sua carne, a favor de Isaac. O recebido já não se adequava à realidade, a verdade ganhou um esplendor maior porque Deus sabe o que vai dentro de cada um de nós e não precisa de sacrifícios humanos para saber que o amamos.
Assim, a dúvida foi resolvida a favor de uma verdadeira revolução, a favor da lídima Fé em Deus.
A dúvida foi o pensamento de Abraão em tempestade que só repousou quando ele optou por uma das alternativas que se lhe apresentavam ao espírito.
Ora o "penso, logo sou" cartesiano significa, no fundo, "duvido, logo sou". Se isto fosse verdade, Abraão para ser teria que duvidar sempre sem que pudesse tomar alguma resolução. Mas a dúvida não é um estado. A dúvida é um não-estar. Enquanto duvido entre Pedro e Paulo, não estou com Pedro nem com Paulo. Então a pergunta é esta: como é que a permanência, isto é, o ser, é uma consequência do não-permanente, isto é, a dúvida?
Descartes não tem razão.

11 maio 2012

O desmascaramento de Descartes

Meus amigos, o desmascaramento de René Descartes (1596-1650) tem sido feito por muita gente nas últimas décadas, mas pouco vai além de um universo restrito de intelectuais e alguns filósofos. O que convinha muito era que esse desmascaramento fosse levado ao grande público, o que não é fácil por mil razões e mais uma.
É que deixou de haver lugar para a Filosofia. Mesmo a nível desta nossa terra de Alcochete, um idiota últil que presumia ter ascendente sobre a minha pessoa, pedia-me que eu abdicasse de recorrer ao discurso filosófico nos textos que publicava. Fingi não o ouvir bem, mas aqui fica o registo para que ele veja que eu estava atento e não esqueci.
Voltando à vaca fria. Se o grande público começasse a pressentir que vive uma trágica ilusão colectiva e que Descartes, nos começos da era moderna, foi um dos pais incontornáveis dessa ilusão, logo sem esforço maior ruiria o Kantismo, o Positivismo, o Marxismo, etc.
Descartes foi o filósofo da ruptuta do pensamento ocidental com o recebido desde Platão e Aristóteles porque com ele dá-se a entronização da razão humana que pouco depois o Iluminismo elevará à categoria de deusa. Aqui, o real foi transferido da ideia para o fenómeno...e depois para o facto...e depois para o social...e depois para o espectáculo. Hoje, neste nosso mundo, só o espectáculo é real (Ernesto Palma:1996).
Bom, uma coisa percebi eu: não se pode atacar minimamente o cartesianismo sem abordar essa outra problemática que dá pelo nome de dúvida. E esta o que é? Eu diria que a dúvida é a vereda oferecida pelo pensamento para a adequação ao real. Ora esta adequação ao real é a verdade.
Será a partir desta plataforma que pegarei na dúvida cartesiana e tentarei mostrar aos meus leitores como a Humanidade foi indecentemente enganada.
Será possível esbater os himalaias de mal acumulado nos últimos três séculos? Se não for, os seres humanos virarão montes de carne por aí a dar à pata sob as botas de tiranos como nunca a História os teve.

09 maio 2012

O Desconstrucionismo e o Pensamento Crítico

A CÂMARA MUNICIPAL DE ALCOCHETE, no Guia de Eventos, Maio de 2012, fala em "desconstruir a língua". Ora o desconstrucionismo é a explosão das pontes entre a linguagem e a realidade. Os pais devem tudo fazer para impedir os filhos de participarem neste tipo odioso de actividades.

08 maio 2012

"Tu acreditas no que vês ou naquilo que eu te digo?"

Eu estava a ler Descartes numa esplanada aqui do Largo do Poço, quando um amigo passou rente a mim e disse, arrancando-me à leitura:
-Então, a ler o Discurso do Método?
Eu respondi:
-A reler. Descartes é maluco!
Volta o meu amigo:
-Não é nada!
Como o meu interlocutor já não esperasse pela minha resposta, ela aqui fica.
Eu fui aquele que fez a minha casa. Aqui, o que é substancial? Eu ou a casa? Sou eu quem é substancial. A casa é acidental.
Muitas vezes tenho aqui dito, seguindo a lição de Ernesto Palma, que «...o real é o que faz o pensamento». Então este é a representação do real. Ora as perguntas inevitáveis são estas: desde quando a substância ou a essência é o representante e o acidente o representado? E desde quando é que este último pode ser uma consequência do primeiro? Tudo isto não será a inversão do real? E não foi isto que fez Descartes com o seu "cogito, ergo sum" (eu penso, logo eu sou)?
Maquiavel na política e Descartes na filosofia foi tudo o que precisaram os revolucionários dos tempos modernos cuja insânia levou à matança de muitos milhões de pessoas no séc. XX.
Vou referir dois casos muito sintomáticos de inversão da realidade que li num dos meus livros, mas que neste momento não estou com disponibilidade para fundamentar bibliograficamente porque poderia gastar horas na busca.
Quando alguém entre um grupo de camaradas onde estava Lenine disse que a realidade não suportaria o que defendia o chefe da revolução russa, este respondeu: "tanto pior para a realidade".
Creio que na América Latina, um revolucionário dizia para um subordinado que tinha à frente dos olhos o contrário do que lhe dizia o seu chefe: "tu acreditas no que vês ou naquilo que eu te digo?". Estruturalmente, desde o 25 de Abril, esta é a estratégia que têm seguido os comunistas em Alcochete para desacreditarem aos olhos da turba multa todos aqueles que lhes fazem frente.

A Câmara de Alcochete paga tarde e a más horas

Pelo Diário da Região (08-05-2012), recebemos a informação de que a «Direcção Geral das Autarquias Locais divulgou o prazo médio de pagamento dos municípios aos fornecedores»  em lista entre Dez./2010 e Dez./2011.
Assim, ficamos a saber que Alcochete de 107 dias em Dez./2010 passou para 240 no mesmo mês do ano seguinte. Isto faz-nos ver que a Câmara da nossa terra, em um ano, ultrapassou o dobro do prazo, ficando, também, praticamente, no dobro da média nacional (122 dias).
No Distrito de Setúbal, só o Barreiro (391 dias) e Sesimbra (281 dias) nos superam.
Se todo este estado de coisas não é o caos, o que é o caos?
Esta é a linda imagem do poder local, a grande conquista da revolução de Abril. Esquecem-se de dizer que essa revolução foi uma revolução socialista que a todos nos mergulha cada vez mais na pobreza...quiçá irreversível.

NOTA: uma vez que este caos é da responsabilidade de comunistas, socialistas e sociais-democratas, não seria justo pedir a toda esta gente que roa os ossos, pois já comeu a carne?

04 maio 2012

"Democratização da cultura"

Eu não sei como é que ainda vou tendo forças para estas coisas. Vou andando até Deus querer.
Nas páginas centrais do IN-alcochete, feito e posto a circular à custa dos dinheiros públicos, tive a paciência de ler uma entrevista completamente imbecil. Ali se fala na "democratização da cultura" como se uma bestialidade destas fosse um grande achado.
Meus amigos, "democratização da cultura", na boca desta câmara, significa igualitarização da cultura, quer dizer, esta é nivelada por baixo. De facto, em caixa destacada da entrevista em foco pode ler-se: «democratização da cultura é torná-la acessível e compreendida por todos» sic. O que as camadas mais baixas da população não percebem...não é cultura. De facto, como fazer todos compreender os sermões do Padre António Vieira? Porque só uma pequena elite de intelectuais os percebe, vamos deitá-los borda fora?
«...O igualitarismo é o grande obstáculo à actividade do espírito...» (Ernesto Palma), logo, o igualitarismo é a negação da cultura, vale dizer, a morte da cultura.
Assim, a malfadada entrevista integra o cultural no político à boa maneira dos totalitarismos com devotos seguidores em Portugal, a saber, o socialista Manuel Maria Carrilho que disse em Aventuras da Interpretação, Lisboa, 1995: «A cultura é um fenómeno social total. A esquerda deve integrar o cultural no político. É vital dotar o Estado dos meios administrativos e técnicos que lhe possibilitem uma intervenção profissionalizada nos sectores da cultura. Desde o património à criação...». Hitler não falaria melhor.
Se a Câmara de Alcochete, em vez de uma "política cultural", se imbuísse de uma verdadeira cultura política, perceberia a vital necessidade de deixar a cultura em paz. Mas aqui eu estou a pedir o impossível a uma câmara comunista...e tanto mais nos dias de hoje.

Aeroporto Complementar de Lisboa (3)

A socialista Maria Amélia Antunes denuncia: «...se o PSD já tem a certeza, como parece ter, que a melhor solução é a BA6, então o sr. primeiro-ministro escusava de ter constituído um grupo de missão para proceder ao estudo para decidir qual a melhor solução: se já sabem qual é a melhor solução, para quê gastar dinheiro em estudos? Em linguagem popular, diz-se que isto é pôr o carro à frente dos bois» sic (Diário da Região, 4 de Maio de 2012).
Convenhamos que, pelo menos, em termos de lógica do discurso a autarca tem razão.
Mais à frente, a Presidente da Câmara do Montijo diz sem rodeios o que eu digo nos meus textos anteriores: «Porque o que gostaríamos de ver era os dirigentes do PSD manterem uma postura de coerência pelo novo aeroporto internacional de Lisboa, pelos grandes investimentos para o distrito...» sic (ibidem). Aqui a edil, por um lado, põe à tona o pragmatismo do PSD porque se os sociais-democratas já não mantêm a coerência face ao Aeroporto Internacional de Lisboa, isto significa que, no passado, já defenderam esta infra-estrutura; por outro, Amélia Antunes é de facto uma esquerdista com todas as letras escarrapachadas porque, com maior ou menor consciência disso, defende o Estado socialista cada vez mais pai de todas as criancinhas.
-Mas, ó Marafuga, com a franqueza que te caracteriza, confessa muito clarinho o que te vai na alma sobre esta problemática.
-Em primeiro lugar, o Estado devia retirar-se deste tipo de obras e deixá-las à iniciativa privada; em segundo, independentemente de público ou privado ou a tenebrosa mistura de ambas as coisas, "Portela + 1" na BA6 reforçaria a tentação hegemónica que o Montijo sempre teve face a Alcochete.

03 maio 2012

O pecado da social-democracia

Primeiro que tudo, vamos lá dar uma ideia do que é o pecado. Este é o mal moral (Leibniz).
E qual é o pecado da social-democracia?
O pecado da social-democracia é o pragmatismo. Este é «...a concentração de todos os meios e esforços, não no alcance de uma finalidade, mas na resolução dos problemas de cada momento» (Ernesto Palma). Nesta conformidade, para a social-democracia, o que se diz e faz hoje, pode não ser o que se dirá e fará amanhã. É o relativismo que nasce da crença para todas as esquerdas de que o mal é ontológico, isto é, a substância do nosso ser é o mal (Miguel Real). A partir daqui tudo é admissível (aborto, infanticídio, eutanásia, "casamento" entre dois homens ou duas mulheres...o diabo a quatro) desde que controlado pelos iluminados do Estado socialista. Mancomunado com este está a social-democracia porque uma organização política só é de direita quando gravita em torno de um corpus doutrinário que se respeita perenemente sem que isto leve à petrificação dos princípios em termos absolutos.

Aeroporto Complementar de Lisboa (2)

À semelhança do que aconteceu em Alcochete e Montijo, a Assembleia Municipal da Moita, com os votos de todas as esquerdas, também reprovou o apoio ao Aeroporto Complementar de Lisboa na BA6.
No meio disto tudo, o meu problema é só um: compreender as coisas.
Independentemente da minha visão política, eu compreendo a atitude das esquerdas: face a tudo o que fuja a uma lógica de sobreposição do Estado à sociedade, as esquerdas enquistam-se. Tenho deixado bem claro, ao longo dos meus textos, que isto é o mal que toda a pessoa consciente deve combater porque ameaça a liberdade dos nossos filhos e netos.
Assim colocado o problema, mudemos o curso ao discurso: sendo eu natural de Alcochete, conhecendo eu bem a história do meu concelho nos últimos 120 anos, fazendo eu parte e estando consciente da idiossincrasia dos grupos autóctones, estudando eu a micro-cultura alcochetana há quase 40 anos, como poderia apoiar esta "ideia" dos PSDs na nossa sub-região? Desprovido de realismo político, apoiá-la-ia se estivesse ao serviço de um partido político e de costas para as populações. Mas isto com o Marafuga não é possível. Eis também porque nunca servirei a gente da minha terra como gostaria de fazer, sobretudo na área da cultura. É a minha sina.

02 maio 2012

Aeroporto Complementar de Lisboa

Tal como em Alcochete, também na cidade vizinha comunistas e socialistas votaram contra a moção do PSD local a favor do Aeroporto Complementar de Lisboa na Base Aérea n.º 6 do Montijo.
Toda a gente percebe a posição das esquerdas. Estas são por grandes obras cujo parceiro-mor seja o Estado. Qualquer espaço onde o Estado seja patrão, aí temos um degrau para o Estado socialista, distribuidor das migalhas da pobreza de todos.
Mas pronto. O PSD/Montijo fez o que naturalmente lhe competia.
No meio disto tudo, eu só não percebo o PSD/Alcochete.
Quem fará luz na minha cabeça dura que...apesar de tudo não é desprovida de alguma inteligência que...apesar de tudo deve ser respeitada?